A cada nova projeção econômica, milhões de brasileiros voltam a se perguntar: quanto será o salário mínimo nos próximos anos?
Esse número, que pode parecer apenas um dado técnico, carrega consigo a realidade de quem luta todos os meses para equilibrar contas, pagar aluguel e colocar comida na mesa. E a nova estimativa do governo para 2027 já dá sinais claros sobre o poder de compra do trabalhador nos próximos anos.
O Ministério do Planejamento e o Ministério da Fazenda divulgaram em outubro de 2025 as projeções oficiais para o salário mínimo até 2029, dentro da política de valorização que combina inflação e crescimento econômico.
O valor estimado para o salário mínimo em 2027 já foi revelado — e promete reacender o debate sobre o custo de vida no Brasil.
Previsão oficial para o salário mínimo de 2027
De acordo com as estimativas do governo federal, o salário mínimo em 2027 deve ser de R$ 1.724,00, representando um aumento de 5,76% em relação à projeção de 2026.
A previsão segue a política de valorização do piso nacional, que leva em conta dois fatores principais:
A variação da inflação medida pelo INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) — garantindo que o trabalhador não perca poder de compra;
O crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) de dois anos anteriores — permitindo um reajuste real acima da inflação.
Esse modelo, retomado em 2023, busca equilibrar a responsabilidade fiscal do governo com a necessidade de melhorar o rendimento das famílias de baixa renda.
Segundo o planejamento oficial, as projeções futuras seguem o seguinte ritmo:
2027: R$ 1.724,00
2028: R$ 1.824,00
2029: R$ 1.925,00
Esses valores ainda não são definitivos. O salário mínimo oficial só é confirmado no fim de cada ano, dentro da Lei Orçamentária Anual (LOA), após a consolidação dos índices de inflação e crescimento econômico.
Como o governo calcula o novo salário mínimo
O cálculo do salário mínimo obedece a uma fórmula simples, mas de grande impacto social.
Primeiro, o governo identifica o INPC do ano anterior, que mede a variação dos preços de produtos e serviços essenciais. Depois, aplica o crescimento real do PIB de dois anos antes.
Por exemplo, o valor previsto para 2027 considera:
A inflação acumulada de 2026,
E o crescimento do PIB registrado em 2025.
Essa metodologia visa assegurar reajustes automáticos e previsíveis, garantindo que o trabalhador tenha um ganho real sempre que o país cresce economicamente.

De acordo com o Ministério da Fazenda, o objetivo é manter uma trajetória sustentável e previsível de aumento da renda, evitando perdas causadas por choques inflacionários e mantendo equilíbrio nas contas públicas.
Quantos brasileiros vivem com o salário mínimo
Mais do que um indicador econômico, o salário mínimo é o principal referencial de renda do Brasil.
Dados recentes do IBGE revelam que mais de 60% da população vive com até um salário mínimo por mês.
Em outras palavras, o valor do piso nacional determina diretamente o padrão de vida da maioria dos brasileiros.
Além dos trabalhadores assalariados, o impacto é sentido por:
Aposentados e pensionistas do INSS, cujos benefícios são vinculados ao valor do salário mínimo;
Beneficiários do Bolsa Família, do BPC (Benefício de Prestação Continuada) e de outros programas sociais federais;
Trabalhadores informais, que usam o salário mínimo como parâmetro de referência para definir preços e serviços.
Estima-se que mais de 80% das cidades brasileiras têm a renda média da população regulada pelo piso nacional. Ou seja, o reajuste anual não afeta apenas os salários, mas também o consumo, a arrecadação e a economia local.
Salário mínimo ideal para os brasileiros, segundo o Dieese
O Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) calcula mensalmente quanto deveria ser o salário mínimo ideal para uma família de quatro pessoas viver com dignidade.
Esse cálculo inclui despesas com alimentação, moradia, transporte, saúde, educação, vestuário, higiene, lazer e previdência.
Em setembro de 2025, o Dieese estimou que o salário mínimo ideal seria de aproximadamente R$ 7.600,00 — quase cinco vezes mais alto que o valor oficial de R$ 1.518,00 vigente em 2025.
Essa diferença revela a profunda disparidade entre o piso nacional e o custo real de vida das famílias brasileiras, especialmente nas capitais, onde o preço da cesta básica e o aluguel seguem em alta.
Por que há tanta diferença entre o salário mínimo real e o ideal
A distância entre o salário oficial e o valor considerado ideal é resultado de uma série de fatores estruturais.
Entre eles:
Inflação persistente:
Mesmo com o controle econômico, o aumento constante dos preços de alimentos, energia e transporte reduz o poder de compra.Concentração de renda:
O Brasil continua entre os países mais desiguais do mundo. A renda das classes mais altas cresce em ritmo maior do que o dos trabalhadores que recebem o mínimo.Informalidade no mercado de trabalho:
Cerca de 40% dos brasileiros trabalham sem carteira assinada, o que limita o acesso a direitos trabalhistas e contribuições previdenciárias.Crescimento econômico modesto:
O baixo desempenho do PIB nos últimos anos restringe os ganhos reais do salário mínimo, já que a política de valorização depende do crescimento do país.
Esses fatores combinados fazem com que, embora o salário mínimo tenha crescimento nominal, o ganho real ainda seja pequeno quando comparado ao aumento do custo de vida.
Impactos do novo valor no poder de compra
O salário mínimo é o principal motor de consumo de milhões de famílias. Um aumento de poucos reais tem efeito direto sobre:
o preço dos produtos,
a arrecadação de impostos,
e o orçamento do governo federal, que precisa reajustar benefícios atrelados ao piso.
Com o valor projetado de R$ 1.724,00 em 2027, o trabalhador terá um ganho nominal, mas o poder de compra realdependerá da inflação acumulada até lá.
Se a inflação anual ficar próxima de 4%, o reajuste de 5,76% representará um pequeno ganho real — suficiente para aliviar parte da pressão no orçamento doméstico, mas ainda distante do valor necessário para cobrir todas as despesas básicas.
Vale lembrar que, ainda em 2025, um total de 5 grupos ainda receberão o adicional de até R$2.900 do FGTS (veja aqui como sacar)
O que especialistas dizem sobre a política de valorização
Economistas avaliam que a política atual de valorização é positiva, mas ainda limitada.
Ela mantém uma trajetória de crescimento do salário mínimo acima da inflação, mas sem comprometer as contas públicas.
No entanto, há um consenso de que a valorização real só será significativa se o país retomar um ritmo de crescimento mais acelerado.
Segundo especialistas, quanto maior o PIB, maior o ganho real do salário mínimo, criando um ciclo virtuoso de consumo e renda.
O economista Gustavo Monteiro, professor de macroeconomia na UFRJ, afirma:
“A política de valorização é necessária, mas insuficiente. O problema central está no baixo crescimento da produtividade e na desigualdade estrutural, que impede que o aumento do salário mínimo se traduza em melhora efetiva no padrão de vida.”
O peso do salário mínimo no orçamento das famílias
Para muitas famílias brasileiras, o salário mínimo é o único rendimento mensal fixo. Quando o reajuste ocorre, o impacto é imediato na capacidade de compra de alimentos, remédios e transporte.
Por isso, qualquer aumento, mesmo modesto, é recebido com expectativa. No entanto, a diferença entre o salário atual e o considerado ideal mostra que o país ainda enfrenta uma grande distância entre o crescimento econômico e a realidade social.
Enquanto o governo projeta um salário mínimo de R$ 1.724 em 2027, o Dieese alerta que o valor necessário para uma vida digna ultrapassa os R$ 7 mil — um contraste que continua a refletir os desafios do Brasil em equilibrar economia, renda e bem-estar social.