Receita Federal aperta o cerco: donos de obras podem ter CPF bloqueado e multas de até 225% ainda em 2025

A Receita Federal começou 2025 de forma rigorosa, intensificando uma das fiscalizações mais temidas por quem construiu ou reformou nos últimos anos: a regularização de obras de construção civil.

Segundo comunicado oficial do órgão, mais de 16 mil notificações já foram enviadas a contribuintes — pessoas físicas e jurídicas — que deixaram de declarar corretamente suas obras no sistema Aferição de Obras (DISO).

As penalidades não são leves. As multas podem variar de 75% a 225% sobre os tributos devidos, além do risco de bloqueio do CPF e inscrição em dívida ativa.

Receita Federal mira obras não declaradas em todo o país

O cerco começou de forma silenciosa. A Receita passou a cruzar informações de prefeituras, cartórios e bases de dados imobiliárias, identificando construções realizadas nos últimos quatro anos que não foram registradas no Cadastro Nacional de Obras (CNO).

O sistema detecta desde pequenas reformas até grandes empreendimentos comerciais, e a regra é a mesma para todos: toda obra deve ser declarada.

Isso vale mesmo para quem constrói em terreno próprio, sem empreiteira. O proprietário deve informar a área, o tipo de estrutura e os valores investidos, gerando um registro no sistema da Receita.

Essa declaração serve para calcular o INSS da obra — contribuição previdenciária obrigatória sobre a mão de obra usada na construção.

Quando o contribuinte ignora o processo, o sistema faz a chamada “aferição de ofício”, estimando os valores com base em tabelas oficiais e aplicando automaticamente uma multa mínima de 75%. Em caso de fraude ou reincidência, o percentual pode saltar para 225%.

As consequências para quem ignora o aviso da Receita Federal

Quem recebeu a notificação — enviada tanto por correspondência quanto pelo Domicílio Tributário Eletrônico (DTE)— tem um prazo curto para se manifestar.

Se ignorar, o sistema gera um DARF automático, inscreve a dívida na União e bloqueia a emissão da Certidão Negativa de Débitos (CND).

Sem esse documento, o proprietário não consegue financiar o imóvel, registrar escritura ou averbar a construção.

No caso de empresas de engenharia e empreiteiros, o bloqueio também pode impedir a emissão de notas fiscais eletrônicas, participação em licitações e até o acesso a crédito bancário.

O resultado: um problema tributário se transforma em um bloqueio total das atividades do contribuinte.

Como funciona o cruzamento de dados da Receita Federal

Desde 2023, o órgão vem ampliando o uso de inteligência artificial e automação fiscal.
Prefeituras enviam mensalmente informações sobre alvarás, habite-se e plantas aprovadas, enquanto os cartórios comunicam averbações imobiliárias.

Quando há divergência entre o que foi registrado localmente e o que consta na Receita, o sistema marca o contribuinte como “omisso”.

Em 2024, o número de notificações subiu mais de 30%, de acordo com relatório do Ministério da Fazenda.
O objetivo é reduzir a evasão previdenciária e aumentar a formalização no setor de construção civil — que ainda tem alto índice de informalidade.

Aferição correta pode reduzir o imposto em até 70%

Apesar da rigidez, há uma brecha legal para reduzir os valores cobrados.

Segundo a Instrução Normativa nº 2021/2021, quem faz a regularização completa, informando área, metragem, tipo de estrutura e notas fiscais, pode ter uma redução de até 70% no valor final do INSS da obra.

Isso ocorre porque o sistema recalcula os custos com base em dados reais, e não em médias estimadas.
Profissionais da área alertam que erros simples — como classificar incorretamente o tipo de construção ou omitir uma garagem — podem aumentar o imposto em milhares de reais.

Por isso, a aferição feita por engenheiro ou contador especializado é o único caminho seguro para evitar cobranças indevidas e garantir uma tributação justa.

Regularizar é mais barato do que ser autuado

Especialistas em tributação da construção civil reforçam que regularizar antes da autuação é o caminho mais econômico.

Quem se antecipa paga apenas as contribuições previdenciárias devidas, sem juros ou multas. Mas quem espera a notificação enfrenta a taxa Selic, multa mínima de 75% e bloqueio do CPF ou CNPJ.

Empresas como a Sua Obra Regular e a INSS Construções relatam aumento na procura por regularização desde o início da ofensiva.

Há casos em que autuações ultrapassam R$ 200 mil, mesmo em obras residenciais de médio porte.

“Muitos só descobrem o problema quando vão registrar o imóvel no cartório e a CND aparece bloqueada”, explica o engenheiro tributário Marcelo Moreira, em entrevista à Agência Gov.

Multas podem chegar a 225% do valor declarado

O artigo 44 da Lei nº 9.430/1996 estabelece a base de cálculo das multas.

A penalidade começa em 75%, sobe para 150% se houver fraude e atinge 225% quando há resistência ou sonegação comprovada.

Além disso, o débito é lançado no CPF ou CNPJ do responsável pela obra, resultando em:

  • bloqueio de operações financeiras;

  • protestos em cartório;

  • impossibilidade de emitir certidões negativas;

  • inclusão na Dívida Ativa da União.

A Receita reforça que quem regularizar espontaneamente evita todos esses transtornos e ainda pode parcelar a dívida em até 60 vezes.

O que fazer se você recebeu uma notificação

O primeiro passo é acessar o portal e-CAC e verificar se a obra aparece como irregular.
Em caso positivo, é preciso reunir documentos como alvará de construção, projeto aprovado, notas fiscais e contratos de empreiteiros.

O envio é totalmente digital e pode ser feito diretamente no sistema da Receita.
Após a aprovação, o contribuinte recebe a Certidão Negativa de Débitos, liberando o imóvel para registro e financiamento.

Contadores alertam que não se deve esperar uma nova notificação.

“O sistema é automático e os juros correm diariamente”, explica a consultora tributária Renata Azevedo, especialista em regularização de obras.

Saulo Moreira

Saulo Moreira

Saulo Moreira dos Santos é um profissional comprometido com a comunicação e a disseminação de informações relevantes. Formado em Ciências Contábeis pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Com mais de 15 anos de experiência como redator web, Saulo se especializou na produção de artigos e notícias sobre temas de grande interesse social, incluindo concursos públicos, benefícios sociais, direitos trabalhistas e futebol.