Quase 50% dos jovens beneficiários do Bolsa Família deixaram o CadÚnico em 12 anos!

Um levantamento inédito realizado pelo Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS) analisou o destino de milhares de jovens que, em dezembro de 2012, eram dependentes do Bolsa Família. A pesquisa buscou entender quem conseguiu romper o ciclo de pobreza e quem permanece na rede de proteção social mais de uma década depois.

O estudo selecionou pessoas que, na época, tinham entre 7 e 16 anos e estavam registradas como dependentes nas folhas de pagamento do programa. O recorte temporal foi escolhido por representar um momento de estabilidade institucional do Bolsa Família e por ser o primeiro ano com microdados detalhados do Cadastro Único (CadÚnico)disponíveis de forma sistemática.

Perfil dos jovens analisados

Em 2012, a maioria dos jovens pesquisados era parda ou preta (73,4%), revelando o forte recorte racial da pobreza no Brasil. Quase todos (96%) frequentavam a escola, mas 27,4% apresentavam defasagem idade-série, isto é, estavam em atraso em relação à série adequada para sua idade.

A precariedade das condições de moradia também chama atenção:

  • 14,3% viviam em casas com materiais frágeis, como taipa ou madeira reaproveitada.

  • Apenas 40,4% tinham ligação com rede de esgoto.

Esses indicadores mostram que, apesar do acesso à educação e a programas sociais, a vulnerabilidade estrutural ainda era profunda entre as famílias atendidas.

Quem conseguiu deixar o programa

O estudo do MDS revela que jovens com melhores condições de vida em 2012 tiveram mais chances de não estar no CadÚnico em 2024 — ou seja, saíram da base de famílias de baixa renda acompanhadas pelo governo.

Entre os fatores que mais influenciaram o desligamento do programa, destacam-se:

  • Sexo masculino: os meninos apresentaram maior probabilidade de saída do Bolsa Família, possivelmente por ingressarem mais cedo no mercado de trabalho.

  • Alfabetização precoce: jovens alfabetizados em 2012 tinham mais chances de se desligar, o que reforça a importância da educação como ferramenta de ascensão social.

  • Trabalho juvenil: quem começou a trabalhar cedo também teve maior probabilidade de deixar o programa, embora isso possa refletir tanto oportunidades de renda quanto trabalho informal.

Bolsa Família. Foto: Montagem/Revista dos Benefícios

A influência das condições familiares

As condições socioeconômicas das famílias tiveram impacto direto no futuro desses jovens. De acordo com o levantamento, responsáveis com maior escolaridade aumentavam a probabilidade de desligamento. Famílias com empregos formais ou renda per capita acima de R$ 140 em 2012 também apresentaram maiores chances de deixar o Bolsa Família até 2024.

Esses dados mostram como a educação e a inserção no mercado formal de trabalho são decisivas para romper o ciclo de dependência.

Por outro lado, a vulnerabilidade racial e estrutural manteve muitas famílias presas ao programa. Jovens pretos e pardos apresentaram menor probabilidade de saída em comparação aos brancos. Morar em casas precárias ou em áreas com infraestrutura deficiente também se mostrou um fator de permanência.

O tempo de permanência no programa faz diferença

Outro ponto importante revelado pelo estudo é que o tempo de exposição ao Bolsa Família até 2012 influenciou o resultado em 2024.

  • Famílias que haviam recebido o benefício por até dois anos mostraram maior probabilidade de desligamento.

  • Já as que estavam há mais tempo no programa tendem a permanecer na base de dados do CadÚnico, sugerindo que quanto maior o período de vulnerabilidade, mais difícil é sair do ciclo da pobreza.

Esse resultado reforça o papel do Bolsa Família como instrumento de proteção contínua para famílias em extrema pobreza, ao mesmo tempo em que evidencia os desafios para a autonomia financeira de longo prazo.

Critérios oficiais do Bolsa Família

As regras para participar e permanecer no Bolsa Família são definidas pelo Governo Federal e visam garantir que o benefício chegue a quem realmente precisa.

A seguir, os principais critérios atualizados:

1. Requisito de renda

O principal critério é a renda per capita da família:

  • Situação de pobreza ou extrema pobreza: a renda mensal por pessoa deve ser de até R$ 218,00.
    O cálculo é feito somando a renda total do lar e dividindo pelo número de moradores.

2. Inscrição e atualização no CadÚnico

É obrigatório estar inscrito no Cadastro Único e manter os dados sempre atualizados.

  • O cadastro é realizado no Centro de Referência de Assistência Social (CRAS).

  • Deve ser atualizado a cada dois anos ou sempre que houver mudanças na composição familiar, renda, endereço ou emprego.

3. Condicionalidades: saúde e educação

Para continuar recebendo o benefício, a família deve cumprir compromissos nas áreas de saúde e educação, chamados de condicionalidades:

  • Educação:

    • 60% de frequência escolar mínima para crianças de 4 a 6 anos incompletos.

    • 75% para jovens de 6 a 18 anos incompletos que ainda não concluíram o ensino básico.

  • Saúde:

    • Manter vacinação em dia de todas as crianças.

    • Realizar o acompanhamento nutricional de menores de 7 anos (peso e altura).

    • Gestantes devem cumprir o pré-natal completo.

Esses compromissos garantem que o benefício tenha efeito transformador e não apenas assistencial, estimulando a permanência das crianças na escola e o acompanhamento médico familiar.

Regra de Proteção: transição para a autonomia

Um dos mecanismos mais importantes do Bolsa Família é a chamada Regra de Proteção, criada para evitar que as famílias sejam penalizadas ao conquistar uma melhora na renda.

Funciona assim:

  • Se a renda familiar ultrapassar R$ 218,00 por pessoa, mas ficar abaixo de meio salário mínimo (R$ 759,00 em 2025), a família permanece no programa por até 24 meses, recebendo 50% do valor original do benefício.

Essa regra tem o objetivo de incentivar a formalização do trabalho, garantindo uma transição gradual para a independência financeira.

Desafios para romper o ciclo da pobreza

Mesmo com avanços, o estudo mostra que a vulnerabilidade social ainda é um obstáculo para milhares de famílias. A cor da pele, o local de moradia, o acesso à infraestrutura básica e a qualidade da educação continuam sendo fatores determinantes.

Embora o Bolsa Família tenha contribuído para reduzir a pobreza e ampliar o acesso à escola, o desafio está em assegurar que essas conquistas se convertam em oportunidades reais de mobilidade social.

A pesquisa também aponta que o desligamento do programa nem sempre significa estabilidade econômica. Muitos jovens que deixaram o CadÚnico podem ter migrado para empregos informais ou com baixa renda, o que exige acompanhamento contínuo das políticas públicas.

Bolsa Família hoje

Atualmente, o programa beneficia mais de 20 milhões de famílias em todo o país. O valor médio pago gira em torno de R$ 680,00, com adicionais para crianças, adolescentes, gestantes e nutrizes.

O CadÚnico segue como porta de entrada para dezenas de políticas públicas, incluindo o Benefício de Prestação Continuada (BPC), o Auxílio Gás, o Pé-de-Meia e o Minha Casa, Minha Vida.

Saulo Moreira

Saulo Moreira

Saulo Moreira dos Santos é um profissional comprometido com a comunicação e a disseminação de informações relevantes. Formado em Ciências Contábeis pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Com mais de 15 anos de experiência como redator web, Saulo se especializou na produção de artigos e notícias sobre temas de grande interesse social, incluindo concursos públicos, benefícios sociais, direitos trabalhistas e futebol.