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O que altera com o possível fim dos cartões de vale-refeição?

O sistema de vale-refeição, um dos principais benefícios concedidos aos trabalhadores brasileiros, pode estar prestes a passar por uma das maiores transformações desde sua criação.

O Governo Federal estuda o fim dos cartões físicos de alimentação e refeição, com a proposta de substituí-los por transferências diretas via Pix, a ferramenta de pagamentos instantâneos do Banco Central.

A mudança, se implementada, afetará milhões de trabalhadores que recebem valores mensais para alimentação por meio de empresas como Alelo, Sodexo, Ticket, VR Benefícios, entre outras.

O objetivo, segundo o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), é modernizar o Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT), reduzindo custos, aumentando a transparência e, principalmente, garantindo que o valor do benefício chegue integralmente ao trabalhador, sem deduções intermediárias.

Por que o vale-refeição está sendo reformulado?

O vale-refeição é um benefício corporativo oferecido por empresas que aderem ao PAT, criado em 1976. Esse sistema tem como principal objetivo subsidiar a alimentação dos trabalhadores, permitindo a compra de refeições em estabelecimentos credenciados.

Entretanto, ao longo dos anos, o modelo atual passou a enfrentar críticas, especialmente relacionadas às taxas cobradas pelas operadoras dos cartões.

Comerciantes denunciam que chegam a pagar até 7% do valor da transação como taxa de administração, o que acaba prejudicando tanto os estabelecimentos quanto os próprios trabalhadores.

Com a adoção do Pix, o governo pretende eliminar os intermediários, possibilitando que o valor destinado à alimentação seja transferido diretamente para o trabalhador, sem reduções e com liberdade de escolha sobre onde gastar.

Como o Pix pode revolucionar o vale-refeição?

Desde seu lançamento em 2020, o Pix tem sido amplamente adotado no Brasil, com bilhões de transações mensais.

Por ser gratuito para pessoas físicas, disponível 24 horas por dia e de uso simplificado até por quem não possui conta em bancos tradicionais, a ferramenta se tornou um símbolo de inclusão financeira e agilidade.

Ao aplicar o Pix ao benefício alimentar, o governo acredita que poderá:

  • Eliminar taxas administrativas pagas por empresas e estabelecimentos;

  • Aumentar a eficiência na distribuição do benefício;

  • Garantir o valor integral do benefício ao trabalhador;

  • Expandir o acesso ao benefício para trabalhadores sem conta em banco, usando apenas uma chave Pix vinculada ao CPF, telefone ou e-mail.

Além disso, o modelo oferece uma vantagem de liberdade de consumo: ao receber o valor direto na conta, o trabalhador poderá escolher entre restaurantes, supermercados, hortifrutis e até pequenas mercearias, sem depender de estabelecimentos credenciados por operadoras de cartão.

Quais são as vantagens do novo sistema para trabalhadores?

A proposta de fim dos cartões de vale-refeição e uso do Pix promete diversos benefícios diretos ao trabalhador, como:

1. Valor total do benefício

Atualmente, parte do valor pago pelo empregador ao trabalhador se perde em taxas operacionais cobradas pelas empresas de benefícios. Com o Pix, esse custo desaparece, e o trabalhador passa a receber 100% do valor destinado à alimentação.

2. Liberdade de uso

Ao contrário do modelo atual, limitado a estabelecimentos credenciados, o novo sistema permitirá que o trabalhador use o valor onde quiser, inclusive em feiras livres, pequenos comércios e outros locais que aceitem Pix.

3. Facilidade de acesso

Trabalhadores sem conta em banco poderão usar carteiras digitais (como Mercado Pago, PicPay, 99Pay e outras) para receber o valor do benefício, promovendo inclusão financeira e acessibilidade.

4. Fim da dependência de cartões físicos

Cartões podem ser perdidos, bloqueados ou até clonados. Com o Pix, toda a operação será digital, segura e disponível em tempo real.

E para os empregadores, o que muda?

Do lado das empresas, a proposta também oferece redução de custos. Atualmente, os empregadores firmam contratos com empresas operadoras dos cartões de alimentação, que muitas vezes envolvem mensalidades, taxas administrativas e a necessidade de negociação com cada fornecedor.

Ao adotar o Pix, as empresas poderão:

  • Reduzir significativamente os custos operacionais;

  • Eliminar a burocracia de contratação de operadoras de benefícios;

  • Facilitar a gestão do benefício, com transferências mensais diretas;

  • Cumprir o PAT com mais transparência e agilidade.

Quais são os impactos para o comércio?

Os estabelecimentos comerciais — restaurantes, lanchonetes, supermercados e padarias — também serão profundamente impactados com o fim dos cartões.

Atualmente, muitos desses locais arcam com altas taxas de administração, que variam de 3% a 7% por transação. Essa cobrança afeta a margem de lucro dos pequenos negócios e, muitas vezes, inviabiliza a aceitação dos cartões.

Com a substituição do sistema por pagamentos via Pix, os comerciantes:

  • Deixam de pagar essas taxas;

  • Recebem o valor integral da compra de forma instantânea;

  • Podem ampliar suas vendas, aceitando mais clientes sem depender de máquinas ou bandeiras de cartões.

Há desvantagens ou riscos na mudança?

Apesar das vantagens evidentes, a proposta também levanta algumas preocupações:

  • Desvio de finalidade: com o valor em dinheiro na conta, o trabalhador poderá gastar o benefício com despesas que não sejam alimentação, contrariando os objetivos do PAT.

  • Redução de controle fiscal: empresas de cartão oferecem relatórios detalhados sobre uso do benefício, o que pode ser perdido com o modelo direto via Pix.

  • Mudança repentina de sistema: caso a transição não seja bem planejada, trabalhadores podem enfrentar atrasos ou dificuldades no recebimento do benefício.

Diante desses pontos, o governo estuda mecanismos de fiscalização e educação financeira para orientar o uso correto do benefício, inclusive considerando a possibilidade de condicionar o uso a categorias específicas de gastos, mesmo com o Pix.

Qual é a posição das operadoras de cartões?

Empresas como Alelo, Sodexo, VR e Ticket se posicionam contrárias à substituição imediata do modelo atual. Para essas operadoras, os cartões trazem segurança, rastreabilidade e evitam o uso indevido do benefício.

Além disso, elas afirmam que investem constantemente em programas de incentivo à alimentação saudável e parcerias com redes de estabelecimentos.

O setor defende uma modernização gradual, com regras claras e participação das empresas operadoras no desenvolvimento de soluções que conciliem o uso do Pix com o controle do benefício.

O que dizem os sindicatos e especialistas?

Sindicatos de trabalhadores têm se mostrado favoráveis à proposta, desde que o novo sistema garanta:

  • O valor integral do benefício;

  • Liberdade de escolha para o trabalhador;

  • Manutenção do caráter alimentar do benefício.

Especialistas em políticas públicas apontam que a adoção do Pix pode representar uma revolução na gestão dos benefícios sociais e corporativos, desde que acompanhada de normas que garantam transparência e evitem desvios.

Futuro do vale-refeição: o que esperar?

A proposta de substituição dos cartões do vale-refeição pelo Pix ainda está em fase de estudos técnicos pelo Ministério do Trabalho, em parceria com o Ministério da Fazenda e o Banco Central.

Caso aprovada, a expectativa é que o novo sistema seja implementado de forma escalonada, com testes-piloto em empresas e setores específicos.

Nos próximos meses, o governo deve abrir consultas públicas e audiências com representantes dos trabalhadores, empregadores e operadoras de cartões, para ajustar os detalhes da reformulação.

A previsão é que eventuais mudanças comecem a valer a partir de 2026, respeitando o tempo necessário para adaptação das empresas e dos sistemas financeiros.

Carolina Ramos Farias

Carolina Ramos Farias é uma profissional apaixonada pela educação e comunicação digital. Graduada em Licenciatura em Ciências Biológicas pelo Departamento de Educação do Campus X da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), ela alia sua formação acadêmica à habilidade com a escrita, atuando como redatora web há mais de cinco anos. Com expertise na criação de conteúdos sobre concursos públicos, benefícios sociais e direitos trabalhistas, Carolina se destaca por sua capacidade de transformar informações complexas em textos claros e acessíveis. Seu compromisso com a disseminação do conhecimento a impulsiona a produzir materiais informativos que ajudam milhares de pessoas a se… Mais »
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