Nos últimos anos, o Brasil tem enfrentado um aumento expressivo nas temperaturas médias, especialmente durante o verão. Esse fenômeno, agravado pelas mudanças climáticas globais, está transformando o cotidiano dos brasileiros. Cidades que antes experimentavam calor apenas pontualmente agora enfrentam ondas de calor com frequência alarmante, desafiando tanto a infraestrutura urbana quanto a saúde da população.
Com localidades como Porto Alegre registrando picos de até 38,1°C, o calor deixou de ser apenas um incômodo e passou a ser uma questão de saúde pública e planejamento urbano. Esse cenário faz parte de uma tendência global de aquecimento, mas tem características próprias no Brasil, devido à sua extensão territorial, clima tropical predominante e urbanização acelerada.
O que são ondas de calor e por que elas estão mais frequentes?
Ondas de calor são definidas como períodos de pelo menos cinco dias consecutivos com temperaturas 5°C acima da média histórica. No Brasil, essas ondas têm sido registradas com maior frequência nos últimos anos, impulsionadas por fatores como:
Proximidade com o Equador, que já favorece climas mais quentes;
Avanço das áreas urbanas e redução das áreas verdes, o que intensifica o chamado efeito “ilha de calor”;
Mudanças climáticas causadas pela emissão de gases do efeito estufa, que alteram padrões atmosféricos e favorecem temperaturas extremas.
Esses eventos não são mais isolados. Estudos mostram que regiões antes consideradas mais amenas estão entrando na rota do calor intenso. O Sudeste e o Sul, por exemplo, têm enfrentado verões com sensação térmica próxima ou superior aos 40°C.
As cidades mais quentes do Brasil
O território brasileiro abriga cidades que frequentemente figuram no topo dos rankings de calor. Entre as mais quentes, destacam-se:
1. Nova Maringá (MT)
Em novembro de 2020, a cidade alcançou 44,8°C, um dos maiores registros da história do país.
2. Bom Jesus (PI)
Em novembro de 2023, atingiu impressionantes 44,7°C, colocando o Piauí entre os estados com maior incidência de calor extremo.
3. Cuiabá (MT)
A capital mato-grossense é famosa pelo calor constante. Durante o verão, as temperaturas frequentemente ultrapassam os 40°C, com sensação térmica ainda maior.
4. Corumbá (MS), Teresina (PI), e Palmas (TO)
Também estão entre os municípios que mais sofrem com o calor prolongado.
Apesar dos números expressivos, ainda estamos longe dos recordes mundiais. O Vale da Morte, na Califórnia (EUA), atingiu 56,7°C em 1913, e cidades como Cidade do Kuwait, Turbat (Paquistão) e Ahvaz (Irã) também superam os 53°C com frequência.
Como o calor extremo afeta a saúde da população?
Os efeitos das temperaturas elevadas vão muito além do desconforto. O calor intenso pode provocar uma série de problemas de saúde, especialmente em grupos mais vulneráveis como idosos, crianças e pessoas com doenças crônicas.
Principais riscos:
Desidratação: a perda excessiva de líquidos afeta a função dos órgãos e pode causar colapsos.
Tonturas e fadiga extrema: sintomas comuns quando o corpo não consegue regular a temperatura.
Golpe de calor: condição crítica quando a temperatura corporal ultrapassa 40°C, podendo causar falência de órgãos, danos neurológicos e até a morte, se não houver atendimento rápido.
Além disso, o calor intenso pode agravar doenças respiratórias e cardiovasculares, além de aumentar a incidência de infecções alimentares devido à conservação inadequada de alimentos.
Impactos urbanos: energia, mobilidade e economia
O calor também impõe desafios logísticos e econômicos às cidades. Com o aumento do uso de ventiladores, aparelhos de ar condicionado e refrigeradores, o consumo de energia dispara, gerando risco de apagões e aumento na conta de luz. Em períodos de forte calor, o Brasil já registrou recordes de demanda elétrica.
Outros impactos incluem:
Trânsito mais intenso em horários alternativos devido à fuga do sol;
Queda no turismo e comércio em dias muito quentes;
Prejuízos para o agronegócio, especialmente em regiões do Centro-Oeste e Nordeste, onde a seca e a radiação solar afetam plantações e rebanhos.
Como se proteger do calor extremo?
Diante desse cenário, adotar medidas preventivas é essencial. A hidratação constante é o primeiro passo para proteger o corpo dos efeitos do calor. Especialistas também recomendam evitar atividades físicas ou exposição direta ao sol entre 10h e 16h.
Dicas práticas para dias quentes:
Beba muita água: mesmo sem sentir sede, mantenha a hidratação.
Use roupas claras e leves: tecidos naturais como algodão ajudam na ventilação.
Banhos frios e compressas: ajudam a reduzir a temperatura corporal.
Evite refeições pesadas: opte por frutas, saladas e alimentos de fácil digestão.
Utilize protetor solar e acessórios como bonés, chapéus e óculos escuros.
Cidades podem se preparar melhor para o calor?
Sim. As soluções urbanas são essenciais para mitigar os efeitos do calor. Medidas como aumento da arborização, implantação de telhados verdes, revestimentos reflexivos nas ruas e prédios e criação de parques urbanoscontribuem significativamente para a redução da temperatura local.
Iniciativas em cidades como Curitiba (PR) e Fortaleza (CE) já mostram bons resultados, com políticas públicas focadas em sustentabilidade e adaptação climática. O uso de materiais permeáveis no solo e o incentivo à mobilidade ativa (ciclovias, calçadas sombreadas) também ajudam a reduzir o calor urbano.
Esporte e calor: riscos e cuidados
A prática esportiva ao ar livre exige cuidados redobrados em ambientes muito quentes. Atletas amadores e profissionais enfrentam riscos adicionais durante o verão.
Estratégias para treinar em segurança:
Treinar de manhã cedo ou no fim da tarde para evitar os horários de pico de calor.
Manter-se hidratado antes, durante e após os exercícios.
Fazer pausas frequentes e escolher roupas com tecnologia de absorção térmica.
Evitar exercícios intensos em ambientes abafados ou expostos ao sol direto.
Em algumas regiões, competições esportivas já têm sido ajustadas em horários e estrutura para garantir segurança. Isso inclui corridas, maratonas, jogos de futebol e até atividades escolares ao ar livre.
O futuro: o calor veio para ficar?
Infelizmente, os modelos climáticos projetam que o Brasil continuará enfrentando ondas de calor mais frequentes e intensas nos próximos anos. A combinação entre aquecimento global, urbanização descontrolada e desmatamento agrava ainda mais a situação.
Por isso, especialistas apontam a necessidade urgente de adaptação: tanto por parte dos governos quanto da população. Planejamento urbano, educação ambiental e políticas públicas voltadas para resiliência climática serão fundamentais para que o Brasil enfrente com mais preparo os desafios das próximas décadas.
Considerações finais
O calor extremo no Brasil deixou de ser uma exceção e se tornou uma nova realidade. Cidades cada vez mais quentes, verões prolongados e riscos constantes à saúde pública exigem mudanças imediatas na forma como planejamos o cotidiano.
Proteger-se do calor não é apenas uma questão de conforto, mas sim de sobrevivência e qualidade de vida. Seja através de hábitos individuais ou por meio de ações coletivas, como o aumento da vegetação urbana e o uso consciente de energia, todos têm um papel importante na adaptação a esse novo cenário.