O Bolsa Família, programa de transferência de renda mais importante do país, está passando por um dos períodos mais rigorosos de fiscalização desde a sua reformulação. Em 2025, o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social (MDS) intensificou as verificações mensais e cruzamentos de dados com outros sistemas federais, o que resultou em milhares de exclusões da folha de pagamento.
A medida tem como objetivo reduzir os custos públicos e garantir que apenas famílias que realmente se encontram em situação de vulnerabilidade permaneçam recebendo o benefício. O governo federal passou a exigir maior transparência e atualização constante no Cadastro Único (CadÚnico), principal base de dados usada para definir quem tem direito ao programa.
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Bolsa Família pode ter cancelamento para quem vira MEI?
Uma das dúvidas mais recorrentes entre os beneficiários é se o registro como Microempreendedor Individual (MEI)leva à perda automática do Bolsa Família. Afinal, muitos brasileiros optam por formalizar pequenos negócios ou atividades autônomas para garantir direitos previdenciários e facilidade na emissão de notas fiscais.
A resposta, no entanto, é clara: abrir um MEI não cancela automaticamente o Bolsa Família.
O que realmente define a continuidade ou o cancelamento do benefício é a renda mensal per capita da família, e não a existência de um CNPJ. Ou seja, o simples fato de uma pessoa da família se formalizar como MEI não implica, por si só, na perda do programa.
Como o governo calcula a renda do Bolsa Família
O cálculo da renda é feito com base na soma de todos os rendimentos mensais dos integrantes da família, dividida pelo número total de pessoas. Entram nessa conta salários, pensões, aposentadorias, benefícios, rendimentos autônomos e até lucros de microempreendedores.
Segundo a Portaria nº 828/2023, que regulamenta o programa, o limite para receber o Bolsa Família é de R$ 218 por pessoa. Se a renda familiar ultrapassar esse valor, mas continuar abaixo de meio salário mínimo (R$ 759 por pessoa), a família entra na chamada Regra de Proteção, um mecanismo criado para evitar cortes imediatos.
Regra de Proteção: o que muda para quem virou MEI
A Regra de Proteção garante que famílias com renda um pouco acima do limite de R$ 218 ainda possam continuar recebendo 50% do valor do benefício por até 24 meses. Essa regra foi criada para apoiar pessoas que começaram a trabalhar ou empreender, mas ainda não alcançaram estabilidade financeira.
Por exemplo:
Uma família composta por quatro pessoas que, após abrir um MEI, passou a ter uma renda total de R$ 2.800 — ou seja, R$ 700 por pessoa — ainda pode continuar recebendo metade do benefício durante o período de adaptação. Isso evita que o empreendedor precise escolher entre manter o Bolsa Família ou formalizar o negócio.
Esse mecanismo busca incentivar o empreendedorismo e a autonomia financeira, sem punir quem está tentando sair da vulnerabilidade com esforço próprio.
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Quem é o MEI e quais são as regras
O Microempreendedor Individual (MEI) é a categoria criada pelo Governo Federal para formalizar pequenos empreendedores e trabalhadores autônomos. Essa modalidade permite a emissão de CNPJ, a emissão de notas fiscais e o acesso a benefícios previdenciários, como aposentadoria por idade, auxílio-doença e salário-maternidade.
As principais regras para ser MEI são:
Faturamento máximo: até R$ 81 mil por ano (ou proporcional se o CNPJ foi aberto durante o ano).
Funcionários: é permitido ter apenas um empregado, que receba o salário mínimo ou o piso da categoria.
Atividades permitidas: o MEI só pode atuar nas atividades listadas pelo governo — atualmente mais de 450 ocupações.
Proibição: não pode ser sócio, administrador ou titular de outra empresa.
Contribuição mensal: deve pagar o DAS-MEI, boleto que reúne tributos simplificados e contribuições ao INSS, ICMS e ISS.
Declaração anual obrigatória: é necessário entregar a Declaração Anual do Simples Nacional (DASN-SIMEI)com o faturamento do ano anterior.
Renda familiar e faturamento do MEI são coisas diferentes
Um erro comum entre beneficiários do Bolsa Família é confundir o faturamento do MEI com a renda pessoal. O faturamento é o valor total das vendas ou serviços prestados — mas isso não representa lucro.
O governo considera a renda líquida, ou seja, o valor que o empreendedor realmente ganha após deduzir custos, despesas e impostos. Assim, uma pessoa pode ter um MEI com faturamento de R$ 5.000 por mês e ainda permanecer no Bolsa Família, se o lucro efetivo for baixo e dividido entre vários membros da família.
Por isso, o CadÚnico deve ser atualizado com informações reais de renda, e não com base no faturamento bruto do CNPJ. O MDS cruza essas informações com dados da Receita Federal, INSS e Simples Nacional para validar o perfil socioeconômico.
O que acontece se a renda aumentar muito
Se a renda familiar ultrapassar meio salário mínimo por pessoa, o Bolsa Família é cancelado automaticamente. Nesse caso, o sistema entende que a família não se enquadra mais no perfil de vulnerabilidade.
Contudo, o cancelamento não é imediato. O MDS realiza verificações mensais, e o corte só ocorre após dois meses consecutivos de renda acima do limite. Esse período serve para evitar penalizações por variações temporárias de ganhos — algo comum entre pequenos empreendedores.
É importante lembrar que o beneficiário pode voltar a receber o Bolsa Família se a renda cair novamente e o CadÚnico for atualizado.
CadÚnico: o coração do Bolsa Família
O Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico) é o principal instrumento usado pelo governo para identificar famílias em situação de vulnerabilidade. Ele serve como base para o Bolsa Família, o Benefício de Prestação Continuada (BPC), o Pé-de-Meia, o Vale-Gás e outros programas.
Para quem virou MEI, manter o CadÚnico atualizado é essencial. Isso deve ser feito a cada 24 meses, ou antes, sempre que houver qualquer alteração de renda, endereço, trabalho ou composição familiar.
A atualização é feita presencialmente no Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), com documentos pessoais de todos os membros da família, comprovante de residência e declaração de rendimentos.
Por que o governo cruza dados com o MEI
Com o avanço da digitalização e o uso de sistemas integrados, o governo tem conseguido identificar com mais precisão inconsistências nos cadastros. Entre as principais bases cruzadas estão:
Receita Federal: verifica se há CNPJs ativos e declarações de faturamento.
INSS: identifica vínculos empregatícios e contribuições.
Caixa Econômica Federal: monitora movimentações financeiras de beneficiários.
Dataprev: consolida informações sobre benefícios e rendas.
Esses cruzamentos fazem parte da fiscalização automatizada, que busca eliminar fraudes e pagamentos indevidos, garantindo que o dinheiro público chegue a quem realmente precisa.
Dicas para não perder o Bolsa Família ao virar MEI
Registre corretamente sua renda no CadÚnico.
Informe apenas o lucro líquido do MEI, e não o faturamento total.Atualize seus dados sempre que houver mudanças.
Mudou de trabalho, aumentou a renda ou abriu empresa? Vá ao CRAS imediatamente.Guarde comprovantes de gastos e receitas.
Isso pode ajudar em revisões do MDS, caso o sistema detecte divergências.Acompanhe o aplicativo Caixa Tem.
É por ele que você verifica os depósitos e eventuais notificações do Bolsa Família.Participe das atualizações do CRAS.
As entrevistas periódicas são obrigatórias para a manutenção do benefício.
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Bolsa Família e MEI: incentivo à formalização
O governo federal reconhece que muitos beneficiários do Bolsa Família buscam se formalizar como forma de aumentar sua renda e conquistar estabilidade financeira. Por isso, o MEI não é considerado um impeditivo para o recebimento do benefício — desde que a renda continue dentro dos limites previstos.
A política de 2025 reforça o compromisso com a autonomia econômica, permitindo que famílias deixem o programa de forma gradual, sem risco de desamparo imediato.