Beneficiários do Bolsa Família vão receber R$ 1.518 extras? O que é o “auxílio secreto” que viralizou e como ele realmente funciona na prática

Se você abriu as redes sociais nos últimos dias, provavelmente esbarrou em uma manchete dessas: “Governo libera auxílio extra de R$ 1.518 para quem recebe Bolsa Família“. A notícia, como um rastilho de pólvora, se espalhou por grupos de família, comunidades no Facebook e perfis no Instagram. A promessa era suculenta: um dinheiro extra, quase um segundo salário mínimo, chegando de surpresa na conta de milhões de brasileiros.

A imagem de um suposto aplicativo oficial mostrando a generosa quantia acompanhava os posts, convencendo até os mais desconfiados. Parecia bom demais para ser verdade. E, como quase tudo que parece bom demais para ser verdade, a história não era bem assim. Mas calma, isso não significa que seja totalmente mentira. Vamos desvendar esse mistério de uma vez por todas, com uma linguagem simples, para você entender de vez essa confusão.

Bolsa Família com auxílio extra

A primeira coisa que você precisa saber é: o governo federal não criou um novo benefício de R$ 1.518,00 exclusivo para as famílias do Bolsa Família. Não existe um “auxílio secreto” ou um “bolsa extra” esperando para ser sacado por todo mundo.

A verdade por trás do viralato é muito mais simples e, de certa forma, até mais interessante. O tal valor de R$ 1.518,00 é, na realidade, o valor do Benefício de Prestação Continuada (BPC), que hoje equivale a um salário mínimo. A grande novidade, que gerou toda essa confusão, é que desde 2024 as regras mudaram e agora é permitido acumular o Bolsa Família com o BPC.

Antes, se uma família tinha alguém recebendo o BPC, esse valor era contado na hora de calcular a renda familiar. Isso muitas vezes fazia com que a renda per capita da casa ultrapassasse o limite do Bolsa Família, e o benefício era cortado. Era uma escolha cruel: ou ficava com o BPC ou com o Bolsa Família. Agora, não mais. O Congresso Nacional mudou a lei, retirando o BPC desse cálculo. É isso que está causando todo o rebuliço.

Bolsa Família x BPC

Para ficar claro, vamos colocar os pingos nos is e conhecer melhor os dois protagonistas dessa trama.

  • O Bolsa Família: É um programa de transferência de renda para famílias em situação de pobreza e extrema pobreza. Seu valor é variável (a partir de R$ 600), dependendo da composição familiar – número de crianças, gestantes, etc. Ele exige que as famílias cumpram alguns compromissos, como manter as crianças na escola e o cartão de vacinação em dia.

  • O BPC (Benefício de Prestação Continuada): É um direito garantido pela Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS). Diferente de uma aposentadoria, ele não exige que a pessoa tenha contribuído com o INSS. Ele é pago a dois grupos específicos:

    1. Idosos com 65 anos ou mais que comprovem não ter meios de se sustentar sozinhos ou de serem sustentados por sua família.

    2. Pessoas com deficiência de qualquer idade, cuja deficiência impeça sua participação plena na sociedade e cuja família não tenha condições de prover seu sustento.

A chave aqui é que o BPC é um benefício individual. Ele é pago para uma pessoa específica (o idoso ou a pessoa com deficiência), enquanto o Bolsa Família é pago para o núcleo familiar.

Na prática, como fica a conta no fim do mês?

A teoria é bonita, mas um exemplo prático vale mais que mil palavras. Vamos supor a família Silva, composta pelo seu João (70 anos), dona Maria (65 anos), sua nora Ana e seu neto Pedro de 5 anos.

  • Seu João tem 70 anos e se enquadra nos critérios de baixa renda para receber o BPC. Ele, portanto, tem direito a receber R$ 1.518,00 por mês.

  • O restante da família (dona Maria, Ana e Pedro) se enquadra nos critérios de renda do Bolsa Família e recebe, digamos, R$ 700,00 por mês.

Antes da mudança da lei: O valor do BPC do seu João (R$ 1.518) entrava no cálculo da renda total da família. Somando a renda de todos e dividindo pelo número de pessoas, a renda per capita provavelmente ficaria acima do limite permitido pelo Bolsa Família. Resultado: a família perdia os R$ 700,00.

Com a nova regra em vigor: O valor do BPC do seu João não é mais considerado na renda familiar para efeitos do Bolsa Família. Isso significa que:

  • Seu João continua recebendo seus R$ 1.518,00 do BPC.

  • A família Silva continua recebendo seus R$ 700,00 do Bolsa Família.

  • No total, a casa da família Silva passa a contar com R$ 2.218,00 por mês.

É essa soma que gerou o mito do “auxílio extra”. Não é um dinheiro novo que apareceu do nada. É a possibilidade de juntar dois direitos que, por muito tempo, não podiam andar juntos.

Quem realmente pode ter direito?

Aqui está o ponto crucial que os posts virais não explicam direito. Não é todo beneficiário do Bolsa Família que vai receber esse valor a mais. Para que uma família receba os dois benefícios simultaneamente, é obrigatório que:

  1. Haja um idoso (com 65 anos ou mais) OU uma pessoa com deficiência morando na mesma casa e fazendo parte do mesmo núcleo familiar cadastrado.

  2. Essa pessoa específica (o idoso ou a pessoa com deficiência) precise se enquadrar perfeitamente nos rigorosos critérios do BPC, principalmente o de comprovar situação de vulnerabilidade econômica (renda familiar per capita inferior a ¼ do salário mínimo).

  3. O pedido do BPC deve ser feito e aprovado pelo INSS. Ele não é concedido automaticamente. A família precisa ir atrás desse direito.

Como não cair em furadas?

A desinformação é o maior inimigo do cidadão. Desconfie de promessas milagrosas de dinheiro fácil que chegam por mensagens no WhatsApp ou por posts em redes sociais de perfis não oficiais. Nunca clique em links suspeitos que prometem “liberar” o seu benefício.

O caminho para acessar o BPC é único e oficial:

  1. A solicitação é feita exclusivamente pelo site ou aplicativo “Meu INSS”.

  2. A família deve estar devidamente inscrita no Cadastro Único (CadÚnico), com os dados sempre atualizados.

  3. É necessário agendar uma perícia médica e social para comprovar a deficiência ou a situação de vulnerabilidade do idoso.

Se você acha que alguém da sua família se enquadra nessas condições, não espere o “auxílio extra” cair do céu. Procure a assistência social do seu município ou um CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) para se orientar sobre o processo. Eles podem te ajudar a dar os primeiros passos.

A mudança na lei é uma vitória importantíssima para a proteção social no Brasil, garantindo um suporte mais robusto para as famílias que mais precisam. Mas é vital que a informação chegue de forma clara e correta, para evitar frustrações e alimentar falsas esperanças.

Saulo Moreira

Saulo Moreira

Saulo Moreira dos Santos é um profissional comprometido com a comunicação e a disseminação de informações relevantes. Formado em Ciências Contábeis pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Com mais de 15 anos de experiência como redator web, Saulo se especializou na produção de artigos e notícias sobre temas de grande interesse social, incluindo concursos públicos, benefícios sociais, direitos trabalhistas e futebol.