O chefe do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que, embora o dinheiro físico não vá sumir como forma de pagamento no Brasil, o futuro será certamente mais digital.
Durante o evento “618 Spring Investment Meeting”, organizado pela 1618 Investimentos, Campos Neto comentou que o Pix pode ser aprimorado para incluir novos recursos, como o bloqueio reverso, fazendo com que assuma a função dos cartões de crédito.
“Hoje o Pix é programável. […] Por ele ser programável, a gente pode botar nossas funcionalidades. Eventualmente vai poder fazer o bloqueio reverso, o que significa que o Pix vai fazer o papel que hoje o cartão de crédito faz”, nesta sexta-feira, em São Paulo.
Desaceleração dos EUA
Ele também mencionou uma mudança recente nas preocupações do mercado financeiro sobre a economia. Apesar dos dados que mostram uma economia aquecida no Brasil, o maior receio dos analistas é que a economia dos Estados Unidos desacelere mais fortemente do que o previsto.
O cenário considerado pelo Banco Central é de uma desaceleração mais gradual. Campos Neto lembrou que a inflação americana ainda está acima da meta, mesmo que esteja diminuindo recentemente.
“Hoje o fator que mais preocupa os investidores é o que aconteceria se tivesse uma desaceleração mais forte nos EUA. Geopolítica e inflação alta deixaram de ser um tema, (assim como) essa parte de bolhas de mercado”.
Campos Neto disse também que a disputa eleitoral americana não traz boas notícias para a inflação, já que tanto Kamala Harris, do Partido Democrata, como Donald Trump, do Republicano, têm propostas que poderiam aumentar o risco fiscal, através do aumento de gastos.
Além disso, não há indícios de que o país considere fazer algum tipo de ajuste nas contas públicas. O presidente do BC mencionou pelo menos dois outros aspectos que indicariam más notícias para o cenário inflacionário:
“Tem outro pilar da eleição americana que é o protecionismo. Tanto o lado democrata quanto o republicano falam de protecionismo, principalmente em relação à China, mas em geral. E o protecionismo tem um efeito inflacionário.(…) e o terceiro pilar da eleição americana que também está tanto do lado democrata quanto republicano é uma política antimigração, inclusive com gente falando que vai ter deportação.”
Segundo Campos Neto, existem estudos que apontam para um possível impacto de políticas de deportação no mercado de trabalho, que já gera preocupações em vários países ao redor do mundo.
No caso do Brasil, outro tema que causa apreensão é a tendência de desaceleração econômica chinesa, que pode afetar o preço das commodities, prejudicando economias emergentes e exportadoras, como a brasileira.