Afinal de contas, a palavra “desumilde” existe no português ou não pode ser usada?
“Desumilde” é um adjectivo que caracteriza uma pessoa que não tem humildade, isto é, a capacidade de reconhecer suas próprias limitações e apreciar os demais. Pode se apresentar como presunção, arrogância ou a tentativa de humilhar ou diminuir os demais.
Conforme o contexto, o termo “desumilde” pode se referir à ausência de simplicidade e modéstia, expressa através de comportamentos exagerados e ostentatórios, ou ainda a ações propositalmente direcionadas à humilhação alheia.
Já se deparou com o termo “desumilde”? Numerosas pessoas se perguntam se tal termo realmente existe no português.
Em última análise, “humilde” é um termo comum, que se refere a alguém que não se vê como superior aos demais, reconhece suas próprias limitações e exibe uma postura de modéstia e consideração.
Contudo, será que o seu oposto, “desumilde”, também é válido? A questão é relevante, especialmente porque a utilização do prefixo “des-” para formar antônimos é comum, porém nem sempre leva a palavras conhecidas pela maioria.
Afinal de contas, a palavra “desumilde” existe no português ou não pode ser usada?
A expressão “desumilde” está presente no idioma português e é vista como correta, contrariando a hesitação inicial de muitos falantes.
A sua presença é confirmada pela sua presença em vários dicionários, como o Infopédia e o Dicionário Priberam, além de estar presente no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP), um documento oficial do idioma.
Um fato curioso é que a palavra “desumilde” também aparece em dicionários mais antigos e em obras literárias clássicas, validando sua aplicação em contextos literários significativos há mais de um século e meio, validando sua utilização no idioma português.
Qual a história da língua portuguesa?
O português é um idioma neolatino, resultante da combinação de muito latim vulgar e da influência árabe e das tribos que habitavam a área.
A origem do português está fortemente ligada a outra língua (o galego), contudo, é uma língua distinta e autônoma.
Embora a influência do tempo a tenha modificado, incorporando termos franceses, ingleses e espanhóis, ela mantém sua singularidade, mesmo sem a força que possuía no seu auge, quando era quase tão disseminada quanto o inglês atualmente.
Portugal e Espanha estão localizados no oeste da Península Ibérica, na Europa Ocidental. Os dois pertenciam ao Império Romano há mais de dois milênios, e esses conquistadores dominavam o latim, uma língua que eles impuseram aos vencidos.
Não o latim erudito, utilizado pelos eruditos romanos e escrito por poetas e magistrados, mas o latim comum, pronunciado pelo público em geral. Isso ocorreu porque os habitantes locais tiveram contato com soldados e outros indivíduos incultos, não juízes.
Claro que não podemos simplesmente ignorar o impacto linguístico dos conquistados. Essas variedades linguísticas faladas na península e em outros locais foram regionalizando a língua. Também é importante levar em conta a influência árabe, que introduziu diversos termos nestes romanços. até o período da Reconquista.
Este procedimento originou diversos dialetos, todos chamados genericamente de romanço (do latim romanice, que significa “falar como os romanos”). Este processo se intensificou com a queda do Império Romano no século V, resultando na formação de diversos dialetos. No contexto da península, idiomas como catalão, castelhano e galego-português (pronunciado na porção ocidental da península) foram predominantes.
Este último deu origem ao português e ao galego, que posteriormente se tornaram línguas exclusivas da região da Galiza, na Espanha. Durante os séculos XII, XIII e XIV, na época de Camões, o português se unifica e adquire as características atuais da língua.