Economia

Você já reparou nas bordas das moedas? Descubra o que elas revelam sobre segurança, valor e história

Elas passam pelas nossas mãos todos os dias, mas quase nunca recebem atenção. Ficam esquecidas no fundo das bolsas, presas no porta-luvas do carro ou acumuladas em potes de vidro sobre a geladeira. Mesmo na era do Pix e dos cartões por aproximação, as moedas ainda circulam, silenciosamente carregando segredos em seu design. E, entre todos os detalhes, um dos mais intrigantes está justamente nas bordas.

Ao observar com calma, percebemos que nem todas são iguais: algumas têm ranhuras bem definidas, outras são lisas, e há ainda as que misturam estilos. Mas por que essa diferença? A resposta passa por séculos de história, estratégias contra fraudes e até medidas de acessibilidade.

Bordas que nasceram para combater golpes

Muito antes de existir o dinheiro de papel, as moedas eram cunhadas com metais preciosos, como ouro e prata. Isso as tornava valiosas não apenas pelo valor estampado, mas pelo próprio material.
O problema é que pessoas mal-intencionadas perceberam que era possível raspar pequenas quantidades de metal das bordas para derreter e revender. Era um golpe difícil de detectar, já que a perda de material podia ser mínima — mas suficiente para gerar lucro.

Foi aí que surgiu a borda serrilhada. Esse padrão, criado por volta do século XVII, funcionava como um verdadeiro “alarme visual”. Se alguém tentasse desgastar ou cortar a moeda, a irregularidade ficava evidente. Assim, qualquer pessoa poderia perceber que a peça havia sido adulterada.

Mais do que segurança: função de acessibilidade

Com o passar dos séculos, a prática de raspar metais preciosos se tornou rara, especialmente com o uso de ligas metálicas mais baratas. Ainda assim, a borda serrilhada não desapareceu.
Hoje, ela também serve para facilitar a vida de pessoas com deficiência visual. Ao sentir o relevo e o tipo de borda, é possível identificar o valor da moeda sem precisar enxergá-la.

No Brasil, por exemplo, a moeda de R$ 1 combina duas cores de metal e borda com segmentos serrilhados e lisos. Já a moeda de R$ 0,50 tem borda serrilhada em toda a volta, enquanto a de R$ 0,25 apresenta serrilhas mais sutis. Essa diferenciação é pensada justamente para facilitar a identificação tátil.

Critérios usados no Brasil para definir o tipo de borda

A decisão sobre o design de uma moeda, incluindo sua borda, é feita pelo Banco Central e pela Casa da Moeda.
Entre os critérios considerados estão:

  1. Valor facial – Moedas de maior valor costumam ter mais elementos de segurança, como bordas mistas ou diferentes padrões de serrilha.

  2. Risco de falsificação – Quanto maior o risco de adulteração, mais elaborado será o design.

  3. Circulação prevista – Peças que terão grande circulação precisam de características que facilitem a identificação e o manuseio.

  4. Tradição e simbolismo – Certos padrões de borda carregam um valor histórico e cultural, representando a identidade do país.

Além disso, cada país adota seu próprio padrão. Nos Estados Unidos, por exemplo, moedas como o “quarter” (25 centavos) e o “dime” (10 centavos) têm bordas serrilhadas, enquanto o “penny” (1 centavo) e o “nickel” (5 centavos) são lisos. No Reino Unido, algumas moedas apresentam bordas onduladas para facilitar a identificação pelo toque.

Tipos de borda mais comuns

Embora haja variações, os principais tipos de borda utilizados no mundo incluem:

  • Lisa – Completamente reta e sem relevo, geralmente usada em moedas de menor valor.

  • Serrilhada – Com ranhuras regulares ao redor, criada para dificultar adulterações.

  • Mista – Combina trechos lisos e serrilhados, como a moeda de R$ 1 no Brasil.

  • Ondulada – Apresenta curvas suaves na borda, comum em algumas moedas europeias.

  • Inscrita – Possui frases, números ou símbolos gravados na borda, recurso visto em moedas comemorativas.

Bordas que contam histórias

As bordas também têm importância simbólica. Em algumas edições especiais, o texto gravado nelas homenageia eventos históricos ou figuras importantes. Isso transforma a moeda em um pequeno “documento” em circulação, registrando momentos marcantes da cultura de um país.

Há ainda casos curiosos. Em 2007, o dólar americano de 1 dólar com borda inscrita (“Presidential Dollar”) ganhou atenção por erros de cunhagem: algumas moedas saíram de fábrica sem a inscrição lateral. Esses erros as tornaram extremamente valiosas entre colecionadores.

Moedas raras e bordas incomuns: um tesouro para colecionadores

Por todos esses motivos, moedas com bordas incomuns ou erros de cunhagem podem alcançar valores altos no mercado de colecionadores, área conhecida como numismática.
Pequenas falhas — como serrilhas desalinhadas, bordas duplas ou ausência de marcações — podem multiplicar o preço de uma moeda em leilões especializados.

No Brasil, alguns exemplos chamam atenção:

  • Moedas de R$ 1 com borda lisa (em vez de mista), resultantes de erro de produção.

  • Peças comemorativas com inscrições raras na borda.

  • Moedas antigas de prata ou ouro, preservadas com serrilhas originais intactas.

Como vender moedas raras

Se você tem moedas antigas guardadas, vale a pena investigar. Algumas podem valer muito mais do que seu valor de face.

Para vender, siga estas dicas:

  1. Pesquise antes – Use catálogos numismáticos e fóruns especializados para verificar se a moeda é realmente rara.

  2. Tire boas fotos – Imagens nítidas, mostrando frente, verso e borda, aumentam as chances de atrair compradores.

  3. Descreva em detalhes – Inclua ano, material, peso, diâmetro, tipo de borda e estado de conservação.

  4. Escolha o canal certo – Plataformas de leilão, grupos em redes sociais e eventos de numismática são ótimos pontos de venda.

  5. Atenção às falsificações – Moedas raras também são alvo de falsários. Sempre negocie com compradores e vendedores confiáveis.

Um detalhe que passa despercebido, mas diz muito

Olhando rapidamente, as bordas das moedas podem parecer apenas um detalhe estético. Mas, na verdade, elas carregam camadas de história, segurança e utilidade. Serviram para impedir golpes em épocas passadas, ajudam na identificação tátil hoje e, para colecionadores, podem representar pequenas fortunas.

Da próxima vez que uma moeda passar pela sua mão, vale a pena olhar com mais atenção. O tipo de borda pode revelar não apenas a criatividade e a tecnologia por trás de sua fabricação, mas também uma parte da história do dinheiro que usamos todos os dias.

Saulo Moreira

Saulo Moreira dos Santos, 29 anos, é um profissional comprometido com a comunicação e a disseminação de informações relevantes. Formado em Ciências Contábeis pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB), em Salvador, descobriu sua verdadeira vocação na escrita e na criação de conteúdo digital. Com mais de 15 anos de experiência como redator web, Saulo se especializou na produção de artigos e notícias sobre temas de grande interesse social, incluindo concursos públicos, benefícios sociais, direitos trabalhistas e futebol. Sua busca por precisão e relevância fez dele uma referência nesses segmentos, ajudando milhares de leitores a se manterem informados e atualizados.… Mais »
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