Cuidar bem do carro é uma prática valorizada por muitos motoristas brasileiros. Afinal, o automóvel representa um dos maiores investimentos financeiros pessoais, além de estar diretamente ligado à mobilidade e ao conforto do dia a dia.
No entanto, o que poucos sabem é que alguns cuidados excessivos — ou realizados de forma inadequada — podem, na verdade, prejudicar o veículo em vez de protegê-lo.
É comum encontrar condutores que, na tentativa de manter o carro sempre em ótimo estado, acabam adotando procedimentos que comprometem componentes importantes, encurtam a vida útil do motor ou danificam a estética.
Muitas dessas atitudes são motivadas por conselhos duvidosos, modismos mecânicos ou pura desinformação.
A seguir, você confere uma análise dos principais equívocos cometidos por motoristas bem-intencionados — mas mal orientados — e como evitá-los para garantir a durabilidade e o bom funcionamento do seu automóvel.
1. Limpeza dos bicos injetores: nem sempre é necessária
Frequentemente oferecida como parte da manutenção preventiva, a limpeza dos bicos injetores tornou-se um serviço rotineiro em muitas oficinas mecânicas.
No entanto, essa prática não é indicada de maneira generalizada pelos fabricantes de automóveis. Montadoras como Volkswagen, Honda e Toyota, por exemplo, não incluem esse procedimento no plano de revisão regular de seus veículos.
A necessidade real da limpeza depende do tipo de combustível utilizado e das condições de uso do carro.
Combustíveis adulterados ou de má procedência aumentam o risco de entupimento dos bicos, mas, em geral, utilizar gasolina de boa qualidade e manter o filtro de combustível limpo já é suficiente para garantir o bom desempenho do sistema de injeção eletrônica.
A recomendação é simples: só faça a limpeza quando houver sintomas claros, como falhas na aceleração ou perda de potência. E sempre em oficinas de confiança, com diagnóstico técnico que justifique o serviço.
2. Polimento excessivo compromete a pintura
Ver o carro reluzente pode ser motivo de orgulho, mas o excesso de polimento pode ter efeito contrário ao desejado.
Isso porque o procedimento, ao ser feito repetidamente, desgasta a camada de verniz que protege a pintura original, deixando o veículo vulnerável a manchas, perda de brilho e até à necessidade de repintura.
A melhor conduta é reservar o polimento para momentos pontuais, como após riscos superficiais ou manchas resistentes que não saem com lavagens convencionais.
Usar produtos específicos para o tipo de pintura, panos de microfibra e aplicar técnicas adequadas são formas de preservar a aparência do veículo sem prejudicar a lataria.
3. Combustível aditivado exige atenção
Muitos motoristas acreditam que abastecer com combustível aditivado é sinônimo de melhor desempenho e maior proteção ao motor.
Embora os aditivos presentes nesse tipo de combustível realmente auxiliem na limpeza do sistema de injeção, a escolha deve ser feita com cautela.
Isso porque há casos em que a gasolina comum é vendida como aditivada, prática ilegal que infelizmente ainda ocorre em alguns postos.
Para não correr riscos, especialistas recomendam duas opções seguras: abastecer apenas em estabelecimentos de confiança com boa reputação ou utilizar aditivos vendidos separadamente, que podem ser adicionados ao tanque com combustível comum.
Mais importante do que o tipo de combustível é a procedência e a regularidade na manutenção do veículo. Um motor bem cuidado e abastecido corretamente tende a ter uma vida longa e eficiente.
4. Encher o tanque até a tampa pode causar danos ao sistema
Um hábito comum entre motoristas é pedir ao frentista para “completar até a boca” durante o abastecimento.
Apesar de parecer inofensivo, esse comportamento pode causar prejuízos consideráveis. Isso ocorre porque o excesso de combustível pode danificar o cânister — um componente responsável por controlar a emissão de vapores do tanque.
Quando comprometido, o cânister interfere no desempenho do veículo e pode acarretar falhas no sistema de alimentação. Por isso, a orientação técnica é clara: pare de abastecer assim que o bico da bomba desarmar automaticamente.
Além disso, evitar circular com o tanque na reserva é igualmente importante, já que isso pode prejudicar a bomba de combustível e aumentar o risco de pane seca.
5. Descarbonização do motor deve ser feita com cuidado
Popularizada por prometer melhorias como redução do consumo e aumento de potência, a descarbonização do motor — conhecida como “flush” — ganhou espaço nas oficinas mecânicas.
Contudo, especialistas alertam para os riscos envolvidos nesse tipo de serviço quando realizado de forma química e sem desmontagem.
Motores mais antigos ou que já acumulam certo desgaste podem sofrer danos severos nas peças internas, como válvulas, anéis e bronzinas.
A forma mais segura de fazer uma descarbonização profunda é com desmontagem parcial do bloco do motor, algo que exige conhecimento técnico avançado e só deve ser feito por profissionais qualificados, em situações realmente justificadas.
Portanto, antes de autorizar o procedimento, consulte o histórico do veículo, avalie os sintomas e busque uma segunda opinião.
Cuidados que realmente fazem a diferença
Ao contrário do que muitos pensam, a manutenção mais eficaz é aquela feita com equilíbrio, informação e atenção às recomendações do fabricante.
O manual do proprietário, frequentemente esquecido no porta-luvas, é uma ferramenta valiosa que indica os intervalos ideais para revisões, troca de peças e fluidos.
Buscar oficinas com profissionais experientes, desconfiar de soluções “milagrosas” e evitar seguir conselhos genéricos que circulam nas redes sociais ou grupos de aplicativos são medidas que protegem seu patrimônio e evitam gastos desnecessários.
Em um mercado repleto de produtos com promessas exageradas e serviços que nem sempre são necessários, o conhecimento técnico e a moderação são os principais aliados do motorista consciente.