Salário mínimo no Brasil em 2025 deveria ser de R$ 7.528,56 para garantir vida digna a uma família, segundo cálculo do DIEESE, quase cinco vezes maior que o piso oficial de R$ 1.518,00, revelando a dura realidade de milhões de trabalhadores e aposentados

O debate sobre o salário mínimo voltou ao centro das atenções no Brasil após a divulgação de um levantamento do DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos). Segundo o cálculo referente a maio de 2025, o valor necessário para garantir uma vida digna a uma família de quatro pessoas (dois adultos e duas crianças) seria de R$ 7.528,56. O montante é quase cinco vezes maior que o salário mínimo oficial em vigor, fixado em R$ 1.518,00.
O dado evidencia o descompasso entre o piso legal e o custo real de vida no país. Na prática, o salário pago atualmente cobre apenas 19,9% do valor considerado adequado para suprir despesas básicas como alimentação, moradia, saúde, educação, transporte, vestuário, lazer, higiene e previdência.
Como o DIEESE chega a esse valor
O cálculo do salário mínimo necessário é feito mensalmente desde 1959. O ponto de partida é a cesta básica de alimentos, medida em 17 capitais brasileiras.
Em maio de 2025, São Paulo registrou a cesta mais cara do país, com custo de R$ 820,00. A partir desse valor, o DIEESE estima os demais gastos de uma família de quatro pessoas, seguindo parâmetros da Constituição Federal de 1988, que determina que o salário mínimo deve ser suficiente para garantir condições dignas de vida.
Assim, chega-se ao valor de R$ 7.528,56. Apesar de não ter efeito vinculante sobre o governo, esse cálculo funciona como referência para sindicatos, pesquisadores e movimentos sociais, além de servir como termômetro da desigualdade no Brasil.
O impacto para trabalhadores e aposentados
Atualmente, cerca de 60 milhões de brasileiros têm sua renda diretamente atrelada ao salário mínimo. Isso inclui trabalhadores com carteira assinada, aposentados e beneficiários de programas sociais.
Quando o valor oficial não acompanha o custo real de vida, as consequências são claras:
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Endividamento crescente, já que famílias precisam recorrer ao crédito para pagar contas básicas;
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Insegurança alimentar, pois muitas não conseguem manter uma alimentação adequada;
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Exclusão de serviços essenciais, como saúde privada, transporte adequado ou acesso à cultura e lazer.
Além disso, cada reajuste no piso nacional impacta diretamente o orçamento da União. Benefícios como o BPC (Benefício de Prestação Continuada) e as aposentadorias do INSS são calculados com base no salário mínimo. Por isso, o governo costuma equilibrar os reajustes entre a necessidade social e a limitação fiscal.
O contraste com outros países da América Latina
A defasagem entre o salário mínimo oficial e o considerado necessário não é exclusividade do Brasil, mas chama atenção quando comparada a políticas adotadas por vizinhos da América do Sul.
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Chile: o salário mínimo é reajustado periodicamente, em negociações que buscam acompanhar a inflação e garantir algum poder de compra.
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Argentina: mesmo em meio a uma forte crise econômica, há tentativas de reajustes frequentes para evitar a corrosão total dos rendimentos pela inflação.
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Brasil: apesar da política de valorização do salário mínimo nos últimos anos, o valor ainda está muito distante do cálculo do DIEESE, revelando a dificuldade de atender ao que a Constituição prevê.
Esse contraste mostra que, embora todos os países enfrentem desafios econômicos, alguns adotam mecanismos mais ágeis de recomposição do poder de compra do trabalhador.
O que revela o dado de maio de 2025
O número de R$ 7.528,56 não é apenas estatístico. Ele simboliza a distância entre o piso oficial e o custo de vida real no Brasil. Para cumprir o que determina a Constituição, seria necessário multiplicar quase por cinco o valor do salário mínimo atual.
Isso ajuda a explicar por que tantas famílias dependem de:
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Mais de uma renda para sobreviver;
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Trabalho informal, sem direitos trabalhistas garantidos;
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Auxílios governamentais, como o Bolsa Família, que complementam a renda.
A diferença entre o que é pago e o que seria necessário expõe uma das raízes da desigualdade estrutural brasileira.
A fala de especialistas
Para o advogado trabalhista Giovani Santos, o dado do DIEESE deve ser visto como um alerta.
“Não significa que o governo terá que pagar esse valor, mas mostra de forma clara que o trabalhador brasileiro não consegue manter uma vida digna apenas com o salário mínimo. É um número que pressiona tanto a esfera política quanto a sociedade a discutir saídas”, afirma.
Ele ressalta que, enquanto a economia não cresce de forma sustentável e os salários não acompanham o aumento do custo de vida, a consequência é o aumento da pobreza e da exclusão social.
A distância entre teoria e prática
O salário mínimo necessário calculado pelo DIEESE é um indicador teórico. Ele não se traduz em obrigação legal para o governo. O piso oficial é definido por lei e leva em conta variáveis como inflação e crescimento do PIB.
Contudo, a persistência da distância entre os dois valores reforça o debate sobre políticas públicas de redistribuição de renda.
Programas de transferência, incentivos à formalização do trabalho e investimentos em educação e saúde pública são frequentemente apontados como caminhos para reduzir o impacto dessa disparidade.
Um retrato da desigualdade brasileira
O dado de maio de 2025, portanto, serve como mais uma fotografia da realidade social do país. Enquanto o salário mínimo oficial é insuficiente para cobrir sequer um quinto do necessário, milhões de brasileiros seguem lutando para equilibrar as contas no fim do mês.
Entre o discurso constitucional de uma vida digna e a prática cotidiana de milhões de famílias, existe um abismo. Um abismo que o cálculo do DIEESE ajuda a dimensionar, mas que ainda carece de soluções estruturais para ser superado.