Receita Federal revela nova forma de cobrança de impostos

Poucos perceberam, mas uma mudança recente na tributação federal promete alterar o modo como empresas e consumidores lidam com produtos descartáveis. O movimento partiu da Receita Federal, que no início deste mês anunciou uma nova forma de cobrança de impostos.

O ajuste, que passou quase despercebido fora dos círculos empresariais, pode redefinir o mercado de copos, pratos e canudos — e, de quebra, impulsionar o uso de materiais biodegradáveis em larga escala.

Essa alteração não apenas corrige distorções antigas, como também abre caminho para um modelo mais equilibrado e sustentável de tributação. Mas afinal, o que realmente muda com essa nova regra?

Uniformização das alíquotas e o fim da vantagem do plástico

A principal mudança trazida pelo Decreto nº 12.665, publicado recentemente, é a unificação das alíquotas do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) entre os diferentes tipos de descartáveis. Antes, o sistema favorecia o plástico, que pagava menos imposto em comparação aos produtos feitos de papel, cartão ou materiais biodegradáveis.

Por exemplo, canudos de papel eram tributados em 9,75%, enquanto os de plástico pagavam apenas 3,25%. Essa diferença tornava os produtos sustentáveis menos competitivos, mesmo diante da crescente demanda por alternativas ecológicas.

Com a nova medida, todas as categorias passam a ter uma alíquota média de 6,75%, equilibrando a cobrança e estimulando o uso de materiais menos agressivos ao meio ambiente. A Receita Federal garantiu que a arrecadação total não será afetada, mas o impacto para o setor produtivo será significativo.

Impactos diretos sobre o mercado e os consumidores

A uniformização das alíquotas traz reflexos imediatos para bares, restaurantes, lanchonetes e redes de fast-food, que agora podem optar por produtos biodegradáveis sem sofrer com preços mais altos devido à tributação.

Segundo especialistas do setor, o decreto corrige uma injustiça tributária que desestimulava as empresas a investir em sustentabilidade. Agora, com os custos mais equilibrados, as embalagens e utensílios de papel ou cartão devem ganhar espaço nas prateleiras e nas mesas dos consumidores.

Além disso, o impacto positivo se estende ao público em geral. Com o aumento da oferta de produtos biodegradáveis, o consumidor final passa a ter mais opções ecológicas e acessíveis, contribuindo indiretamente para a redução de resíduos plásticos e para a melhoria da imagem ambiental das empresas.

Receita Federal
Receita Federal. Imagem: Reprodução

Combate às fake news sobre aumento de impostos

Após a publicação do decreto, diversas informações falsas circularam nas redes sociais, sugerindo que a mudança representava um aumento de impostos para ampliar a arrecadação federal.

A Receita Federal desmentiu as alegações e reforçou que não houve elevação de carga tributária, apenas redistribuição e equilíbrio entre categorias. O objetivo, segundo o órgão, é estimular a concorrência justa e incentivar práticas mais sustentáveis sem afetar o total arrecadado.

O setor de papel e cartão, que antes pagava mais impostos, é o principal beneficiado. Com a redução das alíquotas, produtos biodegradáveis se tornam mais baratos e competitivos, abrindo espaço para uma transição ecológica nas embalagens e utensílios do dia a dia.

Receita Federal reforça compromisso com sustentabilidade

A mudança ocorre em um momento em que o Brasil busca equilibrar crescimento econômico, arrecadação e responsabilidade ambiental. O novo modelo tributário está alinhado a tendências internacionais, especialmente em países europeus, que já adotam benefícios fiscais para produtos sustentáveis.

Segundo a Receita Federal, a arrecadação não passará por alteração, mas o equilíbrio tributário entre materiais plásticos e biodegradáveis representa um avanço importante para a agenda verde do país.

Empresários que produzem ou comercializam descartáveis devem revisar suas guias fiscais e notas técnicas, já que a nova tabela do IPI passa a valer imediatamente após a publicação do decreto. Em caso de dúvidas, a orientação é buscar contadores especializados ou as entidades representativas do setor, como a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel).

Arrecadação federal segue em alta em 2025

A medida surge em um contexto de forte crescimento na arrecadação federal, que vem apresentando recordes históricos em 2025. Segundo dados divulgados pela Receita Federal em 23 de outubro, o país registrou R$ 216,7 bilhões em setembro, o maior valor para o mês em 25 anos.

Esse resultado representa um aumento real de 1,4% em comparação com o mesmo mês de 2024. A tendência é de estabilidade fiscal, impulsionada principalmente pelo bom desempenho do setor de serviços e pela retomada gradual da economia.

IOF e Previdência impulsionam a arrecadação

Outro destaque do relatório é o crescimento de 33,4% na arrecadação do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), reflexo do aumento nas transações de crédito e câmbio.

A receita previdenciária também apresentou resultado expressivo, somando R$ 523,7 bilhões até setembro, alta de 3,16% em relação a 2024. O avanço acontece devido ao crescimento da massa salarial e do emprego formal, o que reforça o papel da contribuição previdenciária na base de arrecadação federal.

Ainda de acordo com o órgão, o valor acumulado até agosto já alcançava R$ 1,88 trilhão, consolidando 2025 como um dos anos mais fortes em termos de recolhimento de tributos e contribuições.

Impactos regionais e efeitos da calamidade no Sul

A Receita Federal também destacou que a arrecadação de agosto de 2025, de R$ 208,7 bilhões, foi 1,5% menor que em agosto de 2024. A queda foi atribuída aos impactos da calamidade no Rio Grande do Sul, que afetou diretamente empresas e contribuintes da região, levando à suspensão temporária de obrigações tributárias.

Apesar da retração pontual, o desempenho nacional permanece positivo. O órgão reforçou que a recuperação econômica do estado e o restabelecimento das atividades empresariais devem normalizar os números nos próximos meses.

Empresários devem ficar atentos às novas guias fiscais

Com a alteração nas alíquotas do IPI, microempreendedores, distribuidores e fabricantes precisam atualizar suas planilhas e softwares fiscais para evitar inconsistências.

A Receita Federal recomenda acompanhar as próximas atualizações do Sistema Público de Escrituração Digital (SPED) e do Portal do Simples Nacional, que trarão os detalhes técnicos da nova cobrança.

Enquanto isso, os contadores e consultores tributários recomendam atenção às mudanças nos códigos de enquadramento fiscal (NCMs). Isso porque erros podem gerar cobranças indevidas ou atrasos na emissão de notas.

Transparência e próximos passos

O relatório completo de arrecadação de outubro sairá no fim de novembro, com informações consolidadas sobre o desempenho fiscal do trimestre e os primeiros efeitos da unificação do IPI sobre produtos descartáveis.

A Receita Federal afirma que continuará a ajustar regras tributárias para promover equilíbrio, competitividade e sustentabilidade, em linha com as metas do governo de reduzir desigualdades e modernizar a estrutura fiscal do país.

Enquanto os números finais não são apresentados, o que se observa é um avanço histórico na correção de distorções que, por anos, penalizaram as alternativas biodegradáveis — e agora, enfim, podem impulsionar um novo ciclo de crescimento sustentável para o Brasil.

Saulo Moreira

Saulo Moreira

Saulo Moreira dos Santos é um profissional comprometido com a comunicação e a disseminação de informações relevantes. Formado em Ciências Contábeis pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Com mais de 15 anos de experiência como redator web, Saulo se especializou na produção de artigos e notícias sobre temas de grande interesse social, incluindo concursos públicos, benefícios sociais, direitos trabalhistas e futebol.