A cada novo ano, o salário mínimo desperta atenção e expectativa em milhões de brasileiros. Ele serve de referência não apenas para trabalhadores, mas também para aposentados, pensionistas e beneficiários de programas sociais. No entanto, uma nova previsão para 2028 trouxe um número que, embora pareça positivo, levanta discussões sobre poder de compra, inflação e o custo real de vida no país.
De acordo com as projeções mais recentes do governo federal, o salário mínimo previsto para 2028 é de R$ 1.824,00.
Esse valor faz parte de um planejamento de longo prazo elaborado pelo Ministério do Planejamento e Orçamento e pode sofrer ajustes até o fim de 2027, quando a Lei Orçamentária Anual (LOA) for oficialmente aprovada.
Como o governo define o salário mínimo
O cálculo do salário mínimo no Brasil segue uma política de valorização que busca garantir ganhos reais acima da inflação. O governo utiliza dois indicadores principais para chegar à estimativa:
- Inflação (INPC): a correção é feita com base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor do ano anterior.
- Crescimento do PIB: considera-se o aumento do Produto Interno Bruto de dois anos antes.
Essa combinação busca equilibrar a recomposição do poder de compra e o crescimento econômico. Em outras palavras, o reajuste tenta assegurar que o trabalhador não perca valor real de renda, mas sem comprometer as contas públicas.
Evolução das previsões até 2028
A projeção para o salário mínimo de 2028 passou por ajustes ao longo dos últimos anos.
- Primeira estimativa (abril de 2024): o governo havia previsto o valor de R$ 1.772,00, segundo o Ministério do Planejamento.
- Revisão (setembro de 2025): o número foi atualizado para R$ 1.824,00, conforme o Projeto de Lei Orçamentária de 2026 (PLOA 2026).
Além disso, as projeções de longo prazo indicam os seguintes valores para os próximos anos:
- 2026: R$ 1.631,00
- 2027: R$ 1.724,00
- 2028: R$ 1.824,00
- 2029: R$ 1.925,00
Esses valores são projeções econômicas, e o valor final só será confirmado após as revisões do INPC e do PIB dos anos correspondentes.
O que o salário mínimo pode afetar
O salário mínimo é mais do que uma simples referência salarial — ele movimenta toda a economia. A cada reajuste, há reflexos diretos sobre o INSS, o Benefício de Prestação Continuada (BPC) e até mesmo sobre os repasses do Bolsa Família.
1. Benefícios do INSS e programas sociais
O aumento do piso nacional eleva automaticamente o valor das aposentadorias e pensões que seguem o salário mínimo.
O mesmo ocorre com o BPC, pago a idosos e pessoas com deficiência de baixa renda. Assim, um reajuste aparentemente pequeno representa bilhões de reais adicionais em gastos públicos.
2. Poder de compra dos trabalhadores
O objetivo central da política de valorização é proteger o poder de compra dos brasileiros, especialmente das classes mais baixas.
Quando o reajuste supera a inflação, o trabalhador sente o ganho real no bolso. No entanto, se os preços subirem acima da previsão, esse ganho pode ser rapidamente anulado.
3. Empregabilidade e mercado de trabalho
Há um debate recorrente entre economistas sobre o impacto do salário mínimo na geração de empregos. Alguns defendem que reajustes acima da produtividade podem aumentar o custo das empresas e incentivar a informalidade. Outros argumentam que o aumento do consumo das famílias compensa esses efeitos negativos.
Em 2022, por exemplo, mais de um terço dos trabalhadores brasileiros recebiam até um salário mínimo, segundo o IBGE — um número que reforça o peso social dessa política.
4. Estímulo ao consumo
Quando o salário mínimo sobe, as famílias de baixa renda tendem a gastar mais, estimulando o comércio e os serviços locais.
O reajuste de R$ 1.518,00 em 2025 foi considerado um importante incentivo à economia, especialmente no contexto de recuperação pós-pandemia.
Salário mínimo x salário ideal
Apesar das projeções oficiais, os números do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) mostram uma realidade bem diferente. O órgão calcula mensalmente o chamado salário mínimo ideal, que representaria o valor necessário para sustentar uma família de quatro pessoas — dois adultos e duas crianças.
O cálculo considera o custo de uma cesta básica de produtos essenciais, incluindo alimentação, moradia, saúde, educação, transporte, lazer, vestuário, higiene e previdência. A metodologia usa a cesta básica mais cara entre 17 capitais pesquisadas mensalmente.
Valor em setembro de 2025
De acordo com o levantamento mais recente, o salário mínimo ideal seria de R$ 7.075,83. Esse valor é mais de quatro vezes superior ao salário mínimo oficial de R$ 1.518,00 em vigor em 2025.
Esse contraste evidencia o descompasso entre o piso nacional e o custo real de vida nas grandes cidades brasileiras, o que pressiona o orçamento das famílias mais pobres.
O que esperar até 2028
Nos próximos anos, o governo deve manter a política de valorização do salário mínimo, vinculada à inflação e ao crescimento do PIB. Isso garante previsibilidade para os trabalhadores, mas não resolve o desafio central: aproximar o valor real das necessidades básicas da população.
Enquanto o salário mínimo segue em ritmo moderado de crescimento, o salário ideal estimado pelo Dieese mostra que o custo de vida continua a subir de forma mais acelerada. Essa disparidade reforça a importância de políticas públicas complementares, como o Bolsa Família e o BPC, que ajudam a reduzir a desigualdade de renda.
