Imagine resolver a sua vida em uma motoneta elétrica que custa menos que um carro usado, não precisa de habilitação, roda até 90 km sem parar e ainda é tão silenciosa que os vizinhos só vão perceber que você chegou quando bater a porta de casa. Pois bem, essa ideia já tem endereço certo: Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza.
A cidade deve receber, até o fim de 2025, uma unidade de montagem da Duact Motors, empresa especializada em micromobilidade. Com preços a partir de R$ 8.900, as chamadas “mobiletes elétricas” vêm para atender quem precisa de um transporte barato, sem burocracia e com custos de manutenção bem mais baixos que os veículos tradicionais.
Mas o projeto não para aí. Além de trazer para o Ceará uma opção de mobilidade urbana diferente, a empresa promete gerar empregos, mexer com a economia local e até acelerar a transição para veículos menos poluentes.
Montagem em Caucaia e planos de centralização
Hoje, a Duact produz suas motonetas em três estados diferentes: Santa Catarina, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Porém, o plano é ousado: centralizar tudo no Ceará, mais precisamente na região da Catuana, próxima ao Complexo do Pecém.
A escolha não é aleatória. Com o Porto do Pecém bem ali, a empresa acredita que conseguirá reduzir os custos de importação de componentes e ganhar tempo na entrega dos veículos. Segundo a própria Duact, trazer peças pelo porto cearense pode ser até 18 dias mais rápido do que pelo tradicional Itajaí, em Santa Catarina.
Na prática, isso significa mais eficiência, menos custos com frete e uma produção mais ágil para atender clientes de todo o Brasil.
Empregos e investimentos: o impacto na economia local
A prefeitura de Caucaia já confirmou que espera iniciar as obras da nova unidade até o fim de 2025. A promessa é de 50 empregos diretos e até 150 indiretos, considerando setores como logística, fornecedores de peças, oficinas e serviços de manutenção.
Ainda há discussões sobre o valor total do investimento. A Duact negocia com o governo estadual incentivos fiscais para reduzir o ICMS e tornar a operação mais competitiva.
Como explicou João Batista, diretor da empresa no Nordeste:
“Vamos ter uma redução do ICMS e tentar equiparar ao estado de Santa Catarina, que hoje é bem reduzido. Também vamos ter uma vantagem no que a gente chama de frete de retorno. O frete do Ceará para o sul é mais barato do que vindo de Santa Catarina para o Ceará”.
Ou seja, produzir no Nordeste pode ser mais barato, mais rápido e ainda gerar renda local.
O que é exatamente essa motoneta elétrica?
Muita gente ainda se confunde com os termos: motoneta, scooter, mobilete… Então vamos simplificar.
A Duact fabrica um veículo elétrico leve, parecido com aquelas antigas mobiletes que marcaram época, mas com cara de 2025: bateria de lítio, painel digital, design moderno e zero emissão de poluentes.
E o melhor: não precisa de CNH, nem de emplacamento. Isso porque a velocidade máxima é limitada a 32 km/h, e a legislação brasileira considera esse tipo de veículo como “ciclo elétrico”, desde que tenha alguns itens obrigatórios como retrovisor, campainha, sinalização e velocímetro.
Na prática, é uma solução para trajetos curtos: ir ao trabalho, levar o filho para a escola ou fazer compras no bairro.
Autonomia e baterias: até 90 km sem parar
A Duact informa que oferece três opções de bateria, com autonomia que pode chegar a 90 km. Para a maioria das pessoas que vivem e trabalham na mesma cidade, isso significa rodar vários dias sem precisar recarregar.
O público-alvo é bem claro:
Trabalhadores que moram a até 12 km do trabalho.
Estudantes que precisam de deslocamentos rápidos.
Pequenos comerciantes que fazem entregas curtas.
Segundo João Batista:
“É um veículo que vai atender aquele funcionário que trabalha a uns 12 quilômetros de casa, vai fazer uma compra em um mercado perto, e que geralmente vai de ônibus”.
Ou seja, a ideia é tirar gente dos coletivos lotados e colocar em veículos individuais, baratos e sustentáveis.
Formação profissional e mão de obra local
Outro ponto interessante do projeto é a parceria com o Instituto Federal do Ceará (IFCE). A prefeitura de Caucaia já anunciou que vai priorizar a contratação de moradores da cidade para trabalhar na nova unidade.
O IFCE, por sua vez, deve oferecer cursos de capacitação voltados para montagem e manutenção de veículos elétricos. Assim, além de emprego, haverá qualificação profissional para quem quiser atuar nesse setor que tende a crescer muito nos próximos anos.
A ideia de um polo de micromobilidade no Ceará
Com a chegada da Duact, Caucaia não quer parar por aí. A Secretaria de Desenvolvimento Econômico do município sonha em transformar a região em um polo automotivo de veículos elétricos leves.
A estratégia é atrair não só fabricantes de motonetas, mas também empresas de peças, oficinas, fornecedores e até montadoras de motos elétricas maiores.
Se isso acontecer, o Ceará pode virar referência nacional em micromobilidade, assim como a Zona Franca de Manaus virou para motocicletas a combustão.
Próximos passos e impacto esperado
Antes de ver as primeiras motonetas saindo da linha de montagem cearense, ainda faltam alguns passos:
Definição do pacote de incentivos fiscais.
Aprovação de licenças ambientais e urbanísticas.
Construção da unidade industrial.
Contratação e treinamento de mão de obra.
Mas a expectativa é alta. Além dos empregos diretos, a cadeia de fornecedores, oficinas e transporte deve movimentar toda a economia local.
Possíveis novos produtos e expansão no futuro
Hoje, a Duact foca em motonetas elétricas urbanas. Mas a empresa não descarta lançar motocicletas elétricas com maior velocidade e autonomia no futuro.
Por enquanto, a prioridade é manter o preço acessível de R$ 8.900, garantir uma boa rede de assistência técnica e aumentar a nacionalização de peças para reduzir a dependência de importações.
Por que essa motoneta pode ser uma revolução no transporte urbano
Se pararmos para pensar, o Brasil tem milhões de pessoas que moram a menos de 10 km do trabalho. Muitas dependem de ônibus lotados, bicicletas ou caronas.
Com um veículo elétrico, sem necessidade de habilitação, baixo custo de manutenção e recarga barata (basta uma tomada comum), a vida de muita gente pode mudar.
Além disso, as cidades ganham com menos poluição, menos barulho e menos trânsito pesado.
E, convenhamos, chegar ao trabalho com vento no rosto e sem gastar quase nada de combustível não parece nada mal.
