Enquanto enfrenta turbulências no comando da SAF do Botafogo, o empresário norte-americano John Textor voltou a movimentar o mercado do futebol europeu. Segundo o portal The Athletic, o investidor apresentou uma proposta de US$ 550 milhões — aproximadamente R$ 2,95 bilhões — para adquirir o Wolverhampton, tradicional clube da Premier League.
A proposta inclui US$ 200 milhões (R$ 1,07 bilhão) em dinheiro vivo e US$ 350 milhões (R$ 1,88 bilhão) em ações, que seriam repassadas ao Fosun Group, conglomerado chinês que atualmente controla o clube inglês. A informação foi confirmada por fontes próximas ao empresário e recebida oficialmente pelo grupo nas últimas semanas.
O movimento mostra que, mesmo com os holofotes voltados para a crise no Botafogo, Textor continua ativo e ambicioso no cenário internacional, buscando consolidar sua presença entre os maiores investidores do futebol mundial.
Crise da Eagle Football pressiona o Botafogo e afeta imagem de Textor
No Brasil, a situação do empresário está longe de ser tranquila. A Eagle Football Holdings, empresa responsável pela gestão multiclubes comandada por Textor, enfrenta uma disputa judicial envolvendo o controle da SAF do Botafogo.
Os demais sócios da holding o acusam de práticas abusivas e gestão irregular, pedindo inclusive sua saída do comando. Apesar das acusações, uma decisão judicial recente manteve o norte-americano à frente do clube carioca, ao menos por enquanto.
A crise, porém, gera insegurança entre investidores e torcedores, uma vez que o Botafogo depende diretamente da estabilidade financeira da Eagle Football. O impasse jurídico e administrativo dentro do grupo ameaça o planejamento da equipe e lança dúvidas sobre o futuro da SAF.
Mesmo em meio à disputa, Textor continua negociando novos ativos no exterior, o que aumentou o desconforto entre os sócios brasileiros. Fontes internas confirmaram que a diretoria do Botafogo foi notificada sobre a nova proposta ao Wolverhampton, o que reacendeu discussões sobre o foco e a prioridade do empresário.
Vendas e recuos recentes: o império em transformação
A proposta bilionária surge meses após uma série de recuos e reestruturações nos negócios esportivos de John Textor. Em julho de 2025, o norte-americano concluiu a venda de 44,9% das ações do Crystal Palace, outro clube da Premier League, por cerca de R$ 1,4 bilhão.
Pouco antes, ele também havia se afastado do Olympique Lyonnais, da França, após o time enfrentar uma grave crise financeira e correr risco de rebaixamento. A saída de Textor abriu espaço para a bilionária Michele Kang, empresária sul-coreana que assumiu o controle e tenta recuperar o equilíbrio financeiro do clube francês.
Essas movimentações mostram que o investidor vem reposicionando seu portfólio: vende participações em clubes em crise para direcionar capital a novas oportunidades, especialmente em mercados com maior potencial de valorização, como a Premier League.
Quem é John Textor: o empresário por trás do império Eagle Football
Com fortuna estimada entre US$ 1 bilhão e US$ 1,5 bilhão, John Textor construiu sua trajetória longe do futebol. Sua base financeira veio de setores como tecnologia, cinema e mídia digital, antes de ingressar no universo esportivo.
Ele foi executivo da FuboTV, plataforma de streaming esportivo avaliada em bilhões de dólares, e investiu em empresas de efeitos visuais que trabalharam em filmes como Titanic e Vingadores. Essa experiência consolidou sua reputação como um investidor de visão e alto risco, o que posteriormente o levou ao mundo do futebol.
Atualmente, a Eagle Football Holdings é o principal braço de seus negócios e detém participações em clubes de diferentes países:
Botafogo (Brasil)
Olympique Lyonnais (França)
RWD Molenbeek (Bélgica)
Crystal Palace (Inglaterra, até julho de 2025)
A estratégia é inspirada em grupos como o City Football Group, dono do Manchester City, e busca criar sinergia entre clubes, compartilhando talentos, tecnologias e recursos financeiros.
Fortuna sob pressão: dívidas e lucros bilionários
Apesar da imagem de magnata global, a saúde financeira de John Textor não é isenta de riscos. Segundo relatórios divulgados pela imprensa europeia, a Eagle Football encerrou a temporada 2023/2024 com um déficit de 25,7 milhões de euros, o equivalente a R$ 157 milhões.
Além disso, o grupo mantém um empréstimo de cerca de US$ 450 milhões com a empresa de investimentos Ares Management, renegociado em outubro de 2025 para estender o prazo de pagamento.
Esses números acendem um alerta sobre o grau de endividamento da holding, especialmente enquanto o empresário tenta adquirir um novo clube por quase R$ 3 bilhões. Ainda assim, Textor parece disposto a correr o risco, apostando em valorização futura e expansão global de marca.
Por outro lado, ele também tem mostrado capacidade de gerar lucros expressivos. A venda de sua fatia no Crystal Palace, por exemplo, garantiu retorno superior a R$ 700 milhões em relação ao investimento inicial — um ganho que reforça seu apetite para grandes negociações.
Impactos no Botafogo e o alerta interno da SAF
A proposta de compra do Wolverhampton repercutiu imediatamente no Brasil. Dentro da SAF do Botafogo, há a percepção de que a atenção de Textor está cada vez mais voltada ao exterior, o que pode afetar diretamente o planejamento esportivo e financeiro do clube carioca.
Membros do conselho administrativo afirmam que o empresário já comunicou seus novos planos e garantiu que a operação não comprometerá os recursos destinados ao Botafogo. No entanto, parte dos dirigentes teme que a prioridade ao mercado europeu reduza o fluxo de investimento no futebol brasileiro.
A incerteza cresce porque a Eagle Football é responsável por financiar grande parte da estrutura do clube, desde o pagamento de salários até contratações. Caso o grupo concentre esforços em outro projeto, o Botafogo pode perder protagonismo dentro da holding.
Mercado observa com cautela e desconfiança
A tentativa de compra do Wolverhampton reforça o padrão de comportamento de Textor: agir rapidamente e apostar em clubes com história, torcida fiel e potencial de valorização, mesmo que enfrentem momentos delicados.
Especialistas apontam que, caso o negócio avance, o empresário passará a controlar um ativo de peso dentro da Premier League — o campeonato mais lucrativo do mundo. Entretanto, a instabilidade jurídica no Brasil e o endividamento da Eagle Football podem complicar a negociação com o Fosun Group.
O fato de a proposta envolver parte em ações também levanta questionamentos sobre a liquidez e a garantia real da operação, uma vez que os títulos do grupo não têm cotação pública e dependem de avaliações privadas.
Ainda assim, o nome de John Textor segue no centro das atenções do futebol internacional, misturando polêmicas, negociações bilionárias e incertezas que repercutem tanto na Inglaterra quanto no Brasil.
