O mercado brasileiro de meios de pagamento, historicamente dominado pelas bandeiras norte-americanas Visa e Mastercard, pode estar prestes a viver uma transformação significativa. A UnionPay, maior bandeira de cartões do mundo em número de plásticos emitidos, anunciou oficialmente que entrará no Brasil em 2025 por meio de uma parceria estratégica com a fintech LeftBank.
Com mais de 9 bilhões de cartões emitidos globalmente e presença consolidada em mais de 180 países, a empresa chinesa traz consigo a promessa de ampliar a concorrência, reduzir custos de transação e oferecer novas alternativas para consumidores e estabelecimentos comerciais.
A estreia não é apenas mais uma novidade no setor financeiro, mas um movimento que pode mexer com a estrutura do mercado de pagamentos e até com o equilíbrio geopolítico, em um momento de tensões entre Brasil e Estados Unidos.
O que muda com a chegada da UnionPay
A operação brasileira será estruturada pela LeftBank, fintech gaúcha que aposta em soluções digitais para ampliar a inclusão financeira. A parceria permitirá a emissão local de cartões UnionPay, algo inédito até agora, já que a bandeira era aceita apenas em transações de cartões emitidos no exterior.
Entre as novidades previstas, estão:
Integração com o Pix, hoje o sistema de pagamentos mais usado do país.
Uso dos cartões em maquininhas e e-commerces nacionais.
Serviços financeiros digitais via aplicativo, incluindo abertura de conta, transferências, pagamento de boletos, recargas e crédito popular.
Um clube de benefícios para os clientes, além da possibilidade de direcionar parte das tarifas a causas sociais escolhidas pelo usuário.
Na prática, o consumidor terá acesso a um cartão de uso doméstico e internacional com uma bandeira reconhecida em diversos destinos turísticos, algo que pode facilitar tanto compras online quanto gastos no exterior.
Concorrência direta com Visa e Mastercard
Visa e Mastercard, líderes absolutas no Brasil, oferecem há décadas redes consolidadas, programas de pontos, segurança digital e parcerias robustas com bancos e carteiras digitais.
A UnionPay, por outro lado, aposta em:
Expansão em países emergentes.
Soluções de pagamento móvel e QR Code.
Custos potencialmente mais baixos de aceitação para lojistas.
Diferenciação pela narrativa de impacto social trazida pela LeftBank.
A entrada da bandeira chinesa ocorre em um momento estratégico. O Pix e o open finance já amadureceram no Brasil, abrindo espaço para novas modalidades de arranjos de pagamento. Dessa forma, a concorrência tende a ser mais equilibrada do que há 10 ou 15 anos.
Quem é a LeftBank e seu papel na parceria
A LeftBank, criada por empreendedores do Rio Grande do Sul, se define como uma fintech com viés social. Seu propósito vai além da oferta de serviços bancários digitais: a empresa pretende redistribuir parte da receita das transações para entidades e projetos sociais escolhidos pelos clientes.
Para viabilizar os serviços regulados, a fintech atua em parceria com instituições de pagamento autorizadas pelo Banco Central, modelo comum no ecossistema de startups financeiras. Assim, caberá à LeftBank a emissão local dos cartões UnionPay e a integração com bancos, adquirentes e o Pix.
Segundo Daniel Verçosa, cofundador da LeftBank, o objetivo é “oportunizar milhões de brasileiros sem acesso bancário e apoiar entidades da sociedade civil”. Já investidores e conselheiros ligados à fintech, como José Kobori, defendem que a chegada da UnionPay pode reduzir a dependência do Brasil de bandeiras estrangeiras.
Impactos esperados para consumidores e comércio
A chegada da UnionPay pode trazer benefícios diretos tanto para os consumidores quanto para os lojistas:
Para os clientes: maior aceitação em viagens internacionais, novos programas de benefícios, possibilidade de usar um cartão global no dia a dia e inclusão financeira para quem ainda não tem conta em banco.
Para o comércio: uma alternativa de arranjo de pagamento com potencial de custos transacionais mais competitivos, dependendo da escala da operação.
Um dos desafios, no entanto, será garantir que as maquininhas e carteiras digitais estejam integradas desde o início. Sem aceitação ampla e sem fricções técnicas, nenhum arranjo prospera no mercado brasileiro.
Inclusão financeira: a grande promessa
A proposta da LeftBank em conjunto com a UnionPay vai além da competição por tarifas. O foco principal está em incluir no sistema financeiro milhões de brasileiros ainda desassistidos.
Isso será feito por meio de:
Abertura de contas digitais sem burocracia.
Emissão de cartões acessíveis.
Oferta de microcrédito.
Pagamentos digitais para o dia a dia.
Esse discurso de impacto social é considerado estratégico, já que diferencia a proposta em um setor marcado, até aqui, por programas de pontos e recompensas voltados a clientes de maior poder aquisitivo.
Comércio exterior e turismo: um diferencial competitivo
Além do impacto no mercado interno, a presença da UnionPay no Brasil pode facilitar o comércio internacional e o turismo.
Para importadores e exportadores: a bandeira pode oferecer rotas alternativas de pagamento em negociações com fornecedores chineses, potencialmente reduzindo custos.
Para turistas chineses no Brasil: a aceitação local de cartões UnionPay deve facilitar gastos em hotéis, restaurantes e lojas.
Para brasileiros viajando ao exterior: será possível usar o cartão em uma rede global já consolidada em mais de 180 países.
O cenário geopolítico
A estreia da UnionPay no Brasil também ocorre em meio a um contexto político delicado. Em 2025, tensões comerciais entre Brasil e Estados Unidos voltaram a ganhar destaque, após novas medidas tarifárias impostas por Washington.
Nesse cenário, parte do mercado vê a presença de uma bandeira chinesa como uma forma de diversificar riscos e reduzir a dependência de infraestruturas financeiras ocidentais. Não se trata de substituir Visa e Mastercard, mas de criar redundância e opções adicionais para consumidores e empresas.
O que acompanhar nos próximos meses
Três fatores serão determinantes para o sucesso da UnionPay no Brasil:
Licenças e parcerias regulatórias: o arranjo precisa estar em conformidade com o Banco Central e bem integrado ao ecossistema financeiro nacional.
Acordos com adquirentes e grandes varejistas: a aceitação em larga escala depende da adesão de redes de maquininhas e e-commerces.
Política de preços e benefícios: consumidores e lojistas avaliam rapidamente o custo-benefício. Tarifas competitivas e recompensas atrativas podem acelerar a adoção.
Considerações finais
A chegada da UnionPay ao Brasil em 2025, via parceria com a fintech LeftBank, promete movimentar profundamente o mercado de cartões. A bandeira chinesa não vem apenas disputar espaço com Visa e Mastercard, mas também oferecer inclusão financeira, fortalecer o comércio exterior e diversificar as opções de pagamento disponíveis.
Se a aceitação for ampla e os custos competitivos, o novo cartão pode conquistar espaço rapidamente. A dúvida que resta é: o consumidor brasileiro está pronto para trocar seu cartão atual por um UnionPay nacional?
