Câmara quer garantir emprego e renda para idosos 60+: novo projeto obriga o poder público a criar programas de contratação e incentivos fiscais para empresas que admitirem idosos

Câmara quer garantir emprego e renda para quem passou dos 60

O Congresso Nacional avança em um projeto que pode transformar a forma como o Brasil trata o envelhecimento e o trabalho na maturidade. O Projeto de Lei nº 3661/2023, de autoria do deputado Luiz Gastão (PSD–CE), propõe alterar o Estatuto da Pessoa Idosa (Lei 10.741/2003) para obrigar o poder público a criar programas de incentivo à contratação de idosos, incluindo benefícios fiscais e campanhas educativas que estimulem sua reinserção no mercado de trabalho.

A princípio, a proposta busca enfrentar um desafio crescente: o desemprego e a exclusão profissional entre pessoas com mais de 60 anos. O IBGE mostra que o país tem mais de 34 milhões de idosos, e cerca de 25% ainda desejam ou precisam continuar trabalhando — seja por necessidade financeira, seja por vontade de se manterem ativos e produtivos.

Um novo capítulo no Estatuto da Pessoa Idosa

O projeto altera o artigo 28 do Estatuto da Pessoa Idosa para incluir o inciso que determina que “o Poder Público deverá desenvolver ações destinadas a estimular a contratação de pessoas idosas, por meio de incentivos fiscais, programas de capacitação e campanhas educativas”.

Em primeiro lugar, essa mudança coloca o envelhecimento populacional no centro das políticas de emprego. O Ipeaprojeta que, até 2040, o Brasil terá um idoso para cada três adultos em idade ativa. Ou seja, o país precisa se adaptar rapidamente a essa nova realidade, em que mais brasileiros vivem por mais tempo e desejam continuar contribuindo com sua experiência profissional.

Antes de mais nada, a proposta reconhece que o envelhecimento populacional deve ser visto como uma oportunidade econômica, e não como um obstáculo. A medida cria uma ponte entre longevidade e geração de renda, algo fundamental para um país que envelhece mais rápido do que se planejou.

O desafio do preconceito etário e da reinserção profissional

O autor do projeto, deputado Luiz Gastão, defende que a proposta combate o “idadismo profissional” — o preconceito que exclui pessoas mais velhas de vagas de trabalho. Segundo ele, “muitos idosos são descartados do mercado mesmo com plena capacidade produtiva. É preciso corrigir essa distorção com políticas públicas que valorizem e criem oportunidades para os mais experientes”.

De fato, o Dieese revela que a taxa de desemprego entre pessoas de 60 a 69 anos cresceu 25% nos últimos cinco anos, especialmente após a pandemia. Em contrapartida, setores como comércio, serviços e atendimento ao públicojá demonstram interesse em programas de inclusão profissional voltados para trabalhadores sêniores.

A saber, muitas empresas começaram a perceber que a presença de profissionais mais velhos aumenta a confiança dos clientes e melhora o ambiente de trabalho, trazendo equilíbrio e experiência para as equipes.

Incentivos fiscais e impactos econômicos positivos

O texto ainda não define quais incentivos fiscais serão aplicados, mas abre caminho para que o governo federal, estados e municípios criem suas próprias políticas.

Entre as ideias em debate estão:

  • Redução de encargos previdenciários para empresas que contratarem pessoas com mais de 60 anos;

  • Linhas de crédito subsidiadas para negócios liderados por idosos;

  • Cotas de contratação em programas públicos de emprego temporário;

  • Campanhas nacionais de valorização profissional para quem está na terceira idade.

A economista Luciana Seabra, da consultoria Reag Investimentos, analisa que a medida pode gerar efeitos econômicos e sociais positivos. “A inclusão produtiva de idosos melhora a renda familiar e reduz a pressão sobre a Previdência e a assistência social”, explica.

Ou seja, a proposta não apenas beneficia quem precisa de trabalho, mas também fortalece a economia, ao reinserir no mercado milhões de profissionais experientes.

Um país que envelhece e precisa se adaptar

O Brasil envelhece em ritmo acelerado. Em 1991, apenas 4,8% da população tinha mais de 60 anos; hoje, o índice supera 15%, e deve continuar subindo nas próximas décadas.

Apesar disso, as políticas de trabalho e aposentadoria ainda seguem o modelo antigo, que pressupõe a saída definitiva do mercado de trabalho aos 60 ou 65 anos.

O sociólogo Rafael Rossetto, especialista em políticas públicas para o envelhecimento, destaca que “trabalhar mais tempo não é apenas uma questão econômica, mas também uma forma de manter o senso de propósito e pertencimento social”.

Por fim, Rossetto reforça que o projeto representa um passo importante para alinhar o Brasil às práticas internacionais. Países como Japão, Alemanha e Canadá já oferecem incentivos à contratação de idosos, reconhecendo o valor da experiência na produtividade das empresas.

Empresas e sociedade aprovam a proposta

Empresários e entidades sindicais veem a medida com bons olhos. A Confederação Nacional do Comércio (CNC) e a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) já manifestaram apoio à proposta, ressaltando que a experiência e o comprometimento dos profissionais mais velhos podem ser diferenciais competitivos no mercado.

Além disso, pesquisas mostram que funcionários com mais de 60 anos apresentam menor taxa de rotatividade e 30% mais estabilidade do que profissionais jovens. Essa constatação reforça que incluir idosos no mercado é vantajoso tanto para as empresas quanto para a sociedade.

Em outras palavras, valorizar o trabalho sênior é investir em produtividade, diversidade e responsabilidade social.

Tramitação e próximos passos

O Projeto de Lei nº 3661/2023 já recebeu parecer favorável preliminar na Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa, sob relatoria do deputado Paulo Litro (PSD–PR). O texto agora seguirá para as Comissões de Trabalho e de Finanças e Tributação, antes de ser votado no Plenário da Câmara dos Deputados.

Se aprovado, o governo federal deverá regulamentar as medidas, definindo os critérios de concessão de incentivos fiscais e os programas de capacitação profissional voltados à terceira idade.

Segundo o relator, “incluir o idoso no mercado não é caridade, é inteligência social e econômica”. Ele defende que o país precisa aproveitar o potencial produtivo das gerações que ajudaram a construir a economia moderna e ainda têm muito a oferecer.

Em conclusão, a proposta busca criar uma nova política de emprego e renda para idosos, integrando o envelhecimento à agenda econômica do país. Trata-se de um marco social que reconhece o valor da experiência e promove o respeito às novas formas de envelhecer com dignidade e participação ativa.

Saulo Moreira

Saulo Moreira

Saulo Moreira dos Santos é um profissional comprometido com a comunicação e a disseminação de informações relevantes. Formado em Ciências Contábeis pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Com mais de 15 anos de experiência como redator web, Saulo se especializou na produção de artigos e notícias sobre temas de grande interesse social, incluindo concursos públicos, benefícios sociais, direitos trabalhistas e futebol.