Caixa libera função que permite enviar até R$ 1.453,23 via Pix mesmo sem saldo — e muitos brasileiros estão usando sem saber que é crédito

Nos últimos dias, diversos clientes da Caixa Econômica Federal começaram a relatar algo curioso nas redes sociais: conseguiram enviar valores de até R$ 1.453,23 via Pix, mesmo com saldo zerado. À primeira vista, parecia um milagre bancário — mas a verdade é mais simples (e com juros).
Essa novidade não é um benefício secreto da Caixa, e sim o resultado de uma nova forma de usar o limite do cartão de crédito como se fosse dinheiro na conta, graças a aplicativos parceiros e carteiras digitais que permitem esse tipo de operação.
A tendência, que começou entre fintechs, já chegou ao público mais tradicional — e, claro, despertou dúvidas e curiosidades.
Como é possível fazer Pix sem ter dinheiro?
Na prática, o cliente realiza um Pix normalmente, mas o valor sai do limite do cartão de crédito.
O dinheiro cai imediatamente na conta de destino, como em qualquer Pix comum, e a cobrança aparece depois na fatura do cartão, como se fosse uma compra.
Dependendo da plataforma usada, ainda dá para parcelar o valor — o que transforma o Pix em um pequeno empréstimo disfarçado.
Em resumo:
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O usuário escolhe “Pix via cartão de crédito”;
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Informa o valor (até R$ 1.453,23, em média, conforme relatos);
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O dinheiro cai instantaneamente na conta indicada;
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O pagamento é feito depois, na fatura do cartão, com juros e taxas.
Essa modalidade vem crescendo rapidamente, porque resolve situações de emergência, como pagar um boleto fora do horário bancário ou ajudar alguém quando o saldo acabou.
Crescimento do Pix via crédito: prático, mas com custo
A popularização desse modelo tem um motivo: conveniência.
Em tempos de contas apertadas, poder fazer um Pix “agora” e pagar “depois” soa como uma boa saída.
Mas é importante entender o custo dessa conveniência.
As taxas cobradas pelas plataformas variam entre 3% e 8%, podendo ficar ainda mais salgadas quando o pagamento é parcelado.
Imagine um Pix de R$ 1.000, parcelado em três vezes, com juros de 6%: você pagará R$ 1.180 ao final.
Ou seja, o recurso é útil, mas precisa ser usado com moderação — especialmente se a pessoa já tiver outras dívidas no cartão.
Caixa alerta: cuidado com apps desconhecidos
A Caixa reforçou que não oferece o Pix via limite do cartão diretamente em seu aplicativo oficial.
Logo, quem usa esse tipo de serviço está recorrendo a aplicativos de terceiros — e é aí que mora o perigo.
O banco recomenda:
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Utilize apenas plataformas conhecidas e seguras, como PicPay, Mercado Pago, 99Pay ou RecargaPay;
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Nunca compartilhe senhas ou dados bancários com sites desconhecidos;
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Desconfie de promessas de Pix “sem taxas” ou “automático”, já que muitos golpes se disfarçam com esse tipo de oferta.
Nos últimos meses, o número de fraudes envolvendo Pix cresceu de forma expressiva. Criminosos criam aplicativos falsos que simulam o serviço de transferência via crédito, mas roubam informações pessoais e bancárias.
Segundo a própria Caixa, qualquer operação que envolva limite de cartão deve ser feita somente em canais oficiais.
O que é o Pix parcelado e por que o Banco Central quer regulamentar
Diante da popularização desse tipo de transação, o Banco Central decidiu agir.
A instituição prepara uma regulamentação para o Pix parcelado, com o objetivo de padronizar as regras e dar mais transparência.
Atualmente, ao menos dez bancos e fintechs já oferecem o serviço de Pix parcelado, mas cada um define suas próprias condições de taxas e limites.
A previsão é que a regulamentação entre em vigor ainda este mês.
Existem duas formas principais de Pix parcelado:
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Via empréstimo pessoal – o banco empresta o valor e cobra as parcelas diretamente da conta do cliente;
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Via cartão de crédito – o dinheiro é cobrado na fatura, como uma compra parcelada.
Nos dois casos, trata-se de uma operação de crédito, não de um Pix comum.
Ou seja, o consumidor está contratando um empréstimo, com juros e IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).
“Um empréstimo disfarçado”, alerta especialista
Para especialistas, o Pix parcelado deve ser tratado com cautela. Na prática, é um empréstimo bancário disfarçado, ou seja, o consumidor precisa olhar o custo final da operação, porque os juros podem transformar um simples Pix de emergência em uma dívida de maior valor.
A recomendação é que, antes de usar, o cliente compare as taxas com as de um empréstimo pessoal tradicional.
Muitas vezes, o crédito consignado ou pessoal tem juros menores e mais previsíveis.
Por que tanta gente está recorrendo ao Pix com crédito
O Brasil vive um momento de endividamento recorde.
De acordo com a Confederação Nacional do Comércio (CNC), 78,5% das famílias brasileiras têm algum tipo de dívida — e o cartão de crédito é o principal vilão.
Com os juros altos e a dificuldade de conseguir novos empréstimos, o Pix via crédito se tornou uma saída rápida para quem precisa de liquidez imediata.
Além disso, ele oferece algo que os empréstimos tradicionais não têm:
velocidade.
Enquanto um empréstimo pode demorar dias para cair, o Pix é instantâneo, funcionando 24 horas, inclusive nos fins de semana e feriados.
Pix: de transferência instantânea a protagonista do crédito digital
Desde seu lançamento em novembro de 2020, o Pix mudou o comportamento financeiro dos brasileiros.
Até hoje, foram movimentados R$ 76,2 trilhões em 176 bilhões de transações.
O recorde diário foi registrado em 6 de junho de 2025, com 276,7 milhões de transferências em um único dia.
Esses números mostram que o Pix deixou de ser apenas um meio de pagamento para se tornar o eixo central das finanças digitais do país.
E agora, com a chegada do Pix parcelado regulamentado, o sistema deve avançar ainda mais, integrando crédito e pagamentos em tempo real.
Pix parcelado pode ajudar milhões, mas exige responsabilidade
O Banco Central acredita que o novo formato de Pix pode ampliar o acesso ao crédito para cerca de 60 milhões de brasileiros que não conseguem empréstimos nos bancos tradicionais.
Na teoria, isso democratiza o sistema financeiro.
Na prática, sem controle, pode aumentar o risco de endividamento — especialmente entre consumidores que já usam o limite do cartão para despesas básicas.
Por isso, especialistas recomendam planejamento e disciplina.
O Pix parcelado é útil em emergências, mas não deve virar rotina.
Afinal, ele tem o mesmo impacto de um empréstimo: compromete renda futura.
Caixa e o futuro dos pagamentos digitais
A Caixa tem acompanhado esse movimento com atenção.
Mesmo sem oferecer oficialmente o Pix via crédito, o banco vem modernizando seus serviços digitais, ampliando recursos no aplicativo Caixa Tem e nas contas poupança.
Fontes internas afirmam que o banco estuda lançar novas funções de crédito digital, que podem incluir parcelamento via Pix dentro das normas do Banco Central.
Se confirmada, a novidade colocará a Caixa em pé de igualdade com grandes fintechs — mas com um diferencial importante: segurança e controle estatal.
Enquanto isso, a recomendação é clara: use o crédito com cautela, leia os termos das plataformas e evite aplicativos não oficiais.
O que esperar daqui pra frente
O Pix segue se transformando no meio de pagamento mais popular do Brasil — e o mais inovador também.
Com a chegada do Pix parcelado regulamentado, a tendência é que o sistema se torne um híbrido entre pagamento instantâneo e crédito pessoal.
Para quem sabe usar, é uma ferramenta poderosa.
Para quem se empolga demais, pode virar uma armadilha.
A nova fase do Pix mostra que o dinheiro digital não é mais o futuro — é o presente.
E, assim como qualquer crédito, ele cobra um preço pela conveniência.