Se você é um dos milhões de brasileiros que sonham com uma folga no bolso e ganham até R$ 7.350, pode começar a semana com uma notícia de impacto: a tão falada isenção do Imposto de Renda pode, finalmente, entrar na pauta de votações.
Mas, como tudo na política brasileira, o “pode” é a palavra-chave aqui. Porque, embora o tema seja popular e tenha o apoio de boa parte da população, nos bastidores o clima não está nada favorável. Aliás, a sensação em Brasília é de que a votação pode virar um daqueles episódios de novela: cheio de idas e vindas, com suspense até o último capítulo.
Brasileiros que ganham até R$7.350,00 podem receber desconto
A proposta que prevê isenção total para quem ganha até R$ 5 mil e um desconto para quem recebe até R$ 7.350 já estava na fila há meses. Porém, o que deveria ser uma pauta relativamente simples virou uma verdadeira guerra política.
Nos bastidores, deputados reclamam de promessas não cumpridas, atrasos no pagamento de emendas parlamentares e, principalmente, do que chamam de “falta de articulação política” do governo. O Centrão, por exemplo, um dos grupos mais influentes do Congresso, anda incomodado com a forma como o PT conduziu a chamada PEC da Blindagem.

Além disso, outro ingrediente apimenta o caldeirão: as eleições de 2026. Isso mesmo. Embora ainda pareça distante, cada movimento feito agora pode virar munição política lá na frente. E ninguém quer dar mole para o adversário.
Arthur Lira entra em cena
Quem deve ganhar destaque nesta novela política é Arthur Lira, ex-presidente da Câmara e relator do projeto.
Conhecido por sua habilidade em negociar nos bastidores, Lira deve participar da reunião de líderes na terça-feira, um encontro que pode decidir se o projeto vai ou não para votação.
Os aliados de Lira afirmam que ele conhece a Câmara como poucos. Se o texto ainda não foi votado, é porque não havia clima. E se alguém entende de “ler o ambiente político”, esse alguém é ele.
O medo do governo: e se ampliarem a faixa de isenção?
Entre os governistas, existe um medo real: que, durante a votação, a oposição ou mesmo o Centrão proponham ampliar ainda mais a faixa de isenção — sem indicar de onde sairá o dinheiro para bancar essa medida.
Afinal, isentar quem ganha até R$ 7.350 já pesa nas contas públicas. Se a faixa aumentar ainda mais, seria um problemão para o governo, que não poderia orientar os deputados a votar contra uma proposta tão popular, mas também não teria como justificar o impacto no orçamento.
Como está a proposta hoje
A versão mais recente do texto prevê:
Isenção total para quem ganha até R$ 5 mil;
Desconto parcial para quem recebe até R$ 7.350;
Compensação por meio de uma taxa extra para super-rendimentos:
10% sobre salários acima de R$ 50 mil;
10% adicionais para quem ganha acima de R$ 100 mil.
O problema? Já tem deputado falando em derrubar justamente essa compensação, o que deixaria o governo em uma sinuca de bico.
Por que o Centrão está com o freio puxado
O Centrão, grupo político conhecido por negociar caro seu apoio, tem reclamado de três coisas principais:
Atrasos em emendas parlamentares – aquelas verbas que deputados usam para financiar obras e projetos em seus redutos eleitorais.
Insatisfação com o governo – principalmente depois da PEC da Blindagem, que desagradou parte da base.
Proximidade das eleições – com 2026 batendo à porta, ninguém quer dar vitória fácil para o adversário.
Resultado: o grupo anda segurando o apoio ao projeto, mesmo sabendo que é uma medida popular.
União Brasil pode pular fora
Outro ponto de tensão é o União Brasil, partido que tem sido cada vez mais independente em relação ao governo.
Alguns parlamentares do partido já falaram em apresentar uma proposta para ampliar a faixa de isenção sem a tal compensação prevista no texto original. Na prática, isso colocaria o governo contra a parede: ou apoia uma medida que impacta as contas públicas ou assume o ônus de votar contra algo popular.
E o projeto de anistia no meio disso tudo
Como se não bastasse, outro tema tem roubado os holofotes: o projeto de lei da anistia.
Muitos deputados têm preferido focar nessa pauta, deixando a questão do Imposto de Renda em segundo plano. Isso aumenta ainda mais o risco de a votação ser adiada para outubro ou até novembro.
O que esperar da reunião de líderes na terça-feira
A reunião de terça promete ser decisiva. É nela que Arthur Lira e os líderes partidários devem avaliar se há ou não clima para votar a proposta.
Se houver consenso, o projeto pode entrar na pauta ainda nesta semana. Caso contrário, só Deus sabe quando voltará a ser discutido.
Por que essa votação importa para milhões de brasileiros
Hoje, a tabela do Imposto de Renda está defasada. Isso significa que muita gente que não deveria pagar imposto acaba pagando, porque os salários subiram ao longo dos anos, mas a faixa de isenção não acompanhou a inflação.
Com a mudança, trabalhadores que ganham até R$ 5 mil ficariam totalmente livres do tributo. Já quem recebe até R$ 7.350 teria um desconto parcial, pagando menos imposto no fim do mês.
Para quem sente o peso do leão todo ano, essa seria uma vitória e tanto.
Os bastidores: governo teme derrota simbólica
Nos corredores de Brasília, a sensação é que o governo não pode perder essa votação.
Se o projeto for rejeitado ou adiado de novo, a oposição terá um prato cheio para dizer que o governo não cumpre promessas e que não se preocupa com o bolso do trabalhador.
Por isso, ministros têm trabalhado para tentar convencer deputados da base a apoiar a proposta, mesmo com as divergências internas.
E se o texto mudar durante a votação?
Outro temor do governo é a chamada “emenda surpresa”.
Em votações polêmicas, é comum que deputados apresentem mudanças de última hora, forçando o governo a negociar correndo. Se alguém sugerir aumentar ainda mais a faixa de isenção, por exemplo, o governo ficaria sem saída: não poderia orientar contra, mas também não teria dinheiro para bancar a medida.
Eleições 2026: o fantasma que ronda Brasília
Por fim, tudo isso acontece sob a sombra das eleições de 2026.
Deputados e partidos já começam a pensar em suas estratégias para o próximo pleito. Apoiar uma proposta popular como a isenção do Imposto de Renda pode render votos. Mas, ao mesmo tempo, ninguém quer dar ao governo uma vitória política fácil.
Essa disputa de bastidores ajuda a explicar por que o clima anda tão pesado e por que ninguém sabe ao certo quando — ou se — a proposta será votada.
