O Bolsa Família, principal programa de transferência de renda do Brasil, passou por uma significativa redução no número de beneficiários em 2025. De acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social (MDS), 2 milhões de famílias deixaram de receber o benefício entre janeiro e outubro deste ano, sobretudo por causa do aumento da renda.
A saber, o número de contemplados caiu de 20,5 milhões em janeiro para 18,9 milhões em outubro, o menor patamar desde 2022. Ao mesmo tempo, o investimento federal destinado ao programa também recuou — de R$ 13,8 bilhões para R$ 12,88 bilhões mensais.
Bolsa Família deixa de pagar 2 milhões de beneficiários. O que de fato houve?
Segundo a Secretaria Nacional de Renda de Cidadania (Senarc), o aumento da renda das famílias foi o fator determinante para o desligamento em massa.
Das 2.069.776 famílias que deixaram o Bolsa Família em 2025:
- 1.318.214 tiveram aumento de ganhos no domicílio; 
- 24.763 pediram desligamento voluntário; 
- 726.799 concluíram o período da chamada Regra de Proteção. 
O MDS destacou, em nota, que a saída dessas famílias é um sinal de avanço social:
“Com o aumento da renda pela conquista de um emprego formal, pela abertura de um pequeno negócio ou pela melhora nas condições financeiras do domicílio, 2 milhões de famílias deixaram de receber o Bolsa Família entre janeiro e outubro de 2025”, informou o ministério.
O ministro Wellington Dias ressaltou que o programa tem atingido seu objetivo de melhorar a vida das pessoas mais pobres de maneira segura e sustentável, contribuindo para que elas conquistem independência financeira.

Relação com o mercado de trabalho formal
Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) confirmam que o crescimento do emprego formal está diretamente ligado à saída de beneficiários.
Das 1,7 milhão de vagas com carteira assinada criadas no Brasil em 2024, 98,8% foram preenchidas por pessoas inscritas no CadÚnico, e 1,27 milhão delas (ou 75,5%) eram beneficiárias do Bolsa Família.
Esse cenário reflete a melhora da empregabilidade entre as camadas mais vulneráveis, que agora passam a ter uma renda acima do limite permitido pelo programa.
Entenda a Regra de Proteção
A Regra de Proteção é uma medida que impede que famílias que melhoraram de vida percam o benefício de forma abrupta.
Ela garante a permanência no programa por até 12 meses mesmo após a renda ultrapassar o limite de entrada, desde que o valor não ultrapasse R$ 706 por pessoa.
Durante esse período, a família recebe 50% do valor do benefício original, incluindo os adicionais para crianças, adolescentes, gestantes e nutrizes.
Em outubro de 2025, cerca de 1,89 milhão de famílias estão nessa condição — recebendo metade do valor do benefício enquanto se consolidam financeiramente.
O MDS explica que a regra tem como objetivo evitar o efeito sanfona — quando famílias perdem o benefício por um aumento temporário de renda e voltam a depender dele pouco tempo depois.
Quem tem direito ao Bolsa Família
Para entrar ou permanecer no programa, as famílias precisam seguir regras específicas de renda, cadastro e condicionalidades sociais.
- Renda mensal por pessoa: até R$ 218. 
- Inscrição obrigatória no CadÚnico (Cadastro Único): deve estar atualizada a cada dois anos ou sempre que houver mudança na família. 
- Seleção pelo MDS: mesmo quem cumpre os critérios não entra automaticamente, já que o processo depende do orçamento disponível. 
O cadastro pode ser feito ou atualizado em um CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) do município, mediante apresentação de documentos de todos os integrantes da família.
Valores do benefício
O Bolsa Família é composto por um valor base e adicionais de acordo com a composição familiar.
- R$ 600,00 — valor mínimo por família; 
- R$ 150,00 — adicional por criança de até 6 anos; 
- R$ 50,00 — adicional por gestante ou lactante; 
- R$ 50,00 — adicional por criança ou adolescente de 7 a 18 anos; 
- R$ 50,00 — adicional por bebê de até 6 meses. 
Os pagamentos são realizados mensalmente pela Caixa Econômica Federal, em conta poupança social digital, com o calendário escalonado conforme o final do NIS (Número de Identificação Social).
Condicionalidades obrigatórias de saúde e educação
Além dos critérios de renda, as famílias devem cumprir compromissos de saúde e educação para continuar recebendo o benefício.
Saúde
- Crianças de 0 a 7 anos precisam estar com a vacinação em dia; 
- Gestantes devem realizar o acompanhamento pré-natal; 
- Lactantes (mães que amamentam) precisam passar por acompanhamento de saúde. 
Educação
- Crianças e adolescentes de 4 a 18 anos incompletos devem frequentar a escola regularmente: - 60% de frequência mínima para crianças de 4 e 5 anos; 
- 75% de frequência mínima para os demais estudantes. 
 
O descumprimento dessas exigências pode levar ao bloqueio temporário, suspensão ou cancelamento definitivo do benefício.
O que pode causar o cancelamento do Bolsa Família
O bloqueio ou cancelamento do Bolsa Família pode ocorrer por diferentes motivos, entre eles:
- Renda acima do limite: quando o rendimento por pessoa ultrapassa o teto de R$ 706; 
- Cadastro desatualizado: ausência de atualização no CadÚnico dentro do prazo; 
- Informações incorretas: divergências nos dados de renda ou composição familiar; 
- Descumprimento das condicionalidades: faltas na escola ou ausência em consultas médicas obrigatórias. 
O MDS realiza a verificação automática de informações por meio de cruzamento de dados entre cadastros federais, como CNIS (Cadastro Nacional de Informações Sociais) e RAIS (Relação Anual de Informações Sociais).
Como atualizar ou reingressar no programa
Famílias que tiveram o benefício cancelado podem solicitar reavaliação. O primeiro passo é atualizar o CadÚnicoem um CRAS, apresentando documentação pessoal (RG, CPF, comprovante de residência e de renda).
Se a renda per capita voltar a ser inferior a R$ 218, o sistema do MDS pode incluir novamente a família no programa de forma prioritária.
Para acompanhar a situação do benefício, o cidadão pode acessar o aplicativo Bolsa Família ou o app Caixa Tem, ambos disponíveis para Android e iOS.
Bolsa Família em 2025: foco na transição para o emprego formal
O governo federal tem destacado que o objetivo central do programa, neste momento, é incentivar a transição para a autonomia financeira.
Ao mesmo tempo em que reduz o número de dependentes diretos, o Bolsa Família mantém a proteção a quem mais precisa, com foco em crianças, gestantes e famílias em vulnerabilidade extrema.
Por fim, o aumento de renda e o ingresso no mercado formal são apontados como resultados positivos da política pública, segundo o MDS, e não como um problema.
Em nota, o órgão reafirmou:
“O Bolsa Família cumpre seu papel quando uma família conquista independência financeira. Nosso compromisso é garantir que, ao sair do programa, ela esteja preparada para seguir com dignidade e segurança econômica.”
 
			 
			
