Alerta! Beneficiários do Bolsa Família estão sendo expulsos do programa
A modernização do Cadastro Único (CadÚnico), lançada oficialmente em março de 2025, tem causado transtornos significativos para famílias de baixa renda em todo o país.
Anunciado como um avanço tecnológico que traria mais segurança e eficiência na gestão dos programas sociais, o novo sistema está provocando o efeito contrário em muitos municípios: o bloqueio e até o cancelamento de benefícios essenciais como o Bolsa Família, por causa da dificuldade de atendimento e atualização cadastral.
O que mudou com o novo CadÚnico
A principal mudança imposta pela modernização do CadÚnico foi a centralidade do CPF como dado primário de identificação, substituindo o tradicional NIS (Número de Identificação Social).
A alteração é fruto da Lei nº 14.534/2023, que unificou o CPF como número oficial de identificação em todos os registros de serviços públicos federais.
Com isso, todas as movimentações no CadÚnico — seja novo cadastro, atualização ou consulta — agora dependem da regularidade e validação do CPF junto a órgãos como a Receita Federal.
Embora o NIS ainda exista, sua emissão tem sofrido atrasos, o que afeta diretamente os recém-inscritos no sistema, que ficam sem acesso imediato aos benefícios.
Além da mudança no sistema, novas exigências burocráticas foram implementadas. Agora, é obrigatório apresentar documento oficial com foto de todos os membros da família, o que aumentou o tempo de análise dos cadastros e ampliou as filas nos postos de atendimento.
Crise no atendimento presencial
A realidade nos municípios brasileiros mostra que a infraestrutura pública não acompanhou a modernização tecnológica do sistema.
Em cidades como Juazeiro (BA) e Londrina (PR), moradores relatam longas filas, falta de funcionários e até ausência total de atendimento.
Um dos relatos mais emblemáticos vem de Juazeiro, onde uma beneficiária afirma estar tentando transferir seu Bolsa Família desde fevereiro. “Já fui ao local várias vezes e eles dizem que só posso ser atendida se agendar pelo site. Desde meia-noite estou tentando marcar e não tem vaga”, lamentou.
A Secretaria de Desenvolvimento Social da cidade (SEDES) informou que os agendamentos são liberados apenas duas vezes ao mês e se esgotam em poucas horas.
Em abril, por exemplo, as 1.200 vagas abertas no dia 14 acabaram rapidamente. O próximo agendamento está previsto apenas para o dia 30.
Em Londrina, a situação também é crítica. “Eles dizem que não tem gente para nos atender e nem sabem quando a agenda vai reabrir”, afirmou uma moradora ao blog de notícias local.
Muitos reclamam que, mesmo comparecendo pessoalmente aos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS), não conseguem atendimento ou sequer uma previsão.
Programas sociais suspensos
A atualização no CadÚnico continua sendo obrigatória a cada 24 meses, ou sempre que houver alteração nos dados da família, como endereço, composição ou renda.
Com a nova Lei nº 15.077/2024, o intervalo para convocação de atualização foi reduzido para 18 a 24 meses, o que aumentou ainda mais a demanda.
Diante da sobrecarga nos postos de atendimento, muitas famílias não conseguem atualizar o cadastro dentro do prazo e acabam perdendo o acesso ao Bolsa Família, Tarifa Social de Energia Elétrica, Auxílio Gás e até mesmo ao Benefício de Prestação Continuada (BPC).
A exclusão do sistema, em muitos casos, acontece automaticamente quando o cadastro expira sem renovação — mesmo que o beneficiário tenha tentado atendimento sem sucesso.
Atendimento ainda é presencial
Apesar das promessas de digitalização, o novo CadÚnico ainda exige comparecimento presencial. A inscrição ou atualização precisa ser feita diretamente com um entrevistador social.
Em áreas rurais e comunidades isoladas, os dados são coletados em campo por agentes equipados com tablets ou formulários manuais — mas essas informações ainda precisam ser processadas manualmente na base nacional.
Até o momento, não existe uma plataforma oficial que permita a atualização do cadastro via celular ou internet, o que deixa milhões de brasileiros dependentes da estrutura dos CRAS municipais.
Governo defende segurança e combate a fraudes
O Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS) defende o novo CadÚnico como um avanço importante na fiscalização e no combate a fraudes. Segundo o órgão, o sistema agora está mais seguro e interligado com bases como:
-
Receita Federal (monitoramento da renda);
-
Justiça Eleitoral (verificação de óbitos e domicílio);
-
Previdência Social (cruzamento de benefícios);
-
Carteira de Trabalho Digital (registro de vínculo empregatício);
-
E demais cadastros públicos federais.
Com isso, o governo espera melhorar a focalização dos benefícios, assegurando que o auxílio chegue a quem realmente precisa.
Problemas técnicos e exclusão indevida
Apesar das boas intenções, a nova versão do CadÚnico tem falhado em manter os dados atualizados com precisão. Muitos usuários relatam exclusões indevidas, erros no sistema, e até perda total do cadastro, mesmo após comparecerem aos postos de atendimento.
Em vários relatos, cidadãos afirmam que seus benefícios foram bloqueados mesmo com a tentativa de atualizar os dados.
O problema, segundo especialistas, está na combinação entre sistema sobrecarregado, falta de profissionais treinados e dependência do agendamento online — inacessível para muitos brasileiros que não possuem celular, internet ou conhecimento digital.
O que fazer se não conseguir atendimento
Para quem está enfrentando problemas para agendar atendimento ou já teve o benefício suspenso, o MDS orienta as seguintes ações:
-
Comparecer presencialmente ao CRAS ou posto do CadÚnico com todos os documentos exigidos:
-
CPF e RG de todos os membros;
-
Certidão de nascimento ou casamento;
-
Comprovante de residência atual;
-
Carteira de trabalho ou comprovante de renda.
-
-
Explicar a situação ao atendente e solicitar que seja feito um registro da tentativa de atendimento, mesmo que não seja possível o atendimento naquele momento.
-
Acompanhar os canais oficiais da prefeitura para novas aberturas de vagas de agendamento.
-
Em caso de bloqueio do Bolsa Família, buscar auxílio na Defensoria Pública ou acionar o Ministério Público, que podem intervir para garantir o acesso ao direito.
Prefeituras adotam soluções alternativas
Diante do caos instalado, algumas prefeituras começaram a adotar medidas paliativas para melhorar o atendimento:
-
Atendimento por ordem de chegada em dias específicos;
-
Distribuição de senhas presenciais diárias;
-
Ampliação do horário de funcionamento das unidades do CadÚnico;
-
Mutirões de atualização cadastral em bairros periféricos e comunidades.
No entanto, essas medidas ainda são insuficientes frente à demanda crescente. O sucesso da modernização dependerá da ampliação da capacidade de atendimento local e da criação de soluções digitais acessíveis à população mais pobre.