Com o maior crescimento de carteira entre os principais bancos de capital aberto, o Banco do Brasil (BBAS3) planeja manter sua trajetória ascendente no próximo ano.
A instituição identifica oportunidades de expansão em segmentos de maior margem, que embora apresentem riscos mais elevados, seguirá a estratégia de seus concorrentes Bradesco (BBDC4) e Itaú Unibanco (ITUB4), focando inicialmente em clientes já existentes com potencial de relacionamento subaproveitado.

O cartão de crédito será o principal instrumento dessa transformação estratégica, área em que o BB tem demonstrado crescimento modesto nos últimos dois anos.
No terceiro trimestre, registrou-se um aumento de apenas 0,8% em comparação ao mesmo período do ano anterior, alcançando R$ 54,806 bilhões, desempenho significativamente inferior ao da carteira de pessoas físicas (+7,9%).
Esta performance moderada foi resultado de uma decisão estratégica: após a crise da covid-19, os índices de inadimplência do produto aumentaram significativamente, especialmente entre clientes captados por canais digitais sem histórico prévio com o BB.
Este cenário espelhou a experiência de outros bancos tradicionais, porém o BB optou por interromper as concessões antecipadamente e levou mais tempo para retomar suas operações.
“Onde estamos para trás? Principalmente em cartões de crédito, o crescimento em cartões é um dos nossos focos principais para 2025“, afirmou o vice-presidente de Gestão Financeira e de Relações com Investidores do banco, Geovanne Tobias, em conversa com jornalistas nesta quinta.
Para o BB, expandir a carteira de cartões impacta positivamente duas fontes de receita: as margens com clientes e as rendas específicas de cartão, incluindo anuidades e tarifas de intercâmbio, repassadas pelos estabelecimentos aos bancos a cada transação realizada.
O aumento da carteira amplifica o volume de transações, incrementando essa receita sem necessidade de alocação adicional de capital.
A presidente do banco, Tarciana Medeiros, enfatizou durante a coletiva que essa estratégia de crescimento contempla também os efeitos da recente desestatização da Cielo, concluída este ano.
“Faz parte de uma estratégia mais completa, mais robusta”, destacou a executiva. De acordo com Medeiros, a instituição passou a enxergar o cartão não mais como um produto isolado, mas como um elemento integrado ao relacionamento global com os clientes.
O processo de reestruturação da carteira envolveu uma minuciosa análise dos acordos de emissão mantidos pelo BB com diversos parceiros, incluindo redes varejistas e companhias aéreas.
Um momento significativo foi a dissolução da parceria com a Ame, braço digital da Americanas, decisão consensual entre as partes e previamente divulgada pela Coluna do Broadcast.
“Esse produto tem uma rentabilidade associada pequena para o banco“, explicou Felipe Prince, vice-presidente de Controles Internos e Gestão de Riscos.
De olho nas margens do Banco do Brasil
Seguindo tendência similar à dos concorrentes, o BB tem procurado estratégias para expandir suas margens com clientes sem elevar significativamente os custos creditícios.
Esta abordagem representa uma constante no setor bancário, ganhando ainda mais relevância no atual contexto de juros elevados, que impacta a capacidade de pagamento dos clientes ao aumentar o custo do endividamento.
Neste contexto, o crédito consignado manterá sua posição estratégica na composição da carteira, com foco especial na expansão do segmento voltado aos trabalhadores do setor privado.
“A gente tem condições de continuar crescendo perto de 10% para o ano que vem e mantendo o controle dessa inadimplência na pessoa física estável”, afirmou Tobias durante teleconferência com analistas.
No terceiro trimestre, o BB registrou margem com clientes de R$ 20,8 bilhões, representando crescimento anual de aproximadamente 1%, reflexo da concentração em operações de menor risco.
“A margem com clientes foi sequencialmente mais forte (+5% em um trimestre) devido ao melhor mix de captação“, destacou a equipe do Goldman Sachs liderada por Tito Labarta.
Na margem com mercado, o banco registrou um expressivo aumento de 64,5% em comparação ao ano anterior, alcançando R$ 5,1 bilhões, embora tenha observado uma desaceleração trimestral nas contribuições do Patagonia, sua subsidiária argentina.
O principal fator negativo foi a marcação a mercado desfavorável de títulos, reflexo da instabilidade econômica do país vizinho.
