Banco Central prepara alerta no Pix para contas bloqueadas por suspeita de fraude e reacende debate sobre punição de CPFs usados em golpes
Nos próximos dias, o Banco Central (BC) promete dar um passo importante para aumentar a segurança no uso do Pix. A ideia é simples, mas poderosa: antes de você transferir dinheiro para alguém, o sistema vai avisar se aquela conta está bloqueada por suspeita de fraude.
Pode parecer um detalhe técnico, mas essa novidade pode evitar que milhares de brasileiros caiam em golpes todos os dias. Afinal, uma transferência Pix, como todo mundo sabe, cai na hora — e reaver esse dinheiro depois pode ser uma dor de cabeça quase impossível.
O alerta está em análise final e deve aparecer para o usuário de forma clara, mostrando que a chave consultada está ligada a uma conta bloqueada. Assim, a decisão de seguir com a transferência será sua, mas pelo menos com a informação necessária para não cair em armadilhas.
O motivo da pressa: o crescimento das fraudes com contas laranja
Nos últimos anos, um velho conhecido do sistema financeiro brasileiro ganhou força com o Pix: a chamada conta laranja.
Essas contas, muitas vezes abertas em nome de pessoas comuns — e, em alguns casos, sem o consentimento delas —, são usadas por criminosos para receber dinheiro de golpes aplicados pela internet.
O resultado? Quem cai no golpe envia dinheiro para uma conta aparentemente “normal”, mas que, na prática, está no nome de alguém que nem sabe que tem uma conta ali. É como se os criminosos usassem terceiros como escudo, dificultando a ação da polícia e dos bancos.
O Banco Central já percebeu que, para combater esse tipo de crime, precisa agir rápido. Daí vem a ideia do alerta no Pix: dar mais transparência antes da transação e evitar que o dinheiro caia diretamente nas mãos erradas.
Divergência dentro do Banco Central: punir ou não punir os CPFs?
Mas o alerta é só uma parte da história. Dentro do próprio Banco Central, existe uma discussão quente: o que fazer com os CPFs e CNPJs usados pelos criminosos?
De um lado, os bancos defendem uma posição dura: quem tem conta usada em golpes deveria ficar banido do sistema financeiro por até cinco anos. Seria como um castigo para desestimular esse tipo de prática.
Só que o Banco Central enxerga um problema aí. E ele não é pequeno: nem sempre o dono do CPF é culpado.
Muitas vítimas só descobrem que têm uma conta aberta em seu nome quando recebem a visita da polícia ou quando o banco bloqueia seus documentos. Criminosos usam dados pessoais roubados para abrir contas falsas — e, nesse caso, banir o titular seria como punir a vítima e não o criminoso.
Além disso, existe uma questão legal. Para impor uma penalidade desse tamanho, seria preciso uma base jurídica sólida, provavelmente com aprovação do Congresso Nacional. Sem isso, qualquer punição poderia ser questionada na Justiça.
A Resolução 501: um passo que já está valendo
Enquanto o debate sobre os CPFs continua, o Banco Central já colocou outra regra em prática: a Resolução 501, publicada na semana passada.
Essa norma exige que os bancos e instituições de pagamento usem todas as informações disponíveis para identificar e rejeitar transações suspeitas.
Na prática, significa que os sistemas de segurança dos bancos vão conversar ainda mais entre si, trocando dados para impedir que transações estranhas sejam concluídas.
Se o sistema perceber algo fora do comum — como transferências muito altas para contas recém-criadas —, o dinheiro pode ser bloqueado preventivamente até que tudo seja checado.
Essa regra, somada ao futuro alerta no Pix, mostra que o Banco Central está tentando equilibrar duas missões importantes:
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Proteger o cidadão de boa-fé que usa o Pix todos os dias;
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Fechar o cerco contra os criminosos que exploram o sistema para aplicar golpes.
Como vai funcionar o alerta no Pix na prática
Segundo informações de bastidores, o alerta deve aparecer logo depois que você inserir a chave Pix — seja ela CPF, e-mail, telefone ou chave aleatória.
Se a conta estiver bloqueada por suspeita de fraude, o sistema vai mostrar uma mensagem clara para o usuário. A partir daí, a decisão de seguir com a transferência será sua, mas com risco conhecido.
Esse mecanismo é parecido com os alertas de sites que avisam sobre possíveis golpes antes de você inserir dados de cartão de crédito ou informações pessoais.
No caso do Pix, a ideia é que o aviso funcione em tempo real, sem atrasar a transação, mas dando ao usuário a chance de pensar duas vezes antes de transferir dinheiro para uma conta suspeita.
A importância da transparência para o usuário
Para o Banco Central, o grande trunfo dessa novidade é dar poder de escolha ao usuário.
Hoje, muita gente só descobre que caiu em um golpe depois que o dinheiro já sumiu. Com o alerta, o cidadão passa a ter acesso a informações que, até então, ficavam restritas aos bancos e ao próprio BC.
Essa transparência é vista como fundamental para aumentar a confiança no sistema financeiro e reduzir as chances de que pessoas comuns sejam usadas como intermediárias sem saber.
Pix continua crescendo — e os criminosos também
Desde que foi lançado, em 2020, o Pix se tornou um sucesso absoluto no Brasil. Só em 2024, foram mais de 42 bilhões de transações realizadas pelo sistema.
Com tanta movimentação, não é surpresa que os criminosos tentem se aproveitar dessa popularidade. E é justamente por isso que o Banco Central vem ampliando as regras de segurança quase todo ano.
Primeiro foi o bloqueio preventivo, depois o Pix Noturno para limitar valores à noite, e agora o alerta para contas bloqueadas.
Cada medida adiciona uma camada de proteção, mas sem tirar a principal vantagem do Pix: a rapidez nas transferências.
O que esperar daqui para frente
Enquanto o alerta não entra em operação, o Banco Central deve continuar discutindo com os bancos as melhores formas de punir contas laranja sem atingir pessoas inocentes.
Ao mesmo tempo, a Resolução 501 já cria uma base mais robusta para que os sistemas de segurança sejam aprimorados e consigam identificar fraudes cada vez mais rápido.
A expectativa é que, com todas essas mudanças, o Brasil consiga reduzir a quantidade de golpes sem perder a praticidade que fez do Pix o meio de pagamento favorito dos brasileiros.