A péssima notícia que pode transformar a energia solar em um prejuízo para quem apostou na economia em casa com painéis fotovoltaicos
A promessa da energia solar sempre brilhou mais do que o sol de meio-dia. Economizar na conta de luz, gerar a própria eletricidade e ainda ajudar o planeta parecia o pacote completo. No entanto, a Medida Provisória nº 1.300/2025, sancionada em 17 de setembro, trouxe um banho de água fria para milhares de brasileiros que instalaram painéis solares pensando em cortar gastos.
A nova regra mexe justamente naquilo que mais atraía os consumidores: a compensação quase integral da energia gerada. Agora, as mudanças no setor elétrico colocam dúvidas sobre o real retorno desse investimento. E, para quem já desembolsou uma boa quantia para colocar o telhado para trabalhar, a sensação é de traição.
O que a Medida Provisória muda na prática?
Antes, todo quilowatt gerado a mais virava crédito integral para abater na conta de luz. Era como trocar figurinhas: você dava energia para a rede e recebia de volta sem desconto. Agora, a ANEEL tem sinal verde para incluir tarifas adicionais que vão além do consumo, cobrando pelo uso da rede de distribuição.
Essa novidade quebra a ideia de economia garantida. Afinal, mesmo produzindo energia, o consumidor terá que pagar uma parte pelo chamado “fio B”, aquele custo de usar a infraestrutura da rede.
O fio B: o vilão da economia solar
Para entender melhor, imagine que você faz um bolo e oferece um pedaço para o vizinho. Em troca, ele te dá ingredientes para o próximo bolo. No caso da energia solar, antes a troca era justa e sem custo. Agora, além de dar o pedaço, você ainda tem que pagar para usar o prato do vizinho.
Esse “prato” é justamente a rede elétrica. O fio B, que parecia distante, está cada vez mais presente na conta. Veja a evolução da cobrança:
Ano | Percentual cobrado sobre o fio B | Impacto na conta de luz |
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2024 | 30% | 8,1% |
2025 | 45% | 12,2% |
2026 | 60% (estimado) | 16,3% |
Isso significa que, mesmo quem investiu em energia solar, verá uma fatia da economia sendo engolida por essa cobrança.
O paradoxo: instalação mais barata, mas retorno menor
Um detalhe curioso é que o preço dos painéis solares está caindo. Em 2025, a redução foi de 7,5% no custo médio. Por exemplo:
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Sistema de 2 kWp: R$ 8.960
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Sistema de 4 kWp: R$ 14.720 (queda de 3% em junho/2025)
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Sistema de 8 kWp: R$ 26.080
Se por um lado o investimento inicial está mais acessível, por outro, a taxação crescente joga contra o retorno esperado. Estudos de 2025 mostram um payback médio de 3,2 anos para sistemas residenciais. Isso ainda é considerado rápido, mas o futuro pode alongar bastante esse prazo.
Como a indústria foi atingida
A MP 1.300/2025 não mexeu apenas no bolso dos consumidores residenciais. A indústria também sentiu o impacto. O aumento médio nos custos energéticos chegou a 20%, resultado de:
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Inclusão dos consumidores livres no rateio de despesas.
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Fim de subsídios tarifários.
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Retirada do desconto na tarifa-fio, que beneficiava grandes empresas de energia renovável.
Esse cenário pressiona a competitividade das indústrias, que já enfrentam altos custos no Brasil.
O mercado livre de energia: um sopro de alívio?
Apesar do peso para quem apostou na energia solar, a MP trouxe uma abertura interessante: mais pessoas poderão entrar no mercado livre de energia. Nesse modelo, o consumidor escolhe seu fornecedor, podendo negociar preços melhores.
Além disso, a medida prevê isenção na conta de luz para famílias de baixa renda, um alívio em meio à alta do custo de vida.
Ou seja, enquanto uns choram pelos créditos reduzidos da energia solar, outros podem comemorar a chance de pagar menos escolhendo de quem comprar energia.
O papel da ANEEL e da CCEE nesse novo jogo
A ANEEL ganhou mais poder para definir regras tarifárias. Isso significa que cada decisão da agência poderá influenciar diretamente no bolso de quem gera energia em casa. Já a CCEE, Câmara de Comercialização de Energia Elétrica, será responsável por gerir os contratos desse novo cenário.
As distribuidoras, por sua vez, terão que se reinventar. Vão precisar separar contratos e balanços, além de investir em tecnologia para acompanhar a evolução do mercado.
Por que essa mudança mexe tanto com o consumidor?
A energia solar virou símbolo de autonomia. As pessoas sentiram que estavam “se libertando” da dependência da conta de luz. Só que, agora, esse sentimento foi colocado em xeque. Afinal, de que adianta gerar energia se o retorno financeiro não é tão vantajoso?
E a frustração não é só econômica. Muitos consumidores se sentem enganados por terem investido em um modelo que, anos depois, foi redesenhado pelo governo.
O futuro da energia solar no Brasil
Mesmo com as mudanças, a energia solar não vai sumir do mapa. O Brasil tem grande potencial de irradiação solar e os custos de equipamentos continuam caindo. Porém, a atratividade econômica pode perder força se as tarifas seguirem aumentando.
Quem pensa em investir precisa considerar:
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Região: estados com tarifas de energia mais altas ainda tornam a energia solar vantajosa.
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Tamanho do sistema: quanto maior, maior o impacto da taxação.
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Tempo de uso da residência: quem não pretende ficar muito tempo no imóvel talvez não consiga recuperar o investimento.
Vale a pena investir em energia solar em 2025?
A resposta não é tão simples. Para algumas famílias, principalmente em regiões com sol abundante e tarifas caras, ainda compensa. Para outras, a conta pode não fechar mais como antes.
A grande lição da MP 1.300/2025 é que a economia não depende apenas do sol brilhando forte no telhado. Depende também das nuvens que o governo coloca no caminho.