
As Sereias da Vila, outrora campeonas brasileiras em 2017, enfrentam sua pior temporada na história em 2024.
Com apenas três jogos restantes no Campeonato Brasileiro Feminino, a equipe alvinegra se encontra na zona de rebaixamento, tendo poucas chances de evitar o primeiro descenso de sua trajetória.
Este cenário desolador contrasta drasticamente com as promessas de uma “reformulação por títulos” feitas pela nova gestão do clube apenas alguns meses atrás.
A redução do orçamento do futebol feminino do Santos em 12,76% de 2023 para 2024, uma diferença de mais de R$ 1,2 milhão, gerou sérias dificuldades no planejamento da equipe.
Essa diminuição de recursos, resultado do rebaixamento da equipe masculina à Série B, afetou não apenas a modalidade feminina, mas também o departamento de base de ambos os gêneros, que sofreu uma queda de 6% em seus recursos.
Diante desse cenário de escassez financeira, o ex-gerente de futebol feminino do Santos, Alessandro Rodrigues, foi convocado para participar da transição de gestão e elaborar um relatório com sugestões para lidar com as circunstâncias.
Ele alertou sobre a necessidade de manter as atletas sob contrato, tentar reverter algumas saídas e definir rapidamente o comando do departamento e da comissão técnica, pois essas decisões impactariam diretamente o processo decisório de muitas jogadoras.
A Montagem Problemática do Elenco do Santos
Apesar das advertências de Rodrigues, a montagem do elenco não foi liderada pelas novas coordenadoras, Thaís Picarte e Aline Xavi, mas sim por Modesto Roma Jr., ex-presidente do Santos, que exercia um cargo extraoficial no departamento até recentemente.
Ele foi responsável por indicar e aprovar os nomes das 17 jogadoras contratadas, além de opinar nas escalações das partidas.
Essa atitude de Modesto gerou desconforto em Cássio Richter, então diretor oficial do departamento, que chegou a pedir dispensa do cargo por sentir que exercia uma atividade “meramente decorativa”.
Segundo Richter, Modesto era visto como uma espécie de “consultor” do departamento, cuja vasta experiência era constantemente consultada pela equipe.
A Crise Interna e as Polêmicas
A situação conturbada no Santos Feminino se agravou ainda mais com a polêmica recontratação do técnico Kleiton Lima, acusado de assédio moral e sexual por jogadoras do antigo elenco.
Mesmo após as denúncias, a diretoria, supostamente com a aprovação de Modesto Roma, decidiu recontratá-lo, gerando uma onda de protestos em campo por parte de outras equipes e repercussão internacional.
Segundo a ex-coordenadora das categorias de base das Sereias, Sandra Santos, o retorno de Kleiton Lima foi um “golpe duro” para o clube, impactando negativamente o psicológico das atletas. Ela ressalta que esse tipo de decisão deveria ter sido melhor planejada, evitando expor as jogadoras a tal constrangimento.
O Elenco Limitado e os Problemas Técnicos
Após a polêmica envolvendo Kleiton Lima, o Santos contratou Glaucio Carvalho como novo técnico na tentativa de conter os danos. Glaucio conseguiu criar um ambiente mais “acolhedor” no vestiário, com o apoio de uma psicóloga que trabalhou na retomada da confiança das atletas.
No entanto, os problemas técnicos da equipe logo se evidenciaram. Embora tenham conseguido bons resultados no Campeonato Paulista, as Sereias têm enfrentado grandes dificuldades no Campeonato Brasileiro Feminino, onde ocupam a zona de rebaixamento com apenas sete pontos em 12 jogos.
O próprio presidente do Santos, Marcelo Teixeira, reconheceu que o atual elenco não está “à altura das tradições das Sereias da Vila”, sinalizando a necessidade de reforços para melhorar o desempenho da equipe.
A Dispensa da Psicóloga e a Luta pela Permanência
Diante da recaída de resultados no Brasileirão, o trabalho da psicóloga Sonia Roman também passou a ser contestado, levando à sua dispensa há cerca de uma semana.
Segundo a própria Sonia, houve um “esfriamento” com a psicologia, com rumores de que as jogadoras, o técnico e alguns funcionários a consideravam desnecessária.
Apesar das dificuldades, o ex-gerente de futebol feminino do Santos, Alessandro Rodrigues, ainda acredita na permanência da equipe na Série A1.
Ele ressalta que, independentemente do desfecho, é preciso ter “lucidez suficiente” para entender que o desenvolvimento do futebol feminino é um caminho sem volta, e que o clube deve investir o necessário para retornar ao lugar de destaque que sua grandeza exige.