A queda dramática no INSS: por que os empréstimos consignados aos aposentados despencaram após exigência de biometria

Nos últimos meses, um movimento silencioso começou a mudar o comportamento de milhões de aposentados e pensionistas. A queda brusca na liberação de novos empréstimos consignados chamou a atenção de economistas, bancos e do próprio governo.

Por trás dessa redução está uma mudança que promete redefinir o mercado de crédito consignado no Brasil: a exigência de biometria para liberar as operações. O Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) decidiu agir após constatar um número preocupante de reclamações sobre contratos que os beneficiários afirmavam não reconhecer.

Essa nova fase traz mais segurança — mas também revela os impactos de um sistema que, por anos, funcionou com pouca verificação.

Por que o INSS mudou as regras do consignado

O empréstimo consignado é uma modalidade de crédito com desconto direto em folha de pagamento. Por isso, ele sempre foi considerado o tipo de empréstimo mais seguro para bancos e um dos mais vantajosos para o consumidor, devido às taxas de juros reduzidas.

No entanto, a facilidade de contratação abriu brechas para fraudes. Uma auditoria da Controladoria-Geral da União (CGU), no início de 2024, já alertava para falhas graves no sistema. O relatório recomendava maior acompanhamento das operações e transparência na comunicação com os segurados.

Mesmo com os alertas, as mudanças só chegaram meses depois, em maio de 2025, quando o INSS implementou novas medidas de controle — inclusive a exigência de biometria facial obrigatória via aplicativo Meu INSS.

Suspensão de bancos e bloqueio temporário de operações

Além da biometria, o INSS decidiu bloquear temporariamente novas contratações até ajustar seus sistemas e revisar as práticas das instituições financeiras.

A ação resultou na suspensão de 15 bancos e financeiras, que ficaram impedidos de oferecer consignado aos aposentados e pensionistas. Segundo o órgão, essas empresas acumulavam um histórico de reclamações sobre cobranças indevidas, contratos não autorizados e assédio comercial excessivo.

A lista de suspensões inclui bancos de médio porte e financeiras especializadas em crédito consignado, responsáveis por grande parte dos contratos entre idosos e o sistema bancário.

O impacto imediato: queda de mais da metade nas contratações

Os números mostram o tamanho do efeito. Em 2024, o valor médio de novos contratos de consignado girava em torno de R$ 8,5 bilhões por mês. Esse patamar se manteve até o início de 2025, mas, a partir de maio, as liberações despencaram para menos de R$ 4 bilhões mensais.

A explicação é simples: o novo processo de autenticação tornou as operações mais lentas e burocráticas, afastando tanto os bancos quanto os próprios beneficiários, que ainda enfrentam dificuldades para usar os canais digitais.

Mesmo assim, o INSS defende que a queda nas contratações é um reflexo positivo — um sinal de que as fraudes estão sendo contidas.

Biometria e segurança: a nova era do crédito consignado

De agora em diante, o aposentado ou pensionista só poderá contratar um empréstimo após confirmar a identidade com biometria facial. O processo deve ser feito no aplicativo Meu INSS, por meio de validação no gov.br.

Segundo o presidente do INSS, Gilberto Waller Júnior, a intenção é reforçar a segurança e evitar que terceiros façam empréstimos em nome do beneficiário. Ele afirmou que o órgão trabalha para implementar uma dupla verificação, exigindo também o nível ouro ou prata do gov.br para concluir o processo.

“O crédito consignado precisa de ajustes para garantir que quem contrata é, de fato, o titular do benefício. Estamos buscando alternativas que mantenham a segurança sem dificultar o acesso dos segurados”, destacou Waller.

INSS
INSS. Imagem: Reprodução

Ideia em estudo: confirmação obrigatória do titular

Uma das medidas em análise pelo INSS é a confirmação direta do empréstimo pelo próprio beneficiário. Ou seja, o desconto só seria autorizado depois que o titular confirmasse, via aplicativo ou central de atendimento, que reconhece e aceita o contrato.

Essa etapa extra busca eliminar um dos problemas mais comuns relatados pelos aposentados: empréstimos que “aparecem” no extrato sem que o beneficiário tenha assinado nada.

“Não cabe ao INSS decidir se o segurado quer ou não o contrato, mas precisamos ter certeza de que a vontade expressa é verdadeira”, explicou Waller.

As novas regras do consignado em 2025

O cenário de 2025 trouxe também atualizações nas taxas e limites definidos pelo Conselho Nacional de Previdência Social (CNPS). Em março, o conselho aprovou o aumento do teto de juros e reafirmou as margens permitidas para contratação.

Taxas e limites vigentes:

  • Teto de juros do empréstimo consignado: 1,85% ao mês

  • Teto de juros do cartão consignado: 2,46% ao mês

  • Margem consignável: até 35% do valor do benefício, com acréscimo de 5% exclusivo para cartão de crédito

Outras regras importantes:

  • Carência de 90 dias: Desde janeiro de 2025, quem começa a receber um benefício precisa esperar três meses antes de contratar ou portar um consignado.

  • Proibição para incapazes: Pessoas sob tutela ou com deficiência mental só podem contratar empréstimos com autorização judicial, medida válida desde agosto de 2025.

  • Monitoramento reforçado: O INSS passou a suspender preventivamente operações em instituições sob investigação, especialmente as com alto volume de reclamações.

O peso da dívida no bolso do aposentado

Mesmo com taxas de juros reduzidas, o crédito consignado pode comprometer parte significativa da renda. Por isso, especialistas reforçam a importância de planejar antes de contratar.

O planejador financeiro Leonardo Gomes alerta que o consumidor deve avaliar o Custo Efetivo Total (CET) da operação, que inclui juros, taxas administrativas e outros encargos.

“O aposentado precisa entender o impacto da parcela no orçamento mensal. Mesmo com desconto direto em folha, a dívida pode comprometer gastos essenciais se não for bem planejada”, explica Gomes.

Ele lembra ainda que o limite de desconto de 35% é o máximo permitido, mas não o ideal: “O recomendado é não ultrapassar 20% da renda mensal líquida com dívidas”.

O papel dos bancos e a pressão do mercado

Para as instituições financeiras, a nova exigência de biometria alterou completamente o modelo de negócios. Antes, muitas operações eram feitas por meio de correspondentes bancários ou até por telefone. Agora, com a validação digital obrigatória, as margens de lucro diminuíram e o volume de contratos despencou.

Fontes do setor afirmam que há uma pressão crescente sobre o governo para flexibilizar as regras ou permitir sistemas híbridos, como a confirmação via senha do gov.br.

Por outro lado, o INSS argumenta que a prioridade é proteger o segurado, e não ampliar o crédito a qualquer custo. O objetivo, segundo o órgão, é “limpar” o sistema antes de retomar o crescimento.

Fraudes, golpes e a importância da verificação

As medidas adotadas pelo INSS não surgiram por acaso. O número de golpes envolvendo aposentados cresceu significativamente entre 2023 e 2024, especialmente com o avanço das fraudes digitais.

Criminosos se passavam por funcionários de bancos e induziam os idosos a fornecer dados pessoais, abrindo empréstimos em seus nomes. Em muitos casos, as vítimas só percebiam o golpe quando viam descontos no benefício mensal.

Com a nova política de biometria e confirmação dupla, o INSS espera reduzir drasticamente esse tipo de fraude, que além de causar prejuízo financeiro, gera um enorme desgaste emocional nos beneficiários.

Como contratar com segurança em 2025

Mesmo com as novas regras, o crédito consignado continua disponível e pode ser uma opção útil em casos de necessidade. No entanto, alguns cuidados são indispensáveis:

  • Pesquise e compare taxas: Mesmo com o teto definido, as condições variam entre bancos.

  • Desconfie de ofertas por telefone: O INSS nunca entra em contato oferecendo crédito.

  • Use apenas canais oficiais: O aplicativo Meu INSS e o site gov.br são os únicos meios seguros para verificar margens e contratos.

  • Evite contratar por terceiros: Correspondentes bancários devem estar credenciados ao Banco Central.

  • Planeje o orçamento: Lembre-se de que as parcelas são descontadas automaticamente e podem comprometer a renda mensal.

Um mercado em transição

O crédito consignado do INSS vive um momento de transição. O que antes era visto como um produto de acesso fácil e juros baixos se tornou alvo de maior controle, autenticação digital e auditorias permanentes.

Se por um lado isso trouxe burocracia, por outro fortaleceu a proteção ao consumidor — e pode inaugurar uma nova fase em que a tecnologia se torna aliada da segurança financeira.

Saulo Moreira

Saulo Moreira

Saulo Moreira dos Santos é um profissional comprometido com a comunicação e a disseminação de informações relevantes. Formado em Ciências Contábeis pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Com mais de 15 anos de experiência como redator web, Saulo se especializou na produção de artigos e notícias sobre temas de grande interesse social, incluindo concursos públicos, benefícios sociais, direitos trabalhistas e futebol.