A cada ano, quando o calendário se aproxima do fim, uma velha dúvida volta a pairar sobre os brasileiros: teremos ou não o horário de verão? Em 2025, essa pergunta voltou a ganhar força, reacendendo debates entre economistas, ambientalistas e milhões de cidadãos. A resposta, no entanto, veio de forma definitiva — o governo decidiu que não haverá horário de verão em 2025.
Mas o que parece uma simples decisão sobre ajustar ou não o relógio vai muito além disso. Essa escolha reflete uma mudança de comportamento do país, uma nova forma de pensar o uso da energia, o ritmo das cidades e até a saúde da população. Entender o que está por trás dessa decisão pode revelar como o Brasil está se adaptando a um novo modelo de eficiência energética e organização social.
Por que o governo decidiu não adotar o horário de verão em 2025
Segundo o Ministério de Minas e Energia, a principal razão para a não retomada do horário de verão está na mudança no perfil de consumo energético dos brasileiros.
Há alguns anos, o horário de verão ajudava a reduzir o uso de energia elétrica no horário de pico — normalmente entre 18h e 21h —, aproveitando a luz natural por mais tempo. Contudo, com a popularização de lâmpadas de LED, painéis solares e sistemas inteligentes de distribuição, a economia de energia se tornou praticamente insignificante.
Além disso, o aumento do uso de aparelhos de ar-condicionado e eletrodomésticos durante os dias mais quentes acabou compensando o ganho obtido pela luz natural. Na prática, segundo estudos recentes da EPE (Empresa de Pesquisa Energética), a diferença no consumo total não justifica mais a mudança de horário.
Como a ausência do horário de verão impacta a rotina dos brasileiros
Embora pareça apenas uma questão de ajustar o relógio, a decisão afeta diretamente a rotina de milhões de pessoas. A ausência do horário de verão muda o funcionamento de empresas, escolas e até do transporte público.
Para trabalhadores e empresas
O horário de trabalho tende a se manter mais estável, sem a necessidade de adaptação a novos turnos. Isso pode significar mais previsibilidade e menor impacto fisiológico, já que muitas pessoas sofriam com o ajuste de uma hora no sono e na alimentação.
Empresas de setores que dependem fortemente da sincronia com outras regiões — como aviação, telecomunicações e logística — também ganham em padronização de horários, evitando confusões entre estados.
Para estudantes e escolas
Em muitas regiões, o horário de verão alterava o ciclo escolar, com alunos saindo de casa ainda no escuro. A decisão de manter o horário padrão o ano todo traz maior segurança no deslocamento e facilita a gestão do transporte escolar.

Para o comércio e serviços
Lojas e centros comerciais, que antes se beneficiavam de mais horas de luz natural, poderão precisar ajustar estratégias de atendimento. A ausência do horário estendido exige maior planejamento no consumo de energia e iluminação, especialmente em regiões com dias mais curtos.
E os serviços essenciais? O impacto na energia e na economia
Uma das maiores justificativas para o horário de verão sempre foi o equilíbrio no consumo de energia elétrica. Porém, o cenário atual mostra uma realidade diferente.
Consumo de energia
A economia obtida com o antigo horário de verão já foi relevante — chegava a 4% em períodos de pico, no início dos anos 2000. Hoje, esse índice não ultrapassa 0,3%, segundo dados do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico).
Com a modernização do sistema energético brasileiro, o uso de fontes renováveis, como solar e eólica, e a gestão automatizada de redes elétricas tornaram o horário de verão uma medida obsoleta em termos de economia.
Mercado de energia
Para o setor energético, a decisão representa um desafio de planejamento. As empresas precisam monitorar o aumento da demanda nos horários críticos, mas contam com ferramentas mais precisas de controle e previsão.
Além disso, o avanço dos sistemas fotovoltaicos — painéis solares instalados em residências e empresas — tem reduzido a dependência de energia da rede durante o dia, suavizando o impacto do consumo nas horas mais quentes.
O que muda para o transporte e para a vida nas cidades
O transporte público é um dos setores que mais sente o reflexo da mudança. Sem o horário de verão, a iluminação natural da manhã e do fim de tarde altera a percepção de segurança e mobilidade urbana.
Em capitais como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, onde o fluxo de trabalhadores é intenso, os horários de pico permanecem os mesmos, mas o trânsito tende a ser mais previsível, já que não há necessidade de reprogramar semáforos, cronogramas de metrô e linhas de ônibus.
Já em cidades turísticas e litorâneas, o impacto é percebido no comércio e lazer. Sem o prolongamento do dia, bares, restaurantes e atrações ao ar livre tendem a receber menos público no fim da tarde, o que pode afetar a economia local.
Os efeitos sobre o corpo e o bem-estar
Pesquisas apontam que o horário de verão sempre dividiu opiniões também por motivos de saúde. A mudança repentina de uma hora no relógio pode interferir no relógio biológico das pessoas, afetando o sono, o apetite e até a concentração.
Com o cancelamento da medida, especialistas destacam benefícios diretos para o bem-estar, especialmente entre idosos e crianças, que têm maior sensibilidade a mudanças de rotina.
Por outro lado, quem gostava dos dias mais longos e aproveitava a luz solar para atividades físicas e lazer pode sentir falta desse tempo extra de claridade no fim da tarde.
Uma decisão que reflete novas prioridades
A escolha de não retomar o horário de verão em 2025 vai além da questão energética. Ela representa uma mudança na forma como o país enxerga eficiência e sustentabilidade.
O governo aposta em soluções tecnológicas e estruturais — como a expansão das energias renováveis, o incentivo à economia solar e o uso de redes inteligentes — para garantir equilíbrio entre produção, consumo e conforto da população.
Ao mesmo tempo, a decisão também reduz custos administrativos, elimina confusões em horários de voos, eventos e transmissões televisivas, e reforça o compromisso do país com padrões internacionais de horário e operação.
O futuro do horário de verão no Brasil
Apesar da decisão atual, o debate sobre o horário de verão está longe de terminar. Com o aumento da demanda energética e os desafios climáticos, o tema pode voltar à pauta nos próximos anos, especialmente se houver mudanças no comportamento de consumo.
Por enquanto, o governo garante que não há planos de reintrodução da medida até 2026, mas mantém estudos técnicos em andamento. O objetivo é acompanhar os efeitos dessa decisão no cotidiano dos brasileiros e no desempenho do sistema elétrico.
Enquanto isso, o país segue com seus relógios ajustados ao tempo natural — um reflexo de uma nova era em que tecnologia, sustentabilidade e rotina caminham lado a lado.
