Nos bastidores de um dos órgãos mais importantes do país, um alerta começa a soar com força. Relatórios internos e ofícios encaminhados ao governo federal revelam que a estrutura do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) enfrenta uma crise silenciosa — e potencialmente explosiva — em meio a cortes e bloqueios orçamentários recentes. A reportagem é do jornal VEJA.
A saber, o que parecia apenas um ajuste fiscal pode, na prática, colocar em risco o funcionamento de serviços básicos e até mesmo o pagamento de benefícios a milhões de brasileiros.
O problema ganhou força após medidas do próprio governo que, segundo o órgão, comprimiram ainda mais uma estrutura já sobrecarregada. Por trás dos números bilionários da Previdência, há uma batalha por recursos que ameaça a estabilidade do sistema e evidencia o peso fiscal do INSS sobre o orçamento nacional.
Verbas do INSS: o gigante bilionário do orçamento federal
Em 2025, o orçamento do INSS alcançou R$ 1,037 trilhão, o maior valor já destinado ao órgão desde sua criação. Esse montante corresponde à maior fatia do Orçamento da União, refletindo a importância e o impacto da Previdência Social nas contas públicas.
Do total, R$ 1,029 trilhão estão reservados para pagamento de benefícios previdenciários, como aposentadorias, pensões e auxílios. O crescimento foi de 9% em relação a 2024, evidenciando o aumento natural de gastos com envelhecimento populacional, reajustes e expansão da cobertura social.
Ainda assim, mesmo com cifras astronômicas, o instituto afirma enfrentar um estrangulamento operacional causado pelo bloqueio de verbas discricionárias — aquelas destinadas à manutenção, contratos e serviços complementares.
Bloqueio de verbas e cortes afetam funcionamento do INSS
De acordo com documentos encaminhados ao Ministério da Previdência, o INSS alertou oficialmente que o bloqueio e a redução de recursos determinados pelo governo Lula (PT) agravaram a situação financeira do órgão.
Entre as medidas que mais causaram impacto está o contingenciamento de R$ 190 milhões dos R$ 455 milhõesoriginalmente previstos para o processamento de dados e pagamento de benefícios. Essa retirada compromete diretamente o funcionamento do sistema que processa a folha de milhões de aposentadorias e pensões todos os meses.
Outra portaria reduziu o limite de movimentação financeira do INSS até o fim do ano, o que, segundo o próprio instituto, impede o pagamento de despesas contratadas e a emissão de novos empenhos.
Com a limitação orçamentária, o órgão teme não conseguir manter contratos básicos — entre eles, o serviço prestado pelos Correios, essencial para atendimento e ressarcimento de aposentados vítimas de descontos indevidos e fraudes.
Correios e fraudes: contrato sob risco
O contrato com os Correios, que prevê o pagamento de R$ 7,90 por atendimento, foi criado para agilizar o ressarcimento de beneficiários que tiveram descontos irregulares em seus benefícios. O sistema serve de apoio a milhares de aposentados que enfrentam o drama dos empréstimos consignados fraudulentos.
Sem o reforço orçamentário, o INSS afirma que o acordo pode ser interrompido, o que deixaria milhões de idosos sem assistência imediata. Em meio às investigações da CPI do INSS, que apura justamente os descontos indevidos, a falta de verba expõe um paradoxo: o governo tenta combater fraudes, mas o corte de recursos inviabiliza as ações práticas de solução.
Pedido urgente de reforço financeiro
Para evitar um colapso administrativo, o INSS encaminhou um pedido de reforço orçamentário de R$ 425 milhões, além de requerer:
Desbloqueio de R$ 142 milhões já retidos;
Antecipação do limite de movimentação e empenho de outros R$ 217 milhões.
Segundo o instituto, sem esses recursos será impossível manter o funcionamento adequado dos sistemas, realizar pagamentos de fornecedores e manter contratos em execução.
Em nota enviada ao Ministério da Previdência, o INSS alertou que pode acabar assumindo dívidas sem respaldo orçamentário, o que pode levar à responsabilização de gestores pelo Tribunal de Contas da União (TCU).
Risco de atraso nos pagamentos e colapso nos serviços
Embora o pagamento das aposentadorias e pensões seja prioridade legal, o próprio INSS reconhece que o bloqueio pode afetar a operação do sistema de folha, responsável por processar os repasses. Qualquer falha nesse sistema colocaria em risco o calendário mensal de pagamentos — algo inédito na história recente da Previdência.
Além disso, programas complementares e serviços digitais, como meu INSS e o atendimento remoto de perícias médicas, já sofrem com lentidão e instabilidade. Técnicos alertam que, sem o desbloqueio, o tempo médio de resposta e o acúmulo de filas tendem a crescer nas próximas semanas.
Em outubro de 2025, o próprio INSS suspendeu programas de redução de filas por falta de orçamento, aumentando ainda mais a pressão sobre o órgão.
CPI do INSS e crise de confiança
Enquanto enfrenta problemas financeiros, o instituto também é alvo da CPI do INSS no Congresso Nacional. A comissão investiga descontos irregulares em benefícios e falhas na fiscalização de consignados.
Com a paralisação parcial de contratos e a falta de estrutura, servidores alertam que a apuração das fraudes também pode ser prejudicada. Parlamentares de oposição já pedem a convocação do ministro da Previdência, Carlos Lupi, para explicar os impactos do bloqueio orçamentário sobre o funcionamento da autarquia.
Pressão sobre o governo e impacto político
A crise financeira do INSS reacende o debate sobre a sustentabilidade fiscal do sistema previdenciário. Apesar do orçamento trilionário, quase toda a verba vai para pagamento de benefícios, sobrando menos de 0,5% para a manutenção da estrutura administrativa.
O crescimento do déficit previdenciário pressiona o Ministério da Fazenda, que tenta cumprir metas de resultado primário, ao mesmo tempo em que enfrenta resistências políticas para liberar novos créditos.
Nos bastidores, auxiliares do Planalto admitem que o bloqueio de verbas faz parte de uma estratégia temporária de contenção, mas reconhecem que o efeito colateral sobre o INSS pode ser mais grave do que o previsto.
O futuro incerto da Previdência em 2025
Com o aumento constante dos gastos e o envelhecimento acelerado da população, o desafio do INSS vai além da crise momentânea. Especialistas apontam que, sem uma revisão estrutural do modelo de financiamento, o sistema poderá enfrentar novas turbulências nos próximos anos.
Mesmo com R$ 1,037 trilhão em caixa, a Previdência Social opera no limite da capacidade fiscal. Cada bloqueio, cada portaria e cada contingenciamento representam não apenas ajustes técnicos, mas decisões políticas com impacto direto na vida de milhões de brasileiros.
**Com informações do Jornal Veja.