Bolsa Família atinge o menor número de beneficiários desde 2022: veja por que 2,7 milhões de famílias saíram do programa

A cada mês, milhões de famílias brasileiras aguardam o calendário de pagamentos do Bolsa Família como uma garantia mínima de sustento. No entanto, algo mudou de forma significativa em 2025.
De forma silenciosa, o número de beneficiários do programa federal começou a cair, mês após mês, até atingir — em outubro — o menor patamar em mais de três anos.

O dado, que parece apenas mais uma estatística social, acendeu um alerta tanto dentro do governo quanto entre especialistas em políticas públicas. Afinal, por que o programa social mais importante do país perdeu quase 3 milhões de famílias em menos de dois anos?

A queda mais expressiva desde 2022

De acordo com dados oficiais do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social (MDS), o Bolsa Família contemplou 18,91 milhões de famílias em outubro de 2025.

É o menor número desde julho de 2022, quando o país ainda operava sob o formato do antigo Auxílio Brasil.

Em comparação ao início do governo Lula, o número atual representa uma redução de 2,7 milhões de beneficiários. O dado chama atenção porque, apesar da diminuição dos cadastros ativos, o orçamento total do programa cresceu. Em outubro, foram injetados R$ 12,88 bilhões na economia nacional.

A força da reavaliação cadastral

O principal motivo da queda é a revisão automatizada dos cadastros iniciada em março de 2025.

O novo sistema implementado pelo governo cruza informações do Cadastro Único (CadÚnico) com bases de dados da Receita Federal, do INSS e de outros órgãos federais.

Segundo o MDS, o objetivo é impedir fraudes e pagamentos indevidos, eliminando beneficiários que já não atendem aos critérios de renda ou composição familiar.

Na prática, a revisão levou ao desligamento de milhares de famílias com renda per capita acima do limite de R$ 218ou que não atualizaram seus dados dentro do prazo.
Além disso, houve casos de cancelamento automático de cadastros duplicados e inconsistentes.

O efeito dominó da exclusão

A redução dos beneficiários não foi uniforme em todo o país.

O impacto foi mais forte nas regiões Nordeste e Sudeste, que perderam 1,1 milhão de famílias cada.
No Norte, a redução foi de 159,4 mil, enquanto o Sul registrou queda de 181,4 mil e o Centro-Oeste, de 157,4 mil.

Mesmo com essa redução, o Nordeste continua sendo o coração do programa, com 8,8 milhões de famílias beneficiadas.

Na sequência, vêm o Sudeste (5,3 milhões), o Norte (2,5 milhões), o Sul (1,3 milhão) e o Centro-Oeste (994 mil).

Especialistas apontam que parte da diminuição pode estar ligada à melhoria da renda familiar em alguns municípios, impulsionada pelo crescimento do emprego formal.

Mas a falta de transparência sobre os critérios de corte ainda gera críticas de setores da sociedade civil.

Comparativo mês a mês mostra tendência clara

O número de famílias contempladas mostra uma queda constante desde o início de 2025:

Mês / 2025Famílias Beneficiadas
Janeiro20,48 milhões
Fevereiro20,55 milhões
Março20,50 milhões
Abril20,48 milhões
Maio20,40 milhões
Junho20,40 milhões
Julho19,60 milhões
Agosto19,10 milhões
Setembro19,07 milhões
Outubro18,91 milhões

O quadro evidencia uma tendência clara: a cada novo ciclo, dezenas de milhares de famílias deixam o programa.

Em apenas quatro meses, o total de beneficiários caiu em mais de 700 mil, o que reforça o peso do processo de verificação cadastral.

Redução no valor total investido

O impacto também aparece nas contas públicas. O investimento mensal do governo com o Bolsa Família recuou em relação ao primeiro semestre.

Veja a evolução dos gastos:

Mês / 2025Valor Investido (R$ bilhões)
Janeiro13,8
Fevereiro13,8
Março13,6
Abril13,6
Maio13,6
Junho13,6
Julho13,1
Agosto12,8
Setembro12,9
Outubro12,88

O orçamento anual do programa é de R$ 160 bilhões, mas as projeções indicam que o governo deve fechar o ano abaixo da meta inicial, justamente pela redução de famílias aptas a receber o benefício.

A média por família aumentou — e isso explica o paradoxo

Apesar da queda no número de beneficiários, o valor médio do benefício cresceu.

Em outubro, cada família recebeu R$ 683,42, o que representa um aumento de 256% desde 2019, quando a média era inferior a R$ 200.

Esse aumento é resultado da reformulação do programa, que adicionou novos benefícios complementares, como:

  • Benefício Primeira Infância: R$ 150 por criança de até 6 anos.

  • Benefício Variável Familiar: R$ 50 para gestantes e jovens de 7 a 18 anos.

  • Benefício Extraordinário de Transição (BET): complemento para garantir que ninguém receba menos do que recebia no antigo Auxílio Brasil.

Na prática, mesmo com menos famílias inscritas, o custo total do programa não diminuiu na mesma proporção — e o valor médio subiu.

Mudanças nas regras do Bolsa Família em 2025

O novo regulamento do programa trouxe ajustes importantes. Entre as principais alterações estão:

  1. Redução do limite de renda per capita: agora, famílias com renda superior a R$ 218 por pessoa são excluídas.

  2. Verificação automatizada de dados: uso de inteligência artificial e cruzamento de informações com bases federais.

  3. Maior fiscalização em tempo real: famílias que não atualizarem o CadÚnico a cada 24 meses correm risco de bloqueio.

  4. Critério de composição familiar: inclusão de novos parâmetros para identificar cadastros sobrepostos ou inconsistentes.

Essas medidas aumentaram a precisão das análises, mas também elevaram o número de exclusões automáticas, inclusive de famílias que alegam ter sido cortadas injustamente.

Governo defende rigor como forma de justiça social

O Ministério do Desenvolvimento Social tem reforçado que a reavaliação cadastral não tem caráter punitivo, mas sim de ajuste e eficiência.

Segundo o órgão, o foco é garantir que o benefício chegue a quem realmente precisa.

Em comunicado recente, o MDS afirmou que mais de 1 milhão de novos cadastros estão em análise, o que pode reverter parte da queda até o fim do ano.

O governo também pretende ampliar o número de atendimentos presenciais nos CRAS, facilitando a regularização dos cadastros bloqueados.

Benefício continua essencial para 40 milhões de brasileiros

Mesmo com a redução no total de famílias, o programa ainda atinge mais de 40 milhões de pessoas em todo o país.

Para muitas delas, o Bolsa Família representa a principal — e às vezes única — fonte de renda mensal.

O valor médio de R$ 683,42 é suficiente para cobrir despesas básicas, como alimentação e gás de cozinha, especialmente em municípios de menor renda per capita.

Ainda assim, especialistas alertam que a retirada de milhões de beneficiários pode ampliar desigualdades regionais, sobretudo no Nordeste.

Calendário de pagamentos de outubro

O pagamento do Bolsa Família de outubro de 2025 segue o cronograma escalonado conforme o final do Número de Identificação Social (NIS).

Os depósitos começaram no dia 18 e seguem até 31 de outubro, diretamente pelo aplicativo Caixa Tem ou nas agências da Caixa Econômica Federal.

Final do NISData de Pagamento
118 de outubro
221 de outubro
322 de outubro
423 de outubro
524 de outubro
625 de outubro
728 de outubro
829 de outubro
930 de outubro
031 de outubro

Aqueles que tiveram o benefício bloqueado ou cancelado podem consultar a situação do cadastro pelo aplicativo Bolsa Família ou CadÚnico, além de buscar atendimento no CRAS mais próximo.

Panorama geral do Bolsa Família em 2025

O ano de 2025 tem sido marcado por fortes ajustes no programa social.

A combinação entre rigidez cadastral, corte de beneficiários e revisão do orçamento mostra uma tentativa do governo de equilibrar as contas públicas sem abrir mão da proteção social.

Contudo, os números revelam uma realidade: o Bolsa Família encolheu, mas o desafio da pobreza permanece.

Enquanto o governo busca eficiência, milhões de famílias ainda dependem desse auxílio para sobreviver — e cada atualização no CadÚnico pode significar o fim ou a continuidade de um sustento essencial.

Saulo Moreira

Saulo Moreira

Saulo Moreira dos Santos, 29 anos, é um profissional comprometido com a comunicação e a disseminação de informações relevantes. Formado em Ciências Contábeis pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB), em Salvador, descobriu sua verdadeira vocação na escrita e na criação de conteúdo digital.Com mais de 15 anos de experiência como redator web, Saulo se especializou na produção de artigos e notícias sobre temas de grande interesse social, incluindo concursos públicos, benefícios sociais, direitos trabalhistas e futebol. Sua busca por precisão e relevância fez dele uma referência nesses segmentos, ajudando milhares de leitores a se manterem informados e atualizados.Além de sua atuação como redator, Saulo tem uma paixão genuína pela escrita e pelo desenvolvimento de conteúdos de qualidade. Seu objetivo é tornar a informação acessível, transformando temas burocráticos e cotidianos em leituras claras e objetivas.Sempre atento às mudanças no cenário digital, Saulo continua aprimorando suas habilidades e expandindo sua atuação, buscando novas formas de impactar positivamente a vida das pessoas por meio da informação.