Aposentadoria do INSS em risco? Nova reforma da Previdência em 2027 pode cortar direitos, aumentar idade mínima e reduzir benefícios abaixo do salário mínimo no Brasil

Se tem algo que o brasileiro já aprendeu na marra é que quando o assunto é Previdência Social, nada está garantido para sempre. Foi assim em 2019, quando milhões de segurados foram pegos de surpresa pela reforma que mudou regras de idade, tempo de contribuição e cálculos de benefício. Agora, o filme parece prestes a se repetir: já se fala em uma nova reforma da Previdência para 2027, e os rumores não são nada animadores.
Entre os pontos mais polêmicos, estão propostas que podem:
-
Aumentar a idade mínima de aposentadoria para 67 anos, tanto para homens quanto para mulheres.
-
Desvincular benefícios do salário mínimo, permitindo que aposentadorias e pensões fiquem abaixo do piso nacional.
-
Rever regras diferenciadas de trabalhadores expostos a riscos e de pessoas com deficiência.
A sensação é de déjà vu: de novo, o trabalhador se vê diante de possíveis cortes e mudanças que podem atrasar ou reduzir seu benefício.
Idade mínima de 67 anos para se aposentar pelo INSS?: realidade ou exagero?
Hoje, a idade mínima estabelecida pela reforma de 2019 é de 62 anos para mulheres e 65 para homens. Mas as discussões para 2027 já levantam a possibilidade de subir para 67 anos para ambos os sexos.
A justificativa? A expectativa de vida do brasileiro cresceu, e a conta da Previdência não fecha. O problema é que essa lógica ignora a realidade: não é todo trabalhador que chega saudável aos 67 anos. Pense no pedreiro, na empregada doméstica ou no trabalhador rural — atividades extremamente desgastantes e com alta taxa de adoecimento precoce.
Para a advogada previdenciária Tais Santos, segundo materia do site Click Petróleo e Gás, isso é preocupante:
“Aumentar a idade mínima significa jogar para mais longe o sonho de se aposentar. Muitos sequer chegarão a usufruir do benefício”, alerta.
Benefícios abaixo do salário mínimo: um retrocesso histórico
Outro ponto explosivo do debate é a ideia de desvincular os benefícios do salário mínimo. Hoje, aposentadorias e pensões não podem ser menores que o piso nacional (atualmente em R$ 1.412).
Se a proposta avançar, o cenário pode mudar radicalmente. Imagine uma aposentadoria de R$ 800 ou R$ 900 para quem contribuiu a vida toda. Isso significaria uma quebra do pacto social firmado na Constituição de 1988, que garante dignidade mínima aos segurados.
Para especialistas, esse seria um dos maiores retrocessos da história da Previdência. Afinal, milhões de famílias dependem exclusivamente desse valor para sobreviver.
Fim das regras diferenciadas para grupos especiais
Hoje, trabalhadores expostos a agentes nocivos — como químicos, ruído excessivo ou atividades perigosas — e pessoas com deficiência têm direito a requisitos reduzidos de tempo ou idade para se aposentar.
A possível reforma discute acabar com essas aposentadorias especiais, alegando que a medida gera “gastos extras” para o INSS. Mas, na prática, significaria ignorar desigualdades históricas do mercado de trabalho.
“Se um trabalhador passa a vida respirando poeira tóxica ou carregando peso excessivo, não é razoável exigir que ele trabalhe até os 67 anos”, explica Tais Santos.
Impacto direto na vida dos segurados
Se aprovadas, as novas regras podem representar um verdadeiro terremoto na vida dos brasileiros. Os impactos seriam múltiplos:
-
Redução da renda familiar – benefícios menores (abaixo do salário mínimo) colocariam milhões em risco de pobreza.
-
Acesso mais distante – com idade mínima elevada, muitos não conseguiriam se aposentar.
-
Exclusão social – grupos vulneráveis, como pessoas com deficiência, seriam diretamente atingidos.
-
Desigualdade regional – em estados com expectativa de vida menor, como no Norte e Nordeste, a reforma seria ainda mais cruel.
O discurso oficial: equilíbrio fiscal
O governo e organismos internacionais, como o Banco Mundial, defendem que a medida seria necessária para garantir o equilíbrio das contas públicas. A narrativa é simples: o Brasil gasta demais com aposentadorias, e a população está envelhecendo rápido.
Mas, segundo especialistas, quem sempre acaba pagando a conta é o trabalhador.
“Toda vez que se fala em reforma, se fala em cortar direitos do segurado. Ninguém discute cortar privilégios de altos salários ou rever renúncias fiscais”, critica a advogada Tais Santos.
A pressa pode evitar prejuízos
Uma lição de 2019 ainda ecoa: quem correu para pedir aposentadoria antes da aprovação da reforma conseguiu escapar das regras mais duras. Quem esperou, se deu mal.
Por isso, muitos advogados recomendam que quem já tem condições de se aposentar não espere. O planejamento previdenciário virou um escudo contra surpresas desagradáveis.
Esse planejamento inclui:
-
Verificar o tempo de contribuição já registrado.
-
Conferir possíveis pendências no CNIS (Cadastro Nacional de Informações Sociais).
-
Simular diferentes cenários de aposentadoria.
O jogo político e os interesses por trás
Não se pode esquecer que toda reforma da Previdência é também um jogo político. A de 2019, por exemplo, foi aprovada sob forte pressão do mercado financeiro e com a justificativa de que “o Brasil quebraria sem mudanças”.
Agora, a movimentação se repete. Grupos econômicos já defendem publicamente a revisão das regras para cortar gastos. A pergunta que fica é: até que ponto o discurso do equilíbrio fiscal serve como cortina de fumaça para retirar direitos?
O medo do futuro
Enquanto 2027 ainda parece distante, para muitos trabalhadores a sensação é de urgência. Quem está perto da aposentadoria teme que, se não agir agora, pode acabar preso em regras muito mais duras.
O cenário, de fato, é de incerteza. Mas se há algo claro é que a Previdência nunca está 100% garantida. E é exatamente essa insegurança que mobiliza especialistas, sindicatos e trabalhadores a acompanhar cada passo das discussões.