Economia

PIX Parcelado vai beneficiar milhares de brasileiros, mas possui esse alerta de risco

Todo mundo já se acostumou a usar o PIX para pagar a pizza, transferir aquele dinheiro para o amigo ou até mesmo fazer compras no comércio. É rápido, fácil e, principalmente, gratuito. Mas o Banco Central quer dar um passo além: até o fim do mês, deve sair a regulamentação oficial do PIX Parcelado, uma versão turbinada que promete permitir compras de maior valor, pagas aos poucos, direto pelo PIX.

Parece ótimo, não é? Só que tem um detalhe: diferente do PIX tradicional, que não cobra nada, o PIX Parcelado entra no mundo do crédito, com juros, impostos e, claro, risco de dívidas. Bancos, fintechs e até entidades de defesa do consumidor estão de olho nesse lançamento — uns com entusiasmo, outros com a pulga atrás da orelha.

Como vai funcionar o PIX Parcelado na prática

De acordo com a Febraban (Federação Brasileira de Bancos), o PIX Parcelado será disponibilizado apenas para quem já tem linha de crédito pré-aprovada no banco. Funciona mais ou menos assim:

  • Você compra um celular novo por R$ 2.000.

  • O lojista recebe o valor integral na hora, via PIX.

  • Você paga para o banco em parcelas, com juros e condições definidas na hora da contratação.

O diretor-adjunto da Febraban, Walter Faria, resumiu: “A pessoa já tem uma linha de crédito no banco. O PIX Parcelado só vai ser mais uma forma de usar essa linha, com pagamento feito em parcelas.”

Ou seja, o PIX em si continua gratuito, mas, ao parcelar, você estará entrando em um contrato de crédito, sujeito a taxas, IOF e análise de risco.

Quem poderá usar e quais critérios serão avaliados

Não é todo mundo que vai poder chegar na loja e sair parcelando tudo com PIX. Os bancos vão avaliar:

  • Score de crédito

  • Histórico de pagamentos

  • Tempo de relacionamento com a instituição

  • Renda comprovada

Com isso, a expectativa do Banco Central é ampliar o acesso ao crédito, especialmente para os cerca de 60 milhões de brasileiros que não têm cartão de crédito.

Mas, atenção: se o seu nome está sujo ou se você já tem dívidas no cartão, dificilmente vai conseguir taxas boas — e talvez nem seja aprovado.

PIX Parcelado x cartão de crédito: qual a diferença?

Pode parecer que o PIX Parcelado é igualzinho ao cartão de crédito, mas há diferenças:

  1. Forma de pagamento: no cartão, você paga a fatura todo mês; no PIX Parcelado, o débito é direto na conta ou via boleto digital.

  2. Juros e IOF: no cartão, parcelar compras muitas vezes é sem juros; no PIX, dificilmente será.

  3. Aceitação: qualquer loja que aceita PIX pode, em teoria, oferecer o parcelamento, sem depender de maquininhas de cartão.

Na prática, é uma espécie de “carnê digital”, mas bem mais caro que os antigos carnês das lojas.

O alerta do Idec: Risco de confusão e endividamento

O Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) está preocupado com o PIX Parcelado. Para a entidade, o uso da marca “PIX” pode confundir os consumidores.

O PIX nasceu como política pública para democratizar os pagamentos. Transformá-lo em um canal de crédito sem regras claras pode colocar em risco essa conquista”, afirmou o Idec em nota.

O medo é que muita gente pense que está apenas fazendo uma transferência parcelada, sem perceber que está contratando um empréstimo com juros.

Quanto vai custar parcelar pelo PIX?

Eis a pergunta que todo mundo quer saber.

Embora o Banco Central ainda não tenha divulgado os detalhes, especialistas afirmam que as taxas podem chegar a 2% ao mês, sem contar o IOF e eventuais tarifas administrativas.

O diretor do Braza Bank, Marcelo Sá, explicou:

“Os bancos precisam ser remunerados pelo risco que assumem. Então haverá cobrança de juros, sim. A diferença é que o CET (Custo Efetivo Total) terá de ser informado de forma clara para o cliente.”

Ou seja: nada de letrinhas miúdas escondendo taxas abusivas. Pelo menos, é o que promete a regulamentação.

Quem deve usar mais o PIX Parcelado

A economista Carla Beni, da FGV, aponta três grupos que devem ser os principais usuários:

  1. Quem não tem cartão de crédito: para compras maiores, como eletrodomésticos, o PIX Parcelado será uma alternativa aos carnês antigos.

  2. Quem já tem cartão: mas vai comparar as taxas entre cartão e PIX, escolhendo a opção mais barata.

  3. Quem estourou o limite do cartão: e vê no PIX Parcelado uma saída para ter crédito extra.

Mas a economista faz um alerta:

“O cartão de crédito já é campeão em inadimplência. Se o PIX Parcelado não tiver limites bem definidos, pode aumentar o endividamento das famílias.”

Inadimplência no Brasil: um cenário preocupante

Dados do Ministério da Fazenda mostram que o rotativo do cartão de crédito responde por 60,5% da inadimplência de pessoas físicas em julho de 2025.

Ou seja, a maioria das dívidas está ligada justamente ao uso do crédito parcelado com juros altos. E são as famílias de baixa renda as mais afetadas, pois costumam pagar taxas mais caras e têm menos acesso a linhas de crédito mais baratas, como o consignado.

O receio é que o PIX Parcelado aumente esse problema, oferecendo mais uma forma de crédito para quem já está endividado.

O que o Idec recomenda para evitar abusos

Para reduzir os riscos, o Idec sugere que o Banco Central:

  • Evite usar a marca PIX para o serviço de crédito, criando outro nome.

  • Exija contratos claros e transparentes, sem letrinhas miúdas.

  • Defina limites de crédito proporcionais à renda do cliente.

  • Ative o serviço apenas por iniciativa do usuário, e não de forma automática.

  • Realize consulta pública, para ouvir consumidores e especialistas antes da implementação.

A ideia é garantir que o consumidor não caia em armadilhas financeiras disfarçadas de facilidade digital.

O que esperar da regulamentação do Banco Central

O Banco Central ainda não deu todos os detalhes, mas a promessa é que a regulação traga padronização, clareza nas taxas e mais segurança jurídica para consumidores e lojistas.

Enquanto isso, bancos e fintechs já se preparam para oferecer o serviço assim que receberem o sinal verde. Para eles, o PIX Parcelado pode ser uma mina de ouro, já que amplia o mercado de crédito para milhões de brasileiros.

Mas, como sempre, crédito fácil vem com um aviso: quanto mais simples for pegar, mais caro pode sair no final.

Saulo Moreira

Saulo Moreira dos Santos, 29 anos, é um profissional comprometido com a comunicação e a disseminação de informações relevantes. Formado em Ciências Contábeis pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB), em Salvador, descobriu sua verdadeira vocação na escrita e na criação de conteúdo digital. Com mais de 15 anos de experiência como redator web, Saulo se especializou na produção de artigos e notícias sobre temas de grande interesse social, incluindo concursos públicos, benefícios sociais, direitos trabalhistas e futebol. Sua busca por precisão e relevância fez dele uma referência nesses segmentos, ajudando milhares de leitores a se manterem informados e atualizados.… Mais »
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