A busca por alternativas menos invasivas no tratamento da artrite acaba de ganhar um novo capítulo. Pesquisadores de universidades renomadas, incluindo a Universidade de Utah e Stanford, nos Estados Unidos, anunciaram a descoberta de um método simples, acessível e sem efeitos colaterais para aliviar a dor causada pela osteoartrite do joelho, uma das doenças crônicas mais comuns entre adultos.
Segundo o estudo publicado no portal SciTechDaily, o segredo está em algo aparentemente banal: a forma de caminhar.
O que é o “retreinamento da marcha”?
A técnica, batizada de retreinamento da marcha, consiste em ajustar levemente o ângulo do pé durante a caminhada. Essa mudança, ainda que sutil, reduz a pressão sobre a articulação do joelho, diminuindo a dor e retardando o desgaste da cartilagem.
Os pesquisadores destacam que os voluntários que adotaram o novo padrão de caminhada relataram redução significativa da dor, em níveis comparáveis ao uso de analgésicos e anti-inflamatórios.
Além dos relatos subjetivos, exames de imagem mostraram que a cartilagem apresentou deterioração mais lenta em comparação ao grupo de controle, que continuou caminhando da forma habitual.
Uma alternativa promissora à cirurgia e aos medicamentos
A osteoartrite é frequentemente tratada com medicamentos para controle da dor e inflamação. Em casos mais graves, muitos pacientes acabam precisando de cirurgias de substituição da articulação, como a prótese de joelho.
Porém, o retreinamento da marcha surge como uma opção não invasiva e de baixo custo, que pode beneficiar milhões de pessoas que convivem com a artrite por décadas antes da necessidade de uma intervenção cirúrgica.
“Se conseguirmos introduzir esse método de forma acessível, ele poderá mudar completamente a forma como lidamos com a artrite nos próximos anos”, afirmaram os autores do estudo.
O impacto da artrite no Brasil
No Brasil, a situação é alarmante. De acordo com o Ministério da Saúde, mais de 15 milhões de brasileiros convivem com algum grau de osteoartrite. A doença está entre as principais causas de afastamento do trabalho e de procura por fisioterapia no SUS.
Na cidade de São Paulo, por exemplo, a artrite está entre os motivos mais comuns de encaminhamento para reabilitação em unidades de saúde pública.
Com o envelhecimento da população e o aumento da expectativa de vida, especialistas alertam que os casos tendem a crescer nas próximas décadas, aumentando a pressão sobre o sistema de saúde.
Como funciona na prática?
O método ainda não está disponível em clínicas de forma padronizada, mas os testes realizados mostraram que basta uma leve mudança no posicionamento do pé ao andar para redistribuir a carga no joelho.
Isso reduz a sobrecarga na cartilagem já fragilizada e permite que o paciente caminhe com menos dor, preservando a função da articulação por mais tempo.
No futuro, os cientistas acreditam que o processo poderá ser simplificado com o uso de sensores em calçados inteligentes ou até por meio de aplicativos de celular, capazes de monitorar e orientar os pacientes em tempo real.
O que dizem os especialistas?
Médicos e fisioterapeutas brasileiros veem o estudo com entusiasmo, mas ressaltam que a técnica ainda precisa de mais pesquisas para ser incorporada de forma ampla.
“É uma descoberta muito promissora, porque mostra que pequenas mudanças comportamentais podem ter grande impacto na qualidade de vida do paciente. Porém, ainda é cedo para abandonar os tratamentos convencionais”, explica a fisioterapeuta Carolina Lima, especialista em reabilitação ortopédica.
Ela ressalta que a técnica pode ser especialmente útil para pacientes entre 30 e 50 anos, faixa etária em que a doença começa a se manifestar e evolui ao longo dos anos, muitas vezes levando à necessidade de cirurgia.
Perspectivas para o futuro
Se comprovada em larga escala, a técnica de retreinamento da marcha poderá ser incorporada aos protocolos clínicos de tratamento da artrite, oferecendo uma alternativa mais acessível e sustentável.
Além disso, empresas de tecnologia já demonstram interesse em desenvolver calçados inteligentes que possam ajudar no processo de ajuste da caminhada, indicando ao usuário se está aplicando corretamente a técnica.
Essa integração entre ciência médica e tecnologia pode transformar a forma como doenças crônicas, como a artrite, são tratadas no futuro.
Considerações finais
A descoberta de que mudar a forma de caminhar pode aliviar a dor da artrite abre caminho para uma nova abordagem no tratamento da osteoartrite. Simples, acessível e sem efeitos colaterais, o método pode se tornar uma alternativa real a medicamentos e cirurgias.
Enquanto mais pesquisas são conduzidas, milhões de pacientes ao redor do mundo podem vislumbrar uma solução menos invasiva e mais natural para conviver com a doença.
Seja com orientação médica, fisioterapia ou até com auxílio de tecnologia no futuro, o retreinamento da marcha tem potencial para ser um divisor de águas na luta contra a artrite.
