O cheiro humano é algo tão natural que muitas vezes passa despercebido. No entanto, para algumas pessoas, o odor corporal parece mais marcante, peculiar ou até “diferente” do que o de outras. Essa diferença não é apenas uma percepção subjetiva: a ciência confirma que existem múltiplos fatores biológicos, genéticos e ambientais que influenciam o odor de cada pessoa.
Embora a higiene pessoal e hábitos diários influenciem fortemente o cheiro, eles não explicam tudo. Estudos recentes mostram que genética, microbioma, alimentação e até hormônios desempenham papéis importantes na forma como cheiramos.
Genética: o DNA por trás do odor
Um dos fatores mais influentes no cheiro corporal é a genética. Pesquisadores descobriram que variações em determinados genes afetam a composição química do suor e das secreções corporais.
Um exemplo notável é o gene ABCC11, que determina se uma pessoa terá suor axilar com odor mais intenso ou não. Pessoas com uma variante específica desse gene produzem menos ácido graxo no suor, o que resulta em odor menos perceptível. Curiosamente, essa variante é mais comum em populações do Leste Asiático, o que explica por que muitas pessoas nessa região têm cheiro corporal mais discreto.
Além disso, genes relacionados ao sistema imunológico também influenciam o odor. Pesquisas sugerem que o Complexo Principal de Histocompatibilidade (MHC), que ajuda a identificar invasores no organismo, altera a química corporal de forma que parceiros em potencial possam perceber diferenças sutis no cheiro, influenciando a atração entre pessoas.
Microbioma: os pequenos responsáveis pelo seu cheiro
O corpo humano é habitado por trilhões de microrganismos — bactérias, fungos e outros — que vivem na pele, boca e intestinos. Esse microbioma desempenha um papel fundamental na formação do odor corporal.
O suor, por si só, é quase inodoro. O cheiro surge quando bactérias presentes na pele metabolizam compostos do suor, produzindo substâncias voláteis. Algumas pessoas possuem uma maior diversidade de bactérias produtoras de odor, enquanto outras têm predominância de microrganismos menos odoríferos.
Isso explica por que, mesmo com higiene regular, algumas pessoas parecem “cheirar diferente”. Não é apenas uma questão de lavar mais ou menos, mas de química corporal natural.
Hormônios e alterações fisiológicas
Hormônios também têm grande influência sobre o odor corporal. Alterações hormonais podem tornar o cheiro mais intenso ou alterar sua qualidade, especialmente durante:
Puberdade: aumento da atividade das glândulas sudoríparas apócrinas.
Ciclo menstrual: pequenas mudanças hormonais podem modificar o odor.
Gravidez: mudanças hormonais afetam o microbioma da pele e a composição do suor.
Menopausa: alterações hormonais podem levar a odores diferentes devido a mudanças no metabolismo.
Além disso, hormônios do estresse, como o cortisol, podem alterar a química do suor, fazendo com que o corpo libere compostos que algumas pessoas percebem como odor mais forte ou distinto.
Alimentação e estilo de vida
A dieta é outro fator determinante. Certos alimentos podem alterar o cheiro corporal, incluindo:
Alho e cebola: contêm compostos sulfurados que são liberados pelo suor.
Especiarias fortes: curry e pimenta podem modificar o odor corporal.
Carne vermelha: estudos sugerem que dietas ricas em carne podem aumentar a intensidade do cheiro do suor.
Álcool e tabaco: podem causar odores específicos devido à metabolização pelo corpo.
Além disso, atividade física intensa aumenta a produção de suor e, consequentemente, a metabolização pelos microrganismos da pele, tornando o cheiro mais perceptível.
Doenças e condições médicas
Em alguns casos, alterações no odor corporal podem indicar problemas de saúde. Algumas condições conhecidas incluem:
Diabetes descompensada: pode causar cheiro frutado ou cetônico no suor e na respiração.
Doenças hepáticas ou renais: podem gerar odores característicos na pele ou no hálito.
Infecções bacterianas ou fúngicas: aumentam odores específicos devido à proliferação microbiana.
Distúrbios metabólicos raros: como a trimetilaminúria, conhecida como “síndrome do peixe podre”, que provoca odor corporal intenso e desagradável.
Esses exemplos mostram que o cheiro humano vai muito além de higiene pessoal: é um reflexo do funcionamento interno do corpo.
Fatores psicológicos e sociais
Curiosamente, o odor corporal também pode afetar e ser afetado pelo comportamento humano. Pesquisas em psicologia evolutiva sugerem que o cheiro pode:
Influenciar atração sexual, já que pessoas tendem a se sentir mais atraídas por cheiros compatíveis com seu sistema imunológico.
Gerar percepções sociais, pois o odor corporal pode afetar como alguém é percebido em contextos de proximidade.
Atuar como sinal de saúde ou bem-estar, subconscientemente indicando equilíbrio fisiológico.
Portanto, a percepção de que alguém “cheira diferente” nem sempre é negativa: muitas vezes é apenas uma manifestação natural de identidade biológica.
O que a ciência ainda busca entender
Apesar dos avanços, ainda há muito a aprender sobre odor humano. Cientistas estudam como o microbioma, genética, dieta e hormônios interagem para produzir uma assinatura química única em cada indivíduo.
Estudos recentes incluem:
Análise do microbioma cutâneo para entender variações de cheiro entre pessoas.
Mapeamento genético para identificar genes que influenciam odores corporais e atração social.
Impacto de produtos cosméticos e desodorantes sobre o microbioma e a percepção de cheiro.
Essa pesquisa não apenas amplia o conhecimento sobre biologia humana, mas também pode ajudar em diagnósticos precoces de doenças e na personalização de produtos de higiene e perfumaria.
