A notícia pegou muita gente de surpresa: uma das maiores e mais tradicionais fábricas de chocolate do Brasil decretou falência, encerrando quase 90 anos de história. A Chocolates Pan, responsável por ícones como Moedinhas, Cigarrinhos de Chocolate (mais tarde rebatizados como Chocolápis) e Paulistinha, encerrou suas atividades em 2023, após enfrentar uma grave crise financeira que se arrastava desde 2017.
A indústria, fundada em 1935 em São Caetano do Sul (SP), acumulava dívidas superiores a R$ 260 milhões e não resistiu à combinação de custos elevados, concorrência acirrada e queda nas vendas. A falência marca o fim de uma das marcas mais queridas do setor, mas também abre caminho para um novo capítulo no mesmo endereço: a Cacau Show arrematou a antiga fábrica e já anunciou que ali será construído um parque temático dedicado ao universo do chocolate.
O leilão que definiu o destino da Chocolates Pan
A Justiça de São Paulo determinou a falência da Chocolates Pan e autorizou o leilão de seus ativos, que foi dividido em duas etapas.
1. Imóvel e maquinário
A Cacau Show comprou o terreno e a antiga planta industrial por R$ 71 milhões, valor 33% acima do lance mínimo estipulado. O pacote incluía máquinas com mais de 50 anos de uso e que fizeram parte da história da marca.
2. Marcas registradas
As 37 marcas da Chocolates Pan — incluindo Moedinhas de Chocolate, Chocolápis e Paulistinha — foram arrematadas em março de 2024 pela Real Solar, empresa do Rio Grande do Norte, por R$ 3,1 milhões, após disputa que contou com 25 propostas.
O valor total arrecadado no leilão será utilizado para quitar parte das dívidas da empresa com credores e ex-funcionários.
A fábrica que fez parte da infância de milhões
Poucas marcas conseguiram criar uma ligação emocional tão forte com os consumidores quanto a Chocolates Pan. Ao longo de quase nove décadas, seus produtos se tornaram sinônimo de infância e nostalgia.
O Cigarrinho de Chocolate, que mais tarde passou a se chamar Chocolápis por questões éticas e sanitárias, marcou gerações com sua embalagem divertida e sabor inconfundível. Outros clássicos, como as Moedinhas embaladas em papel dourado e o chocolate Paulistinha, fizeram parte das prateleiras de mercearias e supermercados em todo o país.
Para muitos, a falência da Pan significa mais do que o fechamento de uma fábrica: representa o fim de uma parte da memória afetiva de quem cresceu nos anos 80, 90 e 2000.
A crise que levou ao fechamento
Apesar de seu legado, a Chocolates Pan vinha enfrentando dificuldades desde 2017. Entre os problemas estavam:
Passivos trabalhistas elevados, acumulados ao longo dos anos;
Queda nas vendas, pressionadas pela concorrência de grandes multinacionais e novas marcas artesanais;
Aumento no custo das matérias-primas, especialmente cacau e açúcar;
Mudanças no comportamento do consumidor, que passou a buscar chocolates premium ou opções mais saudáveis.
Mesmo após tentar uma recuperação judicial, a empresa não conseguiu reverter o cenário negativo. O fechamento definitivo foi decretado pela Justiça em 2023.
O futuro: Cacau Park e o turismo do chocolate
Se para a Chocolates Pan o capítulo se encerra, para a Cacau Show ele está apenas começando. Segundo o fundador da rede, Alê Costa, o espaço será transformado em um parque temático do chocolate chamado Cacau Park, com investimento estimado em R$ 2 bilhões.
O projeto prevê:
Atrações interativas sobre a história do chocolate;
Experiências sensoriais para visitantes;
Áreas lúdicas para crianças e famílias;
Cenografia temática que homenageia a indústria nacional.
Parte dos equipamentos da antiga fábrica da Pan já foi utilizada emergencialmente após um incêndio atingir uma unidade da Cacau Show no Espírito Santo.
A expectativa é que o Cacau Park se torne um novo polo turístico no ABC paulista, atraindo visitantes de todo o Brasil e reforçando a ligação emocional do público com o chocolate.
E as marcas da Pan?
A Real Solar, que adquiriu as 37 marcas registradas da Chocolates Pan, ainda não revelou seus planos para produtos como Moedinhas e Chocolápis.
Especialistas do setor acreditam que existe um potencial enorme para o relançamento desses produtos, apostando na força da nostalgia. Marcas que remetem à infância têm grande apelo emocional e podem voltar ao mercado com embalagens retrô ou receitas aprimoradas.
O que a falência da Pan revela sobre o mercado de chocolate no Brasil
O caso da Chocolates Pan é um retrato dos desafios que empresas tradicionais enfrentam no Brasil. Mesmo marcas fortes e queridas pelo público não estão imunes a:
Concorrência globalizada;
Pressão de preços de matérias-primas;
Mudanças nos hábitos de consumo;
Custos trabalhistas e tributários elevados.
Para sobreviver, muitas empresas do setor precisaram inovar no portfólio, investir em marketing digital e explorar experiências de marca — algo que a Cacau Show, por exemplo, tem feito com sucesso.
Um adeus com sabor de lembrança
A falência da Chocolates Pan deixa uma lacuna no mercado e no coração dos consumidores. Ainda que a marca possa voltar pelas mãos da nova proprietária das patentes, a atmosfera da antiga fábrica e seu papel na história do chocolate brasileiro não serão facilmente reproduzidos.
Enquanto isso, o endereço que um dia foi símbolo da produção de chocolates populares se prepara para ganhar uma nova vida como destino turístico. Entre o fim de uma era e o começo de outra, fica a certeza de que o chocolate continua sendo capaz de unir memórias, histórias e pessoas.