Em um mundo onde o custo de vida segue aumentando, o salário mínimo se torna cada vez mais crucial para garantir o básico à população. No entanto, em alguns países, esse valor está muito distante de cobrir despesas essenciais como alimentação, transporte, moradia e saúde. Nesta reportagem, listamos os 8 países com os piores salários mínimos do mundo, considerando valores mensais convertidos para dólares e o poder de compra local.
O objetivo é mostrar como a disparidade salarial global ainda é uma realidade gritante, afetando principalmente os trabalhadores menos qualificados e aumentando os índices de pobreza e informalidade.
Critérios de análise: salário mínimo bruto e poder de compra
Para compor a lista, levamos em consideração dados de instituições como Banco Mundial, Organização Internacional do Trabalho (OIT) e Trading Economics, além de conversões médias em dólar atualizadas em 2025. É importante observar que alguns países sequer possuem salário mínimo oficial, o que agrava ainda mais a situação da classe trabalhadora.
1. Uganda – US$ 6 por mês (sem salário mínimo nacional obrigatório)
Uganda é um dos países mais pobres da África e do mundo. O país não possui um salário mínimo nacional fixado por lei, o que permite que empregadores paguem valores extremamente baixos. Em média, trabalhadores rurais e domésticos recebem o equivalente a US$ 6 por mês — o que, mesmo considerando o baixo custo de vida local, é insuficiente para cobrir as necessidades básicas de uma família.
Além disso, há relatos de exploração, trabalho infantil e ausência de qualquer benefício trabalhista formal.
2. Nigéria – US$ 18 por mês
A Nigéria, apesar de ser uma das maiores economias da África em PIB, possui um dos salários mínimos mais baixos do mundo. O valor oficial atual é de 30 mil nairas por mês, o que equivale a cerca de US$ 18 na cotação de agosto de 2025.
Com a inflação persistente e o preço dos alimentos aumentando, esse valor já não cobre sequer a alimentação básica. Muitos trabalhadores vivem da informalidade e do subemprego, sem direitos garantidos.
3. Venezuela – US$ 3,50 por mês
A crise econômica prolongada transformou a Venezuela em um dos países com o pior salário mínimo do planeta. Atualmente, o valor oficial é de 130 bolívares por mês, o que equivale a cerca de US$ 3,50.
O valor é tão baixo que não cobre nem um quilo de carne ou uma dúzia de ovos. Para sobreviver, muitos venezuelanos dependem de remessas de parentes no exterior, trabalhos informais e até trocas de bens em mercados paralelos.
4. Sudão – US$ 10 por mês
Com guerras civis constantes e colapsos políticos, o Sudão enfrenta uma das piores situações econômicas da atualidade. O salário mínimo gira em torno de 6 mil libras sudanesas, o que equivale a apenas US$ 10 por mês.
Além do valor irrisório, muitos empregadores sequer pagam o salário em dia ou oferecem condições dignas de trabalho. A pobreza extrema afeta mais de 70% da população sudanesa, segundo o Banco Mundial.
5. Etiópia – sem salário mínimo nacional fixo
Na Etiópia, o governo não estabelece um salário mínimo nacional para o setor privado. Apenas funcionários públicos têm uma base salarial, geralmente abaixo de US$ 20 mensais.
O trabalho rural, predominante no país, é altamente informal e mal remunerado. Em áreas urbanas, trabalhadores da indústria têxtil e de serviços também recebem quantias que giram entre US$ 15 e US$ 25 por mês, segundo dados da OIT.
6. Bangladesh – US$ 45 por mês
Bangladesh é um polo de produção têxtil global, exportando para grandes marcas internacionais. No entanto, os trabalhadores da indústria recebem salários baixíssimos.
O valor mínimo fixado pelo governo é de 5.300 takas bengalesas, equivalente a cerca de US$ 45 mensais. Embora seja superior ao de países africanos mencionados, o custo de vida nas grandes cidades como Dhaka faz com que esse valor seja insuficiente para pagar aluguel e alimentação.

A situação é agravada pela jornada excessiva e falta de condições de segurança nas fábricas.
7. Índia – US$ 67 por mês (valor médio nacional)
A Índia possui diferentes salários mínimos dependendo da região e do setor econômico, mas a média nacional gira em torno de 5.000 rúpias indianas, cerca de US$ 67 por mês.
Esse valor não acompanha o crescimento do custo de vida nas áreas urbanas. Em cidades como Mumbai, o aluguel de um cômodo simples pode consumir o salário inteiro de um trabalhador.
Além disso, mais da metade da população economicamente ativa atua de forma informal, sem garantias legais.
8. Camboja – US$ 61 por mês
No Camboja, o salário mínimo oficial para trabalhadores da indústria têxtil é de US$ 61 por mês. Assim como Bangladesh, o país é um grande exportador de roupas, mas as condições oferecidas aos funcionários são precárias.
A inflação e o custo crescente de alimentos tornam esse valor cada vez menos viável. Muitos trabalhadores complementam a renda com jornadas exaustivas e empregos secundários, o que impacta diretamente a qualidade de vida.
Salários mínimos baixos refletem desigualdade e falta de proteção social
Esses exemplos demonstram que, em muitas partes do mundo, o salário mínimo ainda não cumpre sua função social: garantir uma renda mínima digna que cubra as necessidades básicas do trabalhador e sua família.
Fatores como inflação, instabilidade política, ausência de sindicatos fortes e informalidade generalizada contribuem para a manutenção de salários baixos e condições de trabalho degradantes.
Comparação com países da América Latina e do Ocidente
Para fins comparativos, veja os valores do salário mínimo em outros países, em dólares:
Brasil (2025): cerca de US$ 280
México: cerca de US$ 368
Chile: aproximadamente US$ 500
Estados Unidos: cerca de US$ 1.250 (em estados com salário mínimo federal de US$ 7,25/hora)
Austrália: mais de US$ 2.600
A diferença é brutal, especialmente quando se compara com os países africanos e asiáticos listados acima.
Trabalhadores em busca de alternativas e migração
A baixa remuneração tem levado milhões de pessoas à migração internacional em busca de melhores condições de vida. Muitos trabalhadores deixam seus países de origem para atuar em nações vizinhas ou em países do Golfo, Europa e América do Norte, mesmo enfrentando riscos e situações de vulnerabilidade.
Além disso, cresce o número de pessoas tentando empreender, ainda que com capital reduzido, como forma de sair da estagnação imposta por salários mínimos irrisórios.
Uma realidade que exige atenção global
A existência de salários mínimos extremamente baixos mostra como ainda há um longo caminho até se alcançar justiça social e equidade no trabalho em escala global. Pressionar governos por legislações mais rígidas, apoiar sindicatos locais e exigir responsabilidade de empresas internacionais que terceirizam mão de obra em países com baixa remuneração são passos fundamentais.
O debate sobre um salário mínimo global ou regional, adaptado ao custo de vida de cada local, também ganha força como solução para combater a exploração da mão de obra barata — muitas vezes sustentada por cadeias produtivas globais.