Localizada no coração do Mato Grosso do Sul, Bonito é uma das joias do ecoturismo brasileiro. Reconhecida internacionalmente por suas paisagens naturais de tirar o fôlego, águas cristalinas e biodiversidade única, a cidade encanta turistas de todo o mundo.
Mas além das belezas visuais, Bonito abriga um fenômeno natural que intriga e fascina cientistas e aventureiros: a presença constante de serpentes gigantes, especialmente a sucuri, uma das maiores cobras do planeta.
Com rios transparentes, vegetação preservada e um ecossistema aquático riquíssimo, Bonito oferece um ambiente ideal para a vida selvagem prosperar.
E nesse cenário paradisíaco, a sucuri, com seu porte imponente e comportamento discreto, tornou-se um dos símbolos naturais da região.
Encontros com gigantes: a presença das sucuris
Entre os diversos relatos de encontros com essas cobras, um dos mais marcantes envolve a famosa sucuri batizada de “Ana Júlia”.
Este exemplar, que alcançava impressionantes 6,45 metros de comprimento e pesava cerca de 200 kg, se tornou conhecida por pesquisadores e moradores locais.
Infelizmente, Ana Júlia foi encontrada morta no Rio Formoso em março de 2024, mas sua história ainda circula como exemplo da grandiosidade das serpentes que habitam Bonito.
Esses encontros, apesar de impactantes, são mais comuns do que se imagina. A visibilidade nas águas dos rios da região torna mais frequente a observação desses animais durante os passeios turísticos.
A cidade é um verdadeiro laboratório natural para biólogos, cinegrafistas e ambientalistas, e as sucuris ocupam posição de destaque nesse cenário.
Por que as sucuris são tão comuns em Bonito?
A razão para tamanha frequência de avistamentos está nas características ambientais específicas da cidade.
De acordo com o biólogo e especialista em serpentes Henrique Abrahão Charles, Bonito reúne uma combinação única de fatores que favorecem a presença das sucuris: há abundância de alimento, vastas áreas de água doce e um ecossistema bem conservado.
A topografia da região, marcada por nascentes, alagados e rios de água lenta, oferece o habitat perfeito para a sobrevivência e reprodução dessas serpentes.
Além disso, as sucuris são predadoras de topo da cadeia alimentar, desempenhando um papel essencial no controle de populações de roedores, peixes e outros animais menores. Sua presença ajuda a manter o equilíbrio natural do ecossistema local.
Segundo Charles, “as sucuris são avistadas com frequência em Bonito porque a cidade está inserida em uma área de proteção e conservação ambiental muito bem estruturada. Há uma abundância de presas e ausência de grandes predadores, o que torna a região um verdadeiro paraíso para esses répteis”.
A transparência das águas como aliada na observação
Outro fator determinante para a constante visualização das sucuris em Bonito é a impressionante limpidez das águas da região.
Isso se deve à grande quantidade de calcário presente no solo. Esse mineral atua como um filtro natural, decantando as partículas em suspensão e tornando a água incrivelmente clara.
Esse fenômeno facilita os registros visuais desses animais, mesmo os que normalmente ficariam escondidos sob a vegetação aquática ou no fundo dos rios.
Turistas frequentemente se deparam com sucuris nadando ou repousando sob a água, o que proporciona experiências únicas – e que, para muitos, parecem saídas de um documentário da vida selvagem.
“Bonito é provavelmente o único lugar do mundo onde é possível ter encontros tão frequentes com sucuris em habitat natural e de forma segura. Isso se deve à combinação entre a conservação do ambiente e a alta transparência da água”, destaca o documentarista Cristian Dimitrius.
Mitos e verdades sobre as sucuris
Apesar do fascínio que causam, as sucuris também são vítimas de mitos e informações erradas, muitas vezes reforçadas por produções cinematográficas.
Filmes como Anaconda, por exemplo, ajudaram a construir uma imagem violenta e assustadora das serpentes, o que não corresponde à realidade.
Segundo a bióloga Juliana Terra, as sucuris são, na verdade, animais bastante tranquilos e evitam o contato com humanos. “Existe muito sensacionalismo em torno da espécie.
A maioria das pessoas ainda vê a sucuri como um perigo, mas isso só mostra que temos muito trabalho de educação ambiental pela frente”, afirma a pesquisadora.
Na verdade, não há registros comprovados de sucuris atacando humanos em Bonito ou em outras partes do Brasil. Quando se sentem ameaçadas, essas cobras preferem recuar e buscar abrigo na água, onde são exímias nadadoras. Sua estratégia defensiva prioriza o afastamento e a discrição, e não o confronto.
Quando ver sucuris em Bonito?
Embora os avistamentos possam ocorrer durante todo o ano, há períodos mais propícios para observar esses animais. A estação seca, que se estende de maio a setembro, é a mais indicada para quem deseja ver sucuris nas águas claras dos rios da região.
Durante esse período, os níveis dos rios caem, a visibilidade aumenta e os animais são mais facilmente encontrados nas margens ou em locais de pouca profundidade, onde tomam sol ou caçam.
Essa estação é, inclusive, a preferida de pesquisadores e documentaristas, que aproveitam a baixa movimentação dos rios para realizar registros e estudos comportamentais das cobras.