Milhões de brasileiros ainda têm valores a receber esquecidos em contas bancárias, consórcios, cooperativas de crédito e outras instituições financeiras.
De acordo com dados atualizados pelo Banco Central (BC), mais de R$ 9 bilhões permanecem disponíveis para saque no Sistema Valores a Receber (SVR), iniciativa criada para facilitar o acesso da população a recursos não reclamados ao longo dos anos.
Esse montante, referente ao mês de março de 2025, inclui recursos pertencentes tanto a pessoas físicas quanto jurídicas. Ao todo, mais de 46 milhões de cidadãos e empresas possuem algum valor registrado na plataforma. Ainda assim, grande parte ainda não buscou o que tem direito.
Empresas também têm recursos esquecidos
Dos mais de R$ 9 bilhões disponíveis, aproximadamente R$ 2,2 bilhões pertencem a empresas, segundo os dados mais recentes do Banco Central.
Esse valor está distribuído entre 4,3 milhões de empresas que deixaram de resgatar quantias por diferentes motivos — como contas encerradas com saldo residual ou tarifas cobradas indevidamente.
Apesar de serem valores geralmente pequenos, especialistas destacam que esses recursos podem representar um alívio significativo para micro e pequenos empresários, especialmente em tempos de recuperação econômica e juros elevados.
Pessoas físicas concentram a maior parte dos valores
A maior fatia dos recursos esquecidos, cerca de R$ 7 bilhões, está relacionada a pessoas físicas. Esse montante envolve mais de 42 milhões de cidadãos, muitos dos quais desconhecem a existência de valores vinculados aos seus nomes.
Os dados revelam que o brasileiro, em geral, não está atento a esse tipo de restituição. Grande parte dos recursos provém de contas bancárias antigas, tarifas devolvidas, cotas de consórcios encerrados, recursos de instituições em liquidação e outras fontes pouco lembradas pelo consumidor comum.
Valores baixos são maioria absoluta
Embora o volume total ultrapasse os R$ 9 bilhões, a distribuição dos valores é bastante concentrada em quantias pequenas. De acordo com o Banco Central, quase 90% dos valores disponíveis não chegam a R$ 100,00.
Apenas cerca de 10% estão na faixa entre R$ 100,00 e R$ 1.000,00. Quantias superiores a R$ 1 mil representam menos de 2% do total, o que reforça a importância de acessar o sistema mesmo para valores considerados modestos.
Ainda assim, especialistas orientam que os cidadãos consultem o sistema mesmo se desconfiarem que a quantia possa ser pequena. Afinal, em tempos de aperto financeiro, qualquer valor pode fazer diferença no orçamento familiar.
Sistema de consulta é gratuito e simples
Para verificar a existência de valores esquecidos, o cidadão deve acessar o site oficial do sistema: valoresareceber.bcb.gov.br. A consulta é gratuita, segura e pode ser feita com o CPF ou CNPJ e a data de nascimento ou de fundação da empresa.
Caso exista algum valor disponível, o sistema indicará a instituição de origem e informará o procedimento para resgate. A transferência do valor, quando solicitada, é realizada de forma direta, para a conta bancária informada pelo usuário, sem a necessidade de intermediários.
Importante destacar que não é necessário ter conta na instituição em que o valor foi originalmente registrado. O sistema permite que o beneficiário solicite a transferência para qualquer banco de sua preferência.
Consulta de valores de falecidos também é permitida
O SVR também permite a verificação de valores esquecidos em nome de pessoas falecidas. Nesse caso, é preciso informar os dados do falecido e, posteriormente, apresentar documentação comprobatória para dar seguimento ao processo de saque.
Os valores podem ser acessados por herdeiros legais, desde que respeitadas as exigências previstas na legislação vigente.
Esse recurso tem sido especialmente útil em processos de inventário e partilhas de bens, permitindo que valores antes esquecidos sejam incorporados ao patrimônio da família.
Cuidado com tentativas de fraude
Com o crescimento da procura pelo sistema, o Banco Central faz um alerta importante: é preciso estar atento a possíveis golpes.
O BC reforça que não envia mensagens de texto, e-mails, nem realiza ligações com links ou orientações para saque de valores. Também não solicita nenhum tipo de pagamento ou depósito antecipado para liberar os recursos.
Caso o cidadão receba qualquer mensagem nesse sentido, a recomendação é ignorar o conteúdo, não clicar em links suspeitos e jamais fornecer dados pessoais, bancários ou senhas.
O único canal oficial para consulta e solicitação de valores é o endereço mencionado anteriormente. Qualquer outro site ou contato deve ser tratado com desconfiança.
Especialistas recomendam cautela e verificação regular
Economistas e especialistas em finanças pessoais recomendam que os brasileiros façam consultas periódicas no sistema, especialmente aqueles que já tiveram contas encerradas, participaram de consórcios ou mantiveram relacionamento com instituições financeiras que já não operam.
“Esses valores podem ter origem em tarifas cobradas indevidamente, encerramentos de contas sem a retirada do saldo ou recursos que não foram sacados após a finalização de consórcios.
Como são valores que geralmente passam despercebidos, muita gente nem imagina que tem direito a algum ressarcimento”, afirma a consultora financeira Ana Paula Rodrigues.
Ela também destaca que, além da possibilidade de resgatar valores, o SVR é uma ferramenta importante para promover a educação financeira, pois estimula o cidadão a acompanhar melhor sua relação com o sistema financeiro.