Com o aumento da expectativa de vida no Brasil, um novo desafio tem surgido no trânsito: a permanência de motoristas mais velhos ao volante.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), até 2060, mais de 25% da população brasileira terá 60 anos ou mais.
Esse cenário levanta preocupações sobre a renovação da Carteira Nacional de Habilitação (CNH), principalmente para condutores com mais de 50 anos.
Embora o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) não estabeleça uma idade máxima para dirigir, há exigências mais rigorosas para a renovação da CNH conforme o avanço da idade.
Em 2021, o governo federal alterou as regras por meio da Lei nº 14.071/2020, reduzindo o prazo de validade da habilitação para motoristas mais velhos, com foco na segurança no trânsito.
Renovação da CNH: o que muda para motoristas com mais de 50 anos?
A principal mudança está relacionada ao intervalo de renovação da CNH, que passa a ser mais curto conforme a faixa etária do condutor. Veja como ficou o novo cronograma:
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Motoristas com até 49 anos: renovação a cada 10 anos;
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Motoristas de 50 a 69 anos: renovação a cada 5 anos;
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Motoristas com 70 anos ou mais: renovação a cada 3 anos.
Essa redução no prazo tem como objetivo garantir avaliações médicas mais frequentes, assegurando que os condutores mantenham plenas condições físicas e mentais para dirigir com segurança.
Exames obrigatórios na renovação da CNH para idosos
Durante o processo de renovação da CNH, motoristas com mais de 50 anos passam por exames clínicos obrigatórios realizados por profissionais credenciados ao Detran. As principais áreas avaliadas são:
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Visão: acuidade visual, sensibilidade ao contraste, visão periférica e percepção de profundidade;
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Audição: capacidade de ouvir sons essenciais para a direção, como buzinas, sirenes e motor do veículo;
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Coordenação motora: movimentos dos membros superiores e inferiores;
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Reflexos e cognição: tempo de resposta, concentração e memória;
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Condições gerais de saúde: como controle de doenças crônicas, equilíbrio e mobilidade.
Em alguns casos, se o médico identificar doenças degenerativas ou limitações severas, o prazo da habilitação poderá ser ainda mais curto, variando entre 1 e 2 anos, dependendo da gravidade e da recomendação médica.
Quando um idoso deve parar de dirigir?
O avanço da idade pode comprometer habilidades essenciais para a direção segura. Especialistas alertam para alguns sinais de alerta, como:
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Esquecimento de rotas conhecidas;
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Dificuldade em seguir a sinalização;
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Lenta tomada de decisões no trânsito;
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Problemas para manter o carro dentro da faixa;
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Batidas e pequenos acidentes frequentes;
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Dificuldade em identificar pedestres e ciclistas.
Além disso, doenças comuns na terceira idade, como Parkinson, Alzheimer, catarata, glaucoma, diabetes descontrolado e surdez severa, podem comprometer seriamente a segurança no trânsito.
Quando esses sinais se tornam frequentes, é essencial que o idoso, junto com a família, avalie a continuidade ao volante com responsabilidade.
O papel da família na decisão de parar de dirigir
A decisão de deixar de dirigir é difícil para muitos idosos. A CNH representa independência, autonomia e liberdade.
No entanto, insistir em manter esse hábito quando as condições físicas e mentais já não são adequadas pode representar risco à vida.
Por isso, o apoio familiar é fundamental. A conversa precisa ser feita com empatia, evitando julgamentos e buscando apresentar alternativas viáveis de mobilidade, como:
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Transporte por aplicativo;
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Uso de transporte público com isenções para idosos;
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Caronas com familiares ou vizinhos;
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Serviços comunitários e transporte solidário.
O mais importante é que o idoso não se sinta abandonado ou incapaz, mas sim acolhido e amparado para viver com segurança.
CNH especial para idosos com doenças progressivas
Em alguns casos, motoristas idosos diagnosticados com doenças crônicas ou degenerativas podem receber uma CNH com restrições. Nessa habilitação especial, constam observações específicas, como:
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Proibição de dirigir à noite;
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Limitação a veículos automáticos;
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Obrigatoriedade do uso de lentes corretivas ou aparelhos auditivos;
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Renovação em prazo inferior a 3 anos.
Essas medidas são tomadas com base em laudos médicos apresentados no ato da renovação, e visam reduzir riscos e preservar a autonomia do motorista, enquanto ainda for possível.
O que acontece se o idoso não renovar a CNH no prazo?
Se a CNH estiver vencida há mais de 30 dias, o condutor não poderá dirigir legalmente e, se for flagrado ao volante, estará cometendo infração gravíssima, com as seguintes penalidades:
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Multa de R$ 293,47;
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Sete pontos na carteira;
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Retenção do veículo até apresentação de condutor habilitado;
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Possibilidade de apreensão da CNH vencida.
Portanto, é essencial que os motoristas idosos estejam atentos ao prazo de validade da carteira e busquem renová-la com antecedência.
Como agendar a renovação da CNH?
A renovação pode ser agendada pelos canais digitais do Detran de cada estado. Em geral, o processo inclui:
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Acesso ao site ou app do Detran;
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Agendamento do exame médico com profissional credenciado;
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Pagamento da taxa de renovação;
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Comparecimento ao exame;
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Emissão da nova CNH, geralmente em até 10 dias úteis.
Importante: em caso de necessidade de exames complementares, como avaliação psicológica ou neurológica, o processo pode levar mais tempo.
Idosos podem renovar a CNH com isenção de taxas?
Não há uma legislação federal que isente idosos do pagamento de taxas para renovação da CNH. Entretanto, alguns estados oferecem benefícios e descontos, especialmente para pessoas com deficiência ou doenças crônicas.
É importante consultar o Detran local para verificar se há alguma política estadual ou municipal de isenção ou gratuidade nos exames médicos ou na emissão da nova CNH.
A segurança no trânsito é responsabilidade de todos
Com a população brasileira envelhecendo rapidamente, é fundamental que o debate sobre a renovação da CNH entre os mais velhos seja tratado com seriedade e responsabilidade.
De um lado, é preciso respeitar a autonomia do idoso. De outro, a preservação da vida no trânsito deve prevalecer, sendo essencial que motoristas com mais de 50 anos compreendam a importância da avaliação médica periódica.