Novo alerta do Bolsa Família fica disponível para esta terça-feira (08/04)
O Governo Federal estuda uma nova medida polêmica: proibir beneficiários do Bolsa Família e do BPC (Benefício de Prestação Continuada) de usarem seus recursos em apostas online.
A proposta, anunciada pelo secretário de Prêmios e Apostas do Ministério da Fazenda, Régis Dudena, vem como resposta a uma determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), que exige ações concretas do Executivo para proteger os recursos dos programas sociais.
Segundo Dudena, a proposta ainda passará por análise jurídica antes de ser formalizada por portaria. A medida pode impactar cerca de 20 milhões de famílias brasileiras, que recebem mensalmente o Bolsa Família, além de milhões de idosos e pessoas com deficiência atendidas pelo BPC.
Por que o governo quer proibir o uso do Bolsa Família em apostas?
A principal justificativa para a medida está nos dados alarmantes revelados pelo Banco Central em 2023.
Segundo o levantamento, cerca de 5 milhões de beneficiários do Bolsa Família transferiram aproximadamente R$ 3 bilhões via Pix para sites de apostas online em apenas um mês.
Esse volume chamou a atenção do STF, que cobrou do governo federal um controle mais rigoroso sobre a destinação dos recursos públicos.
A preocupação central é garantir que o dinheiro dos programas sociais seja utilizado para alimentação, saúde, moradia e educação, e não em atividades de alto risco financeiro, como os jogos de azar.
Apostas online e programas sociais: uma combinação perigosa?
Embora as apostas esportivas online tenham sido legalizadas no Brasil em 2018, durante o governo Michel Temer, a regulamentação do setor ficou a cargo da gestão atual.
Em 2024, o governo Lula iniciou o processo de controle das plataformas, com exigência de licença, fiscalização e pagamento de impostos.
Agora, a nova frente de atuação busca impedir que dinheiro público destinado à assistência social seja desviado para esse tipo de entretenimento.
Especialistas em políticas públicas consideram a medida legítima, mas alertam para os desafios operacionais e jurídicos.
Quais são os desafios jurídicos da proposta?
A ideia do governo é bloquear o uso dos recursos do Bolsa Família e do BPC em sites de apostas, mas sem ferir os direitos dos beneficiários. No entanto, isso levanta debates complexos sobre segurança jurídica, privacidade de dados e limites da intervenção estatal.
Especialistas avaliam que a maneira mais segura de implementar a restrição seria por meio de projeto de lei aprovado pelo Congresso Nacional, garantindo amplo debate democrático.
O uso de portaria, como pretende inicialmente o Ministério da Fazenda, pode gerar insegurança jurídica, abrindo margem para questionamentos na Justiça.
Outro ponto delicado envolve a necessidade de compartilhamento de dados pessoais entre o governo e as operadoras de apostas, algo que esbarra na Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).
Como o governo pretende controlar o uso do benefício?
De acordo com fontes do Ministério da Fazenda, a proposta em discussão prevê a criação de um mecanismo que identifique os beneficiários nos cadastros das casas de apostas.
Uma vez identificados, essas pessoas seriam impedidas de utilizar os recursos do Bolsa Família e do BPC para realizar apostas.
Para isso, seria necessário o cruzamento de informações entre a base do Cadastro Único e os registros das plataformas licenciadas, o que ainda demanda soluções técnicas e acordos com o setor privado.
Além disso, existe o risco de fraudes, como o uso de “laranjas” para burlar as restrições, algo que já preocupa os técnicos envolvidos na elaboração da medida.
Qual o impacto social da proibição?
A possível proibição do uso do Bolsa Família em apostas online também levanta debates éticos e sociais. A medida, apesar de ter boas intenções, pode acabar penalizando os mais pobres, justamente aqueles que ela pretende proteger.
“Não podemos partir do princípio de que todos os beneficiários são irresponsáveis com o uso do dinheiro. É preciso respeitar a autonomia das pessoas e encontrar mecanismos mais equilibrados”, diz a assistente social e pesquisadora Ana Lúcia Fernandes.
Especialistas em comportamento e dependência alertam ainda que o vício em jogos não será resolvido com proibições, mas sim com educação financeira, campanhas de conscientização e acesso a tratamento psicológico.
O que dizem os defensores da medida?
Para os defensores da proposta, o Estado tem o dever de proteger os recursos públicos e garantir que eles cumpram sua função social.
“Estamos falando de dinheiro público destinado a famílias em situação de vulnerabilidade. Não faz sentido permitir que esses recursos sejam utilizados em apostas online”, argumenta o secretário Régis Dudena.
Ele afirma ainda que o objetivo da medida não é criminalizar os beneficiários, mas sim “evitar o desvio de finalidade dos programas sociais”.
E as casas de apostas? Como o mercado reage?
As operadoras de apostas estão acompanhando o debate com cautela. Como o setor ainda está em fase de regulação, existe receio de confrontar o governo e sofrer sanções que possam afetar as atividades.
Por enquanto, nenhuma casa de apostas se manifestou oficialmente contra a proposta, mas bastidores indicam que as empresas avaliam recorrer à Justiça caso a restrição seja implementada sem base legal sólida.
A tendência é que possíveis contestações partam de entidades da sociedade civil, defensorias públicas ou associações de defesa do consumidor.
Caminhos possíveis: proibição total ou controle proporcional?
Diante dos desafios e controvérsias, especialistas propõem alternativas menos radicais, como o bloqueio de valores acima de determinado limite ou o uso de ferramentas que alertem os beneficiários sobre os riscos financeiros antes de permitir a transação.
“Uma proibição total pode gerar reações negativas e ser ineficaz. O ideal seria criar um sistema de alertas e limites que respeite os direitos individuais, mas desestimule o uso abusivo dos recursos”, sugere o economista Marcelo Vasconcellos.
O que esperar para os próximos meses?
Ainda não há prazo definido para a implementação da medida. O governo aguarda análises técnicas e pareceres jurídicos, enquanto monitora a reação da sociedade e do Congresso Nacional.
Nos próximos meses, é possível que o tema entre em pauta em audiências públicas e ganhe espaço em debates legislativos, especialmente se for necessária uma nova lei para regulamentar o bloqueio.
Enquanto isso, cresce a expectativa entre os beneficiários do Bolsa Família e do BPC, que podem ser diretamente impactados pela mudança.